Reabertura do Mercado
Público de Florianópolis
Reportagem Ângela Bastos, Hyury Potter e Thiago Santaella | Fotos Diorgenes Pandini e Felipe Carneiro
Edição Cristian Weiss e Natália Leal | Design Fábio Nienow
A partir deste 5 de agosto, moradores, comerciantes e turistas finalmente poderão cessar a ansiedade de voltar à ala sul do Mercado Público de Florianópolis. O espaço que serviu de ponto de encontro por mais de um século, após um ano e dois meses em reforma, reabre com novidades.
É tempo de Mercado
s 11 horas, o relógio da entrada norte do vão central do Mercado Público de Florianópolis anuncia que o local está oficialmente reaberto. Depois de 15 meses, a entrega da ala sul reacende a relação de simbiose entre o remoçado prédio e os seus antigos frequentadores. Retomada de um espaço que se caracteriza pela informalidade, onde se firmam encontros temperados por saberes, sejam populares e da cultura local e também formais e aprendidos.
Ainda que recomece com ocupação parcial e substituições em alguns dos pontos mais tradicionais, a reabertura do mercado traz uma sensação de aconchego. Depois do período em obras, em que tapumes esconderam a construção, a redescoberta das paredes amarelo-ouro e portas verde-oliva provoca sentimento de carinho pelo ponto mais democrático da cidade.
Neste 5 de agosto de 2015, a Ilha acorda faceira. Não decretaram feriado municipal, mas no entorno há gostinho de preguiça. Não pelos trabalhadores que viraram noites para finalizar os serviços. Mas pelos que gostariam de mais tempo para celebrar a reabertura.
A escolha da data atendeu a um pedido dos comerciantes, que queriam aproveitar a proximidade do Dia dos Pais. Mede-se a importância do Mercado pelo relato dos lojistas do entorno: no período em que esteve fechado, as vendas caíram.
A partir de hoje, a cortina de ferro se reabre para todos. Do lado de fora só devem ficar os pombos visitantes. Os turistas são bem-vindos e ajudam a fomentar a massa de 26 mil pessoas que todos os dias passam pelo local.
Trabalho segue mesmo
com reinauguração
A reabertura não dará fim à movimentação intensa dos últimos dias. Há muito ainda a fazer. Dos 35 boxes, 14 permanecem finalizando as acomodações. Boa notícia para os que gostam de frutos do mar: das 13 peixarias, 11 estarão abertas hoje.
– A gente está louco para sentir como ficou. Só não pode ter muita frescura, senão manezinho foge – diz Carlos Machado da Silva Rocha, nascido no Pantanal, e hoje morador do Estreito.
Para desconfiados assim, que acham que o novo mix carrega no glamour e retira a essência do lugar, Paulinho Abraham, o Boca, tem resposta.
– A gente ‘disglamuriza’, ora – brinca.
Ele é o idealizador do Berbigão do Boca, que tradicionalmente abre o Carnaval da cidade, tendo a área do Mercado Público como ponto de encontro da multidão que participa do arrastão pelas ruas históricas.
A pedagoga Marilu Lima de Oliveira, coordenadora do Programa Antonieta de Barros, da Assembleia Legislativa, é outra animada. Ela começou a frequentar o Mercado incentivada pela saudosa sambista Nega Tida. Tempos em que o local era considerado um espaço de e para homens. Época em que as mulheres negras e pobres passavam por ali na condição de empregadas.
– A gente está cheia de saudade desses encontros ocorridos principalmente aos sábados, nos quais, de jeito bastante informal, reúnem-se intelectuais, artistas, funcionários públicos, donas de casa, pescadores.
Mas têm marcas do velho mercado que o novo mix não apaga. Referências guardadas nos labirintos da memória. Como o que se ouviu na semana que antecedeu a reabertura, quando o prefeito Cesar Souza Junior fazia uma vistoria para avaliar a acessibilidade. Primeiro checou o interior da ala, depois a área externa, em direção à Avenida Paulo Fontes. Para mostrar as outras obras, o prefeito não hesitou:
– Vamos até a esquina do Alvim.
Um lapso. O lugar onde o box 1 do Mercado funcionou por 57 anos, sob o comando de Alvim Nelson Fernandez da Luz, deu lugar a um outro empreendimento. Ficou o ponto de referência. Embora muita gente aposte que o Bar do Alvim, hoje instalado na Rua João Pinto, possa voltar.
Ponteiros ditam o ritmo da reabertura
Depois de quatro anos paralisados voltaram a andar os ponteiros do relógio do vão central. O objeto também foi restaurado. Só existem três peças iguais no mundo – no Rio de Janeiro e em Buenos Aires. A de Florianópolis foi trazida em 1911, quando a empresa inglesa Western Telegraph Company Limited – a famosa “cabo submarino” – instalou-se na cidade. Com o fechamento, em 1975, o relógio foi doado para o município. Fabricado na Inglaterra, tem qualidade comparada à do Big Ben de Londres.
A partir de hoje sob o roçar dos ponteiros gente continuará passando pelo vão central. Para ouvir música, deliciar-se com a gastronomia típica ou fazer compras. Gente que, como cantou o poeta, nunca deixará o seu mercado público. Diferente do mar. Antes tão vizinho, agora distante, lá longe, separado por uma imensa área aterrada.
À
Um tour pela ala sul
A estrutura construída na década de 1930 está renovada e abrigará 36 boxes com opções de bares, restaurantes, peixarias, quitandas e utensílios para o lar. Oficialmente, inauguram hoje a ala sul e a ala norte. Mas como a segunda está aberta ao público desde o ano passado, destacamos o que você vai encontrar na ala sul, cuja reforma terminou nesta semana. Os boxes começam a atender às 11h de hoje. Mas apenas 22 funcionarão de imediato, os demais começarão ao longo de 30 dias. Veja como explorar as novidades:
BOX 1
BALCÃO MANÉ
Comidas típicas de Florianópolis
Produto da casa: Arroz de polbo com linguiça blumenau
Segunda à sexta:10h até 20h
Sábado: 9h até 16h
Jaques Cavalheiro Borges, 46
Precavido, Jaques não deu sopa para o azar e entrou na disputa por nove boxes da ala Sul do Mercado Público. Venceu todos e, como teria que escolher um, ficou com o espaço mais cobiçado do prédio: o box número 1, que por décadas ficou sob a responsabilidade da família Spinoza. Para honrar a esquina boêmia do Mercado, Jaques promete rechear o cardápio com muitos pratos típicos da Ilha, de ostras para tira-gosto até arroz Lambe-Lambe (camarão com chuchu). Os preços dos petiscos variam de R$ 18 a R$ 25, e os pratos individuais podem chegar a R$ 55.
BOX 2
CAFÉ STAZIONE
Cafés variados e salgados
Produto da casa: cafezinho puro pequeno (R$ 3,50)
Segunda à sexta: 8h - 20h
Sábado: 8h - 17h
Neron Zanette Lagranha, 55
Diversos tipos de cafés, dos mais caros aos comuns, poderão ser encontrados no box 2, do empresário Neron Lagranha. Com alguns cafés espalhados por Santa Catarina e Paraná, ele promete uma novidade exclusiva para a unidade do Mercado Público: o Jacu Bird Coffee.
– É um tipo de café especial que é vendido em poucos lugares do mundo e tenho certeza que vai dar certo aqui – adianta.
BOX 3
EMPÓRIO MANIA DA ILHA
Grãos e produtos naturais
Produto da casa: Mate Tradicional (R$ 11,00 / kg)
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 15h
Nelson Luiz
da Silva, 52
Falecido em 2012, o seu Ignácio da Silva deixou para os filhos o empório que manteve por mais de 50 anos na ala Sul. Nelson já acompanhava o pai nas vendas desde o nove anos de idade e ficou responsável pelo Empório Mania da Ilha. Sobre a possibilidade de mudança nos horários de funcionamento, ele garante que os clientes podem ficar tranquilos, pois poderão comprar farinha, mate e outras iguarias em seu empório nos domingos que o Mercado abrir as portas.
BOX 4
BOX 32
Bebidas e pratos típicos
Produto da casa: Top Box Frutos do Mar (R$ 65,00)
Segunda à sexta: 10h - 20h
Sábado: 10h - 16h
Roberto (Beto) Barreiros, 60
"São 12 milhões e 200 mil clientes que já passaram no meu bar em 31 anos", calcula Beto Barreiros. Se a matemática está certa ou não, pouco importa. A contagem já entrou para os anais de histórias do comerciante que soube como poucos fazer marketing de um box no Mercado. Para quem estava acostumado a visitar o Box 32 na antiga ala Sul, basta atravessar o corredor, pois o bar agora fica de frente para a avenida Paulo Fontes, com acesso interno e externo.
Na conversa sobre lembranças e expectativas da casa nova, Beto resume a importância de um mercado para uma cidade:
– Todos os mercados do mundo têm algo em comum: carregam a alma de suas regiões.
BOX 6
FIAMBRERIA DO AURINO
carnes defumadas e frios
Produto da casa: Charque
Segunda à sexta: 8h - 18h
Sábado: 8h - 14h
Aurino Manoel dos Santos, 68
Já se foram mais de cinco décadas desde que o garoto Aurino Manoel dos Santos, de 14 anos, entrou naquele prédio barulhento onde se vendia peixe, verduras, carnes e outros aperitivos. Na Fiambreria do Zari, aprendeu a desossar carnes, e dois anos depois foi trabalhar para o Spinoza, no box 1. Até que, certo dia, como ele gosta de dizer, a sua "estrela brilhou". Foi em 1967, quando ele ganhou uma loteria junto com o patrão e dividiram o prêmio:
– Não lembro a moeda, mas deu 12.500 para cada um. O Spinoza comprou um carro do ano e eu comprei o box do lado, número 2. Foi assim que surgiu a Fiambreria do Aurino.
BOX 7
AÇOUGUE KRETZER
carnes especiais
Produto da casa:
Picanha (R$40/kg)
Segunda à sexta: 8h - 18h
Sábado: 8h - 13h
Vilmar Kretzer,
56 anos
Novato no mercado, mas não no ofício. O Vilmar Kretzer já acumula 40 anos trabalhando com açougue. Aos 15 anos, ajudava no matadouro de bois em São Pedro de Alcântara e trazia a carne junto com o pai para os açougues do Mercado. Para este catarinense ocupar o box de número 7 da ala Sul é "a realização de um sonho".
BOX 8*
PEIXARIA GOLFINHO
peixes e frutos do mar
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
BOX 9*
COMÉRCIO DE
PESCADOS SILVA
peixes e frutos do mar
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
BOX 10
PEIXARIA DO CHICO
peixes e frutos do mar
Produto da casa: Anchova
Segunda à sexta: 8h - 18h
Sábado: 8h - 13h
Marcelo
Jacques, 44
Três filhos do falecido Francisco Jacques, o Chico, vão ocupar boxes na ala Sul do Mercado e Marcelo é um deles. Ele se orgulha de dizer que "nasceu e cresceu" nos corredores do prédio histórico e lembra da época em que o pai trabalhava nos boxes e não tinha nem frigorífico para conservar o pescado. Ao ver a nova ala, com os equipamentos de refrigeração novos, se empolga sobre o futuro: "Foi bom ter ficado no Terminal Velho enquanto esperávamos a obra, mas aqui no Mercado vamos vender muito mais".
BOX 11
PEIXARIA DO DEDEDA
peixes e frios
Produto da casa:
Robalo (R$ 35/kg)
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
Francisco Jacques
Jr (Chiquinho), 49
"O sogro chupava muito dedo, então demos o nome de Peixaria do Dededa", brinca Francisco Jacques Jr, mais conhecido como Chiquinho. O bom humor é também o segredo para vender mais na banca de peixe que vai inaugurar junto com a reabertura da ala Sul.
BOX 12
PEIXARIA GUIMARÃES
peixes e frutos do mar
Produto da casa: Salmão
Segunda à sexta: 8h - 18h
Sábado: 8h - 13h
Manoel Guimarães Neto, 36
Nem sempre o pescado foi a mercadoria trabalhada pelos Guimarães. O avô, Manoel, vendia verduras no entorno do prédio até conseguir um espaço dentro da ala Sul. Os tempos mudaram e o Manoel Neto, terceira geração da família Guimarães, conta orgulhoso sobre os tipos de peixe que vai vender no box de número 12: "Além da tradicional tainha, teremos um salmão especial que vem do Chile".
BOX 13
PESCADOS SILVEIRA
peixes e frutos do mar
Produto da casa:
Garopa (R$ 40/kg)
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
Marcos
Duarte, 45
Para Marcos, que já tem nove anos de experiência na venda de peixes na ala Sul do Mercado Público, a nova fase do centro comercial deve trazer benefícios para a cidade, clientes e comerciantes.
BOX 14
CASA DE SUCOS
sucos naturais
Produto da casa:
Suco de laranja
Segunda à sexta: 8h - 18h
Sábado: 8h - 14h
Valmir
Elias, 57
A família Elias aposta no calor da Ilha de Santa Catarina para vender caldo de cana e sucos variados. Dos quatro irmãos que possuem boxes nas duas alas do Mercado, dois terão barracas de caldo de cana e o Valmir vai ficar com a de suco, no box 14.
– Aqui você pode vir e fazer o seu suco - convida Valmir.
BOX 15
QUITANDA DO PALADAR
produtos orgânicos
Produto da casa:
Verduras
Segunda à sexta: 8h - 18h
Sábado: 8h - 13h
Aníbal
Nunes Pires, 26
Apesar da pouca idade, 26 anos, Aníbal já tem experiência em administração de um restaurante da família, no Centro. Receoso se ganharia ou não, acabou não se inscrevendo para a primeira licitação do Mercado. Mas na segunda fez uma oferta para a banca de verduras, pois já lidava diariamente com os itens que precisava comprar para o restaurante.
A Quitanda do Paladar promete ter um leque variado de frutas e vegetais orgânicos e outros produtos naturais.
BOX 18*
BANCA DE FRUTAS
E VERDURAS
hortifruti
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
BOX 19
SEDE DO CAISC
Casa dos Açores da Ilha de SC
BOX 20
EMPÓRIO DE
LATICÍNIOS E FRIOS
secos e molhados
Produto da casa:
Salame (a partir de R$ 5)
Segunda à sexta: 8h - 18h
Sábado: 8h - 14h
Euclides Filho Damasco, 58
"Me criei aqui no mercado", lembra Euclides, com forte sotaque manezinho. Antes de ter um empório de secos e molhados na ala Sul, a família dele armava uma barraca de verduras na parte externa do prédio:
– Era bem difícil conseguir comprar um box.
BOX 21
FAIMAR PESCADOS
peixes e frutos do mar
Produto da casa:
Corvina (R$ 10/kg)
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
Telma de
Oliveira, 42
A única "forasteira" nas peixarias da ala Sul vem de uma região com boa fama quando o assunto é peixes e frutos do mar: Itajaí. Telma também possui uma peixaria no Mercado Público da cidade portuária e promete trazer essa experiência e mercadoria daquela região para a Capital.
BOX 22
PEIXARIA TRINDADE
peixes e frutos do mar
Produto da casa:
Camarão do mar (R$ 25/kg)
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
Jorge
Serratine Jr, 34
Um dos novatos no setor de peixarias do Mercado, Jorge já foi funcionário na Peixaria do Chico e agora pretende abrir a primeira filial do seu próprio negócio, a Peixaria Trindade.
BOX 23*
PRIMEIRO MUNDO COMÉRCIO E
FRUTOS DO MAR
bacalhau
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
BOX 24 e 25
PEIXARIA SOUZA
peixes e frutos do mar
Produto da casa:
Tilápia (R$ 10/kg)
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
Ana Lúcia
de Souza, 48
A família Souza dividiu esforços e conseguiu adquirir dois boxes na ala Sul. Assim a Pescados Ventania agora vai se tornar a Peixaria Souza. Quem comanda os filhos e funcionários é a Ana Lúcia, que garante que o prédio histórico não vai ser "gourmetizado".
– Os preços vão ser os mesmos, apenas a qualidade que vai ficar ainda melhor - afirma Ana Lúcia.
BOX 26
PESCADOS OLIVEIRA
peixes e frutos do mar
Produto da casa:
Camarão Laguna
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
Adúcio Vítor de Oliveira, 77
A memória do seu Adúcio não deixa escapar nada, da vaca que entrou no corredor da ala Sul por causa de uma aposta até o mero de 350 quilos pescado pelo limpador de peixes Chico: "O Chico era o único bom limpador de peixe que a gente tinha no mercado", diz.
Saudosista, Adúcio sabe que essa informalidade não deve resistir aos novos tempos. Mesmo assim, vê com bons olhos a casa nova:
– Vai ficar mais organizado e bonito. Vai ser bom para as vendas também.
BOX 27
PEIXARIA DO CHICO
peixes e frutos do mar
Produto da casa:
Camarão Laguna
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
Jorge
Jacques, 52
"O mar batia do lado da ala Sul quando eu comecei a trabalhar aqui", lembra Jorge, também filho de Francisco Jacques. O saudosismo da memória não impede esse comerciante com relação familiar com o mercado de ficar animado com as novas mudanças. A expectativa dele e dos outros proprietários de peixarias é de muito serviço com a clientela.
BOX 28
BOX DOIS IRMÃOS
caldo de cana
Produto da casa:
caldo de cana com limão
(a partir de R$ 2)
Segunda à sexta: 8h - 18h
Sábado: 8h - 14h
Nei Alberto
Elias, 47
A partir deste dia 5 de agosto, caldo de cana no Mercado Público de Florianópolis tem sobrenome: Elias. Os irmãos Nei e Amarildo são os proprietários dos boxes que vendem o caldo refrescante nas alas Sul e Norte, respectivamente. Nos fins de semana, eles pretendem colocar um carrinho de caldo de cana no vão central, para facilitar as vendas.
BOX 29
BAZAR MANSUR
utensílios domésticos
Produto da casa:
Panela
Segunda à sexta: 9h - 17h
Sábado: 9h - 13h
Marlene
Mansur, 76
Em 1999, aos 60 anos, a dentista Marlene Mansur aprendeu uma nova profissão. Ou, como o pai Gedeão Mansur, que faleceu naquele ano, já previa, apenas deixou aflorar o talento que vinha no sangue. Aposentada, tomou conta dos negócios tocados pelo Turco, apelido de Gedão no Mercado, desde 1947 no box 35 da ala Sul.
– Ele sempre dizia que a gente tinha que estudar, então não deixava a gente trabalhando na loja. Contava que tínhamos que ter uma profissão, pois o comércio a gente já tinha nas veias - diz Marlene.
BOX 30
LEMBRANÇAS DE FLORIANÓPOLIS
loja de souveniers
Produto da casa:
ímã (R$ 4)
Segunda à sexta: 9h - 18h
Sábado: 9h - 13h
Lauro
de Paulo, 72
Lauro já chegou a ter três lojas apenas na ala Norte do Mercado Público. Além disso, era dono do bar Ponto 15, onde começou o incêndio em 2005. Apesar da história pouco feliz na ala vizinha, o comerciante promete vender boas memórias da cidade na ala Sul, com camisetas e outras lembranças de Florianópolis.
BOX 31
ANA SPINOZA:
TUDO PARA O LAR
embalagens para alimentos
Produto da casa:
Fôrma de pão (R$ 1,50)
Segunda à sexta: 9h - 18h
Sábado: 8h - 12h
Ana Maria
Spinoza, 69
Aos 13 anos, Ana já ajudava o pai na mercearia, que depois se tornaria bar, no box número 1 da ala Sul. Ela está encarregada de manter a tradição da família Spinoza no prédio histórico de Florianópolis.
– Achei tudo muito bonito. Esta nova fase do Mercado vai fazer bem para a cidade – conta a proprietária do box 31.
BOX 32 - 33*
SANDUICHERIA DA ILHA
sanduíches e sucos
Produto da casa:
Sanduíche de Mortadela Ceratti
Segunda à sexta: 10h - 18h
Sábado: 9h - 14h
BOX 34*
TRAPICHE BAR
bebidas e petiscos
Produto da casa:
Cachaça de Antônio Carlos
(a partir de R$ 8)
Segunda à sexta: 10h - 20h
Sábado: 10h - 17h
BOX 35*
PESCADOS SILVA
peixes e frutos do mar
Segunda à sexta: 7h - 18h
Sábado: 7h - 13h
BOX 36
QUIOSQUE CHOPP BRAHMA
bebidas e petiscos
Produto da casa:
Cerveja (R$ 7)
Segunda à sexta: 8h - 20h
Sábado: 8h - 15h
Joari
Martins, 33
Há seis anos trabalhando com distribuição de chope, o Joari se diz empolgado com o desafio de assumir um boteco no principal ponto turístico da Capital.
BOX 37*
RANCHO DA ILHA
comidas típicas
Produto da casa:
Balaio Cheio (a partir de R$ 50)
Segunda à sexta: 11h - 20h
Sábado: 11h - 17h
BOX 38*
CHURRASQUIM
carnes no espeto
Produto da casa:
Correria (vários tipos de espetinho) (de R$ 6 a R$ 12, por espeto)
Segunda à sexta: 11h - 20h
Sábado: 11h - 16h
BOX 39
BAR DO ELÓI
bebidas e petiscos
Produto da casa:
Cerveja (R$ 7)
Segunda à sexta: 10h - 20h
Sábado: 10h - 17h
Elói
Scaravonatto, 62
Foram quatro anos como operador de caixa no antigo bar que funcionava no mesmo box 39. Depois, quando veio e notícia de que o Mercado seria reformado e fariam uma licitação, Elói não pensou duas vezes e apresentou lance para dois boxes. Quis o destino que fosse escolhido o mesmo box 39 para ele administrar pelos próximos 30 anos. No local, ele promete cerveja bem gelada e petiscos da culinária manezinha para acompanhar.
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ALA SUL
ALA NORTE
Banheiros
* Não informaram
De volta pra casa
São memoráveis as histórias guardadas pelos assíduos frequentadores do Mercado Público de Florianópolis. Com a expectativa do reencontro, eles falam do desejo de que no novo e moderno espaço seja mantido o calor das relações humanas e sociais que caracterizam o bom e velho DNA do local
Aqui me tens de regresso
Não se sabe quem copiou quem. Se a Brahma, que montou o Camarote número 1 na Marquês do Sapucaí, ou a turma do Kiko Ortiga, que fundou o Camarote do Zezinho, em homenagem ao famoso bar do Zezinho, ali, na cara de quem entrava pela porta em frente ao camelódromo. Certo é que dali a turma que se reunia nas manhãs de sábado e nos finais de tarde para conversar e tomar cerveja carrega na memória momentos inesquecíveis do antigo Mercado Público.
— Um dia eu estava ali, sentado, e vi uma mulher de traços asiáticos entrar. Era uma senhora sorridente, de rosto familiar, com o corpo marcado por cicatrizes: era Kim Phuc, que teve sua fotografia eternizada aos nove anos durante a Guerra do Vietnã — conta Kiko.
O destino de outros famosos, como Astor Piazzolla e Domenico de Massi, e de artistas e desportistas quase sempre era o Box 32. Mas, pela proximidade, todos eram obrigados a passar os olhos pelo Camarote do Zezinho. Para frustração dos clientes, Zezinho ficou de fora da lista de comerciantes que venceram a licitação para ter box garantido no novo Mercado.
Kiko reconhece o esforço da prefeitura em devolver o local em sua totalidade aos moradores. Destaca, ainda, a promessa de cobertura do Vão Central Luiz Henrique Rosa e o nivelamento do piso, assim como o fim do boicote aos cartões de crédito, rejeitados pelos comerciantes — inaceitável para uma cidade turística e do porte de Florianópolis.
Mas ele tem preocupações. Uma delas é quanto à preservação do DNA do antigo Mercado, que tinha no calor humano, nascido das relações sociais, um espírito inigualável:
— Aquilo era uma comunidade, encontrávamos amigos e parentes e nem todos iam para beber um chope, mas certos de que ali encontrariam conhecidos. O Mercado se constituiu como de todas as tribos e nós queremos que continue assim, não apenas parte de comerciantes e dos consumidores.
Dai ao povo o que é do povo
Zezinho menino conheceu os corredores do Mercado Público pelas mãos da mãe, dona Alcina, e das tias, Alda Jacinto e Alice Maria, a Lili. Mais de 40 anos depois, José Carriço, hoje professor de Educação Física e um dos mais fanáticos torcedores da Escola de Samba Os Protegidos da Princesa, guarda na memória o cheiro da maresia que caracterizava o lugar. Frequentador há 35 anos, está na expectativa de reencontrar o clima de confraternização que une a gente do samba, as torcidas de Figueirense e Avaí, as elites políticas e as camadas populares.
Zezinho Carriço representa bem o espírito dos frequentadores do Mercado. De um lado, a consciência de que o lugar precisava melhorar — acomodação, higiene, ampliação de horários, variedade de produtos. De outro, o receio de que a elitização possa afastar os moradores. Para ele, o novo modelo levou símbolos importantes, como elevadores suspensos nos bares, banheiros onde a catraca era liberada com moedinhas, caderneta de anotações das despesas.
— Torço para que os novos comerciantes saibam que o Mercado Público é, acima de tudo, do povo.
Acertou o clique, mas errou no milhar
Três negativos na máquina e uma lâmpada que estoura no Vão Central do Mercado Público. Ao virar-se, o homem que voltava de uma partida de futebol no Orlando Scarpelli percebeu que a imagem parecia um sol ao anoitecer. Decidiu fotografar. Era o ano de 1999, e, um tempo depois, a direção da Caixa Econômica Federal enviou uma fotógrafa para Florianópolis. A moça precisava de uma imagem para ilustrar o bilhete da extração que iria homenagear os 100 anos do Mercado Público.
— Ela deu azar, pois pegou uma semana de chuva. Foi quando a conheci no Bar do Alvim, preocupada que estava, pois não tinha foto — recorda Édio Mello, que tinha os negativos em casa.
Mello cedeu o negativo para a Caixa. Não recebeu centavo algum. Mas não parece desconsolado. A foto ilustrou o bilhete. Entre risos, conta que só não se perdoa por ter acreditado que poderia ganhar na loteria:
— Gastei o que tinha e ainda convenci amigos e familiares a comprar um bilhete — diz.
A cidade e o Mercado
O Mercado Público exerceu um papel estratégico no abastecimento de Florianópolis. A cidade foi uma das poucas a ter dois mercados públicos. Um funcionou de 1851 a 1896, na Praça da Matriz, quando foi demolido. O outro funciona de 1896 até hoje, tendo recebido uma nova ala em 1931.
Nova maneira de gerir o patrimônio
Regras mais rígidas devem evitar alterações irregulares no prédio histórico.
Incompleto desde novembro de 2013, quando a ala Norte foi fechada para reforma, o Mercado Público deixou saudade em muitos de seus clientes assíduos. Nesta quarta, eles recebem de volta a ala Sul, com peixarias, bares e empório, depois de mais de um ano de obras.
Além da festa de reinauguração, das paredes pintadas e da estrutura melhor nos boxes, o que se espera é uma organização à altura da história do Mercado. Representantes dos comerciantes e da prefeitura têm a responsabilidade de cuidar e de fiscalizar o funcionamento do mix de serviços disponíveis nas duas alas.
Para comprar o peixe diário, a rota da caminhada matinal do seu Erasmo Antunes, 92 anos, não deve passar mais pelo terminal Cidade de Florianópolis — a partir de agora, ele retorna para a ala Sul. Curioso, o manezinho, que conhece o Mercado desde o tempo em que as peixarias não tinham refrigerador, reservou alguns minutos para ver os últimos preparativos da festa de abertura.
— Lembro que a primeira vez que vim aqui, eu tinha sete anos e estava acompanhando minha mãe. Era um comércio diferente, mas algumas mudanças são necessárias e ajudam a melhorar. Espero que todos entendam isso e ajudem a preservar — diz Erasmo.
Para garantir essa preservação, houve alterações na forma de administrar o Mercado. Já desde a abertura da ala Norte, em junho do ano passado, a Secretaria Municipal de Administração mantém uma gerência no prédio, que faz reuniões periódicas com a Associação de Comerciantes do Novo Mercado Público. O objetivo é evitar problemas comuns antes da reforma, como construções de puxadinhos, remendos e outros tipos de obras sem qualquer fiscalização, que desfiguraram um patrimônio tombado.
— Os comerciantes têm que fazer a parte deles, e nós, da prefeitura, a nossa. Fazemos reuniões e fiscalizamos cada mudança dentro do Mercado. Quatro proprietários de box já foram advertidos e um, multado na ala Norte por alterações sem permissão — explica o secretário Municipal de Administração, Gustavo Miroski.
Domingo também é dia de Mercado
Motivo de resistência para muitos permissionários de boxes e um pedido de boa parte da população, a abertura do Mercado Público aos domingos se encaminha para uma solução amigável. A partir de setembro, o prédio deve funcionar um domingo por mês. Com apoio da prefeitura, os dias escolhidos terão atrações culturais para atrair a população. A primeira data para o teste já está definida: 6 de setembro.
— Ainda estamos conversando com os comerciantes, mas 100% dos donos de bares e restaurantes já garantiram que vão abrir no domingo. Vamos respeitar a decisão de cada proprietário, mas acredito que, se for viável financeiramente, todos vão querer participar — adianta Aldonei de Brito, dono de box na ala Norte e presidente da Associação dos Comerciantes do Novo Mercado Público.
Outra mudança anunciada por Brito é a organização dos eventos no vão central. Se antes cada proprietário contratava um músico, agora, todos os eventos terão que passar pela aprovação da associação e não poderão ocorrer dois ao mesmo tempo, para evitar poluição sonora no espaço.
Em obras até novembro
Se as alas esperam apenas pelos permissionários para a montagem do mobiliário dos boxes, a situação do vão central é diferente. Apenas em maio a prefeitura finalizou o processo de licitação para escolha da empresa que fará a reforma e instalação de um teto no local. A obra deve custar R$ 4,2 milhões e tem prazo de conclusão até 20 de novembro deste ano. A preparação do piso foi acelerada para a inauguração da ala Sul, mas o teto, que será retrátil, ainda depende da chegada do material.
— O material é importado e vem da Alemanha. Mesmo assim, estamos confiantes e tudo estará pronto antes da chegada do verão. Além disso, essa fase da montagem ocorrerá sem interferência nos eventos do Mercado — afirma Rafael Hahne, secretário Municipal de Obras.