Teliana Pereira é campeã no tênis e na vida
tudo jogava contra a pernambucana que superou adversidades para se tornar a tenista número 1 do país e ser admirada até por
Guga: “Com ela, a história tênis brasileiro ganha uma nova página“
E
xistem poucos momentos na vida que você percebe na hora que são históricos, únicos. O esporte é capaz de lhe proporcionar isso de uma maneira quase que única. Quem esteve na quadra Gustavo Kuerten, no Costão do Santinho, em Florianópolis, no dia 1 de agosto de 2015, com certeza foi invadido por esse sentimento difícil de explicar, da alegria misturada com a euforia. Foi neste dia, há quase um ano, que Teliana Pereira foi campeã do Brasil Tennis Cup, o primeiro título de WTA de uma brasileira jogando em casa desde 1987, quando Niege Dias faturou o torneio do Guarujá, em São Paulo.
Por que esse momento foi único, histórico? Por causa da campeã. Teliana é pernambucana de Barra da Tapera, um povoado que fica na cidade de Águas Belas, há 315 quilômetros da capital Recife. Segundo o Censo de 2010, a terra natal da tenista tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do Brasil – 0,526 –, e ela precisou nascer em Santana de Ipanema, em Alagoas, porque Águas Belas não tinha maternidade.
Quando ela tinha cinco anos, a família – pai, mãe e seis irmãos – se mudou para Curitiba em busca de uma vida melhor.
– Era bem difícil morar lá (Águas Belas), mas tenho boas lembranças. Brincava bastante com meus primos. Nunca trabalhei na roça, tinha cinco anos e ficava cuidando da minha irmã Val, na época com alguns meses de vida. Tenho poucas lembranças da viagem para Curitiba, mas lembro que foram três dias até chegar. Na parada em São Paulo foi uma correria que esquecemos quase todas as malas – recorda Teliana.
Em Curitiba, os pais trabalhavam em uma academia de tênis. Foi lá que ela conheceu seu primeiro técnico e grande incentivador, o francês Didier Rayon. Teliana ajudava o pai e, aos nove anos, descobriu algo que mudaria sua vida.
– Assistia às pessoas jogando e achava lindo. Um dia o Didier me chamou pra jogar e nunca mais parei. Comecei a ganhar destaque no Paraná, e o Didier corria atrás de patrocínios. Desde cedo, tive pessoas ao meu lado que acreditaram em mim e me apoiaram. Com isso tive a oportunidade de jogar pelo mundo afora desde os 13 anos – explica.
Aos 19 anos, Teliana teve uma lesão no menisco do joelho direito e passou dois anos longe das quadras. Durante o processo de recuperação, perdeu os patrocinadores. Para voltar a jogar precisou da ajuda dos amigos e chegou a fazer rifas para financiar seu sonho.
– Foi o pior momento da minha carreira. Estava no meu auge, tentando jogar os maiores torneios e tive que ficar dois anos parada. Hoje, invisto bastante no trabalho preventivo, de reequilíbrio muscular para evitar novas lesões – diz
a tenista.
Exemplo que vem de casa
a mesma arquibancada que seu ídolo Guga torcia por ela, Teliana tinha o apoio de familiares e amigos. A mais emocionada era a dona Maria, a mãe da tenista número 1 do Brasil. Mulher de fibra, ela mal conseguia falar após ver de perto Teliana conquistando seu segundo título de WTA.
– Paciência, ela tem que ter paciência. Tudo na vida é obtido com luta e quem se dedica colhe os resultados. Às vezes, na quadra, ela fica irritada, sempre digo que ela tem que ficar serena – disse dona Maria, ainda enxugando as lágrimas de felicidade, sobre a filha naquele 1 de agosto.
Teliana gosta de ser chamada de guerreira, ela admite que não tem o jogo mais bonito ou a técnica mais perfeita, mas o que não falta para ela é persistência. Algo que é reconhecido por seu ídolo, Gustavo Kuerten.
– Dizem que o tênis é um esporte de elite. Sim, ele é caro e quando você chega no período de competição vendemos tudo para conseguir jogar e nos manter, mas tem algo essencial para o tênis, que primeiro você tem que querer muito. Ela teve uma oportunidade e agarrou. Com ela, a história do tênis brasileiro ganha uma nova página. Ela deveria ter 0,000001 de chance de ser jogadora, parece que
cada vez mais que ela sonhava mais ela ficava perto de realizar esse sonho – analisa Guga.
N
Santa Catarina no coração e sonho de jogar a Olimpíada
a
ssim como foi no ano passado, Teliana chega a Santa Catarina sem expectativas, uma tática que ela usa para mostrar seu melhor tênis em quadra.
– Não estou criando expectativas. Quero encarar igual ano passado, de maneira tranquila, fazendo o meu melhor e deixando o resultado ser consequência – projeta.
Florianópolis se tornou para ela uma cidade especial. Na mesma cidade que nasceu seu ídolo ela entrou para a história do tênis nacional.
– Sem dúvida, Floripa tem um espaço especial na minha história. Nunca vou esquecer da final na quadra lotada, das bandeiras do Brasil, todos me dando muita força, inesquecível – completou.
Teliana estará na Olimpíada do Rio, ela jogará na chave de simples, na dupla ao lado de Paula Gonçalves e também na dupla mista, com Marcelo Melo ou Bruno Soares.
– Disputar os Jogos Olímpicos é o sonho de qualquer atleta e por ser no Brasil se torna ainda mais especial. Tive o gostinho de conquistar a medalha de bronze no Pan do Rio, em 2007, mas é claro que a Olimpíada é algo muito maior, por isso quero aproveitar cada momento – finalizou.
Neste especial
Reportagem
Arte e animação
Design
Edição de Vídeo
Cristiano Andujar, CBT
Fotografia