a entrada no rol
dos maiores
Ao vencer Andre Agassi na final do Masters Cup de Portugal, Gustavo Kuerten chegou ao número 1 do mundo e entrou no rol dos maiores tenistas da história. No Brasil, esse feito histórico o tornou um dos maiores ídolos nacionais, o igualando a Pelé e Ayrton Senna. Neste 3 de dezembro, Guga comemora 15 anos dessa enorme conquista.
O caminho ao
topo em lisboa
Para chegar ao número 1 do ranking da ATP, Gustavo Kuerten precisava conquistar o Masters Cup, em Lisboa. Foram cinco jogos até a coroação no dia 3 de dezembro, derrotando na final a lenda Andre Agassi.
1o jogo: Derrota e dores
Os primeiros games de Gustavo Kuerten na estreia do Masters Cup, em Lisboa, foram empolgantes. O catarinense quebrou o saque do temido Andre Agassi logo no 2/2, e depois foi só confirmar o serviço para vencer o primeiro set. Guga tinha o comando do jogo. No segundo set perdeu o controle da partida. Para piorar, os portugueses torciam pelo norte-americano. Agassi acabou virando a partida e venceu por 2 sets a 1, com parciais de 6/4, 4/6 e 3/6. Ao final do confronto, o tenista de Santa Catarina deixou a quadra com muitas dores nas costas.
2o jogo: Dúvidas afastadas
Precisando vencer, Guga tinha pela frente na segunda partida o sueco Magnus Norman. Era um jogo-chave para chegar à semifinal, inédita na carreira. Para aqueles que tinham dúvidas das condições físicas do catarinense, os fortes saques provaram que Guga estava inteiro. Na quadra dura de Lisboa, Guga levou a melhor. Ele vinha na cola do rival Marat Safin, russo que ocupava o topo do ranking, e não podia deixar aquela chance passar. O catarinense bateu o sueco por 2 sets a 0 (parciais de 7/5 e 6/3). Fora a terceira vez em quatro jogos no ano que Guga batia Norman.
3o jogo: Vitória sobre o amuleto
No terceiro jogo da fase de grupos, Gustavo Kuerten encarou o russo Yevgeny Kafelnikov. Com uma estratégia ousada, o catarinense surpreendeu o rival, quase não deu chances e venceu o confronto por 2 sets a 0, com parciais de 6/3 e 6/4. Kafelnikov era uma espécie de amuleto para o tenista catarinense. Em suas quatro maiores conquistas – três títulos em Roland Garros, na França, e a taça do Masters Cup, em Portugal –, Guga enfrentou e derrotou o russo. A partida de Lisboa foi rápida e durou pouco mais de uma hora.
4o jogo: Fantasma espantado
Pete Sampras era para Guga a personificação de pedra no sapato, um verdadeiro fantasma para o tenista catarinense, que nunca tinha vencido o norte-americano. Mas na semifinal do Masters Cup, a história foi diferente. Como Marat Safin havia perdido a outra semifinal para Andre Agassi, Guga dependia apenas das próprias pernas para chegar ao topo. Sampras fechou o primeiro set no tie-break, mas o manezinho teve forças para virar o jogo com um desempenho fantástico e levar a partida por 2 sets a 1, com parciais de 6/7 (5/7), 6/3 e 6/4.
5o jogo: Chegada ao topo após vencer uma lenda
O adversário na final era uma lenda: Andre Agassi. Nunca os dois
norte-americanos haviam sido superados pelo mesmo jogador em um mesmo torneio. Mas para tudo tem uma primeira vez. Em duas partidas importantes no ano, Guga havia enfrentado Agassi e o saldo era neutro. O catarinense venceu na semifinal do Masters Series de Miami e perdeu na abertura do Masters de Lisboa. Naquele dia, Guga mostrou que merecia um lugar entre os grandes do tênis. Com uma apresentação impecável, bateu Agassi por 3 sets a 0, em um triplo 6/4.
O tênis brasileiro 15 anos depois do feito de Guga
Otênis continua crescendo no país nos dias de hoje. Em um ano, o número de pessoas que acompanham o tênis no Brasil dobrou, segundo pesquisa do Ibope Repucom. Em outubro de 2014, o interesse no esporte era de 14%. Um ano depois, passou para 29%. Pode parecer pouco diante dos praticantes de outras modalidades como futebol e vôlei, mas é preciso levar em conta as dificuldades de praticar o tênis, começando pela falta de quadras públicas. Além disso, o esporte pede um certo investimento que muitos não conseguem pagar. Mesmo assim, há muito ainda para avançar no país. O certo é que a onda criada pelo sucesso de Gustavo Kuerten no final da década de 1990 e início dos anos 2000 não foi aproveitada da melhor forma.
– Tivemos um período conturbado em termos político e estrutural até final de 2004. Em 2005, a CBT iniciou os trabalhos sob uma nova gestão que se deparou com um rombo financeiro superior a R$ 5 milhões, além de um total descrédito com as entidades internacionais. Isso impactou diretamente no momento no qual mais poderia se aproveitar para alavancar ainda mais o tênis no Brasil – defende Jorge Lacerda, presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) desde 2005.
André Sá é um dos tenistas mais experientes do Brasil. Ele jogou ao lado de Guga na Copa Davis e atualmente, aos 38 anos, ele representa aos atletas profissionais na ATP, associação de tenistas. Mineiro, ele mora em Blumenau desde 2003, quando casou com a catarinense Fernanda Schramm, e conhece como ninguém a modalidade no país.
– Eu tenho uma avaliação positiva do tênis no Brasil nesses últimos 15 anos. Mas o que aconteceu foi tudo muito rápido, uma surpresa. O país não tinha estrutura para atender à popularidade que o Guga trouxe ao esporte. Não tinha como atender à demanda, principalmente na parte dos professores – analisa Sá.
Que o Brasil não aproveitou a empolgação criada pelos títulos de Gustavo Kuerten está evidente. Mas o que fazemos para mudar isso? O maior tenista da história do Brasil espalha pelo país um método de aprendizagem com seu nome: a Escolinha Guga Kuerten, que tem 30 unidades em todo o território brasileiro, que atende crianças de cinco a 10 anos.
– Em alguns anos poderemos ter 70 escolinhas. E a longo prazo, daqui 20 anos, podemos estar falando de quantos tenistas vamos ter no top 10. Tudo é a longo prazo. Eu comecei a jogar com cinco anos e fui virar número 1 do mundo com 25 – explica Guga.
CATARINENSE INSPIROU OS
MELHORES DO BRASIL
No início de novembro, o Brasil voltou a ter um tenista melhor do mundo, quando Marcelo Melo assumiu a liderança do ranking de duplas da ATP. Mineiro, Melo abandonou a carreira de simples para se dedicar às duplas e colhe os frutos graças a seu esforço e persistência. Apesar de a repercussão não ser igual à da conquista de Guga há 15 anos, o país tem que aproveitar esse momento.
– Hoje a confederação está muito mais estruturada do que na época do Guga. Com certeza nós vamos aproveitar isso ao máximo para aumentar a prática do tênis. Isso seria muito bom para o esporte brasileiro – espera Marcelo Melo.
A melhor estrutura oferecida pelo CBT nos últimos anos tem a ver com o patrocínio dos Correios, que têm injetado dinheiro na confederação, o que possibilita o oferecimento de passagens, hospedagens, alimentação e até técnico exclusivo para alguns.
– Hoje temos mais investimentos no tênis se comparar com a época que o Guga ainda jogava. O patrocínio dos Correios aos jogadores, tanto profissionais como os juvenis, através da CBT, é um diferencial muito importante para o desenvolvimento do tênis brasileiro, além de dar uma perspectiva melhor do que na época do Guga – defende o tenista número 1 do Brasil, Thomaz Bellucci.
Em 2015 a CBT também firmou uma parceria com a Federação Francesa de Tênis (FFT) em busca de melhorias não só com atletas.
– Estudamos o modelo de gestão da área de Roland Garros, onde está sediada a FFT, e estamos utilizando como base para apresentarmos o plano de absorção do legado olímpico para depois do Rio 2016, no intuito de que a CBT tenha a sua sede e o tão sonhado centro nacional de tênis, no parque olímpico da Barra da Tijuca. Outra parceria foi firmada com a Federação Suíça de Tênis, com a disponibilização de locais para treinamento para os tenistas brasileiros na Suíça – enumera Lacerda.
ANDRÉ PODIACKI
EDIÇÃO E TEXTO
FELIPE CARNEIRO
FOTOGRAFIA
LÉO CARDOSO
LUCAS AMARILDO
VÍDEO
KARINA SILVEIRA
DESIGN
ESCALANDO
O RANKING
Do primeiro ponto, passando pela profissionalização até chegar ao topo. O caminho de Guga no ranking da ATP.
Clique nas bolinhas e veja na linha do tempo
847o
188o
93o
Ainda criança, Guga enviou um cartão para a família falando dos objetivos do futuro.
15o
O título de Roland Garros em 1997 alçou Guga ao estrelato.
10o
23o
Uma das raquetes que ele usou na temporada de 2000 é guarda até hoje.
5o
5o
Na final do Masters Cup, Guga teve que trocar de tênis.
4o
7o
Ao conquistar o Masters Cup, Guga recebeu essa taça.
3o
2o
Logo em seguida ao título do Masters o tenista recebeu o troféu de número 1.
1o