agricultura familiar responde por um terço da produção de cebolas em Santa Catarina. Em Ituporanga, pais, mães e filhos cuidam da lavoura. Com a regularização do trabalho no campo, houve uma diminuição do número de contratações de funcionários rurais. Durante o período mais árduo, no plantio e colheita — que duram em média 45 dias —, alguns temporários são contratados.
ma variedade que reúna as qualidades da cebola crioula e da precoce está sendo desenvolvida por técnicos da Epagri de Santa Catarina desde abril. O secretário adjunto de Agricultura do Estado, Airton Spies, explica que o vegetal, ainda sem nome definido, promete ter o ciclo produtivo da bola precoce e a casca na cor de pinhão, como a crioula.
O bulbo está em fase final de avaliação e deve agradar aos produtores por ter diferentes opções de colheita — de precoce a mais tardia. Desde 1984, técnicos da Epagri já desenvolveram oito variedades de cebola, sendo as mais comercializadas a crioula e a bola precoce.
Spies explica que as variedades possibilitam aos produtores ofertar o vegetal por um período mais longo, em função do tempo de conservação, que pode chegar a até seis meses.
os 44 anos, Ivonete Borges dos Santos tem a pele clara castigada pelo trabalho sob o sol. As costas doem — resultado do esforço nos processos de plantio das mudas e de colheita na lavoura. Com as pernas esticadas, o tronco inclinado e uma sacola de plástico ajeitada sobre o ombro, ela infiltra na terra fofa as mudas recém transplantadas do canteiro. A agilidade com que Ivonete faz o trabalho é reflexo da experiência de anos, passada por gerações. É nesse processo que está o segredo da qualidade da safra.
produtor e presidente da Associação dos Produtores de Cebola de SC, Luiz Carlos Scheidt, 43, reflete nas mãos calejadas a experiência de 25 anos no cultivo das cebolas. Com olhos voltados para o céu, ele procura sinais que garantam o sucesso para a próxima safra. A cada ano, produtores esperam uma colheita melhor.
— O clima é 90% da produção. Temos a melhor cebola do Brasil. Por causa dessa qualidade, conseguimos armazená-la por até seis meses. Isso não acontece com os produtores dos outros Estados — afirma.
baixa oferta e os preços altos são resultado do encerramento precoce das safras do Sul e da quebra na produção da Argentina. No país vizinho, as chuvas excessivas de verão prejudicaram os bulbos, causando podridão e perdas elevadas. Com a quebra, a produção abasteceu apenas o mercado interno argentino. Assim, o volume exportado para o Brasil é o menor das últimas décadas, devendo ficar abaixo de 80 mil toneladas em 2015. Assim, a Holanda, pela primeira vez, tornou-se o maior fornecedor do Brasil no primeiro semestre de 2015, com 88,4 mil toneladas do vegetal exportado (a Argentina enviou 77,9 mil toneladas).
Com a falta de cebola e os altos preços, a busca pelo produto foi grande. As produções do Chile, da Espanha, da Nova Zelândia e do Peru também apareceram nos supermercados e feiras brasileiros.
o Oriente Médio, surgiram as primeiras produções de cebola, hoje consumida pelo mundo inteiro. Para Santa Catarina e Rio Grande do Sul, ela foi trazida por portugueses e açorianos. O engenheiro agrônomo da Epagri e Coordenador da Câmara Setorial de Cebola/SC, Daniel Rogério Schmitt, afirma que o cultivo na costa brasileira é conhecido desde o século XVI, mas se intensificou a partir de 1750 com a chegada dos açorianos ao litoral dos Estados catarinense e gaúcho. A produção começou para consumo local e abastecimento dos navios que aportavam no litoral do sul e passou a ter viés econômico a partir de 1930.
— A origem açoriana e alemã do cultivo de cebola na região de Ituporanga pode ser comprovada pela distribuição geográfica do cultivo no Alto Vale do Itajaí. Somente nos municípios que foram colonizados a partir da corrente migratória de São Pedro de Alcântara, a cebolicultura tem importância econômica. Nos demais municípios da região, que surgiram da expansão da colônia de Blumenau, a produção de cebola não é uma tradição — explica Schmitt.
Atualmente, pequenas áreas rurais entre o Vale do Itajaí do Sul e o litoral, como Angelina, Leoberto Leal e Rancho Queimado, têm cultivo de forma bastante tradicional, mostrando junto com Alfredo Wagner e Bom Retiro o caminho que a cebola percorreu até chegar à região de Ituporanga.
As fortes chuvas que atingiram as regiões produtoras de cebola do Triângulo Mineiro e de Goiás, durante meados do primeiro semestre, ocasionaram o atraso do plantio e prejudicaram a produtividade das lavouras. Além da baixa oferta, a concorrência com a cebola importada também influenciou as cotações do produto nos mercados nacionais. A importação de cebola proveniente do Chile, Espanha e Holanda continua alta.
— O preço subiu, mas SC vendeu sua cebola antes. O preço muda conforme a oferta e procura, a volatilidade é muito alta. A época do colheita em SC começa em outubro, até lá vamos ver como estão os preços, ninguém pode apostar — explica o secretário-adjunto de Agricultura do Estado, Airton Spies.
A expectativa da Conab é de uma maior oferta de regiões de Minas Gerais e Goiás a partir da segunda quinzena de agosto e início de setembro, quando os preços podem sofrer alguma redução. Também é esperada para o segundo semestre a produção da Bahia e de Pernambuco.
Em Ituporanga, no galpão de armazenamento, restam apenas algumas dezenas de vegetais que sobraram da última safra. Apesar de o preço da cebola chegar às alturas, de até R$ 4 por quilo bruto, Scheidt não tinha estoque para vender. Para este ano, arrisca um palpite:
Na lavoura, não há distinções entre produtores e empregados. A rotina começa cedo, já nos primeiros raios de sol, e segue até que a luz do dia se apague. O tempo bom precisa ser aproveitado. O homem do campo sabe que a boa safra depende em grande parte do clima: chuvas bem distribuídas, calor e frio nas estações definidas.
Alves conta com a ajuda do filho mais velho, Dione Alves, 28 anos. Animado com o trator que pulveriza e irriga as mudas de cebola, o jovem conta que prefere ajudar o pai na lavoura a se aventurar na cidade. Gosta da vida no campo.
— Sempre me interessei pela lavoura e é aqui quero ficar — diz enquanto trabalha.
cebola que brota das terras da região de Ituporanga está na mesa brasileira. O Estado é o líder na produção nacional, favorecido pelas estações bem definidas, temperaturas baixas e altitudes que chegam a 860 metros acima do nível do mar. Além do sabor e da qualidade garantidos, o agricultor catarinense tem bons motivos para sorrir. A expectativa é de que a produção deste ano seja 17,4% maior do que a passada, segundo a análise da Federação das Associações Empresariais de Santa Catarina (Facisc).
No último ano, a produção bruta catarinense sofreu uma perda de 30% durante o processo de armazenamento, cura e secagem. Foram comercializadas 330 mil toneladas. As perdas nos demais Estados, juntamente com a queda na Argentina, por conta do excesso de chuva, fez faltar cebola no mercado e o preço subiu. O valor pago ao produtor, que era em média R$ 0,75 por quilo em 2014, chegou a R$ 2 em abril de 2015. Nos supermercados, o consumidor também sentiu. Chegou a pagar R$ 8 – hoje encontra a R$ 3,60 o quilo.
Produção em família
Nova variedade promete
atrair consumidor
Mãos garantem a safra
Olhos no céu,
expectativas para a colheita
Cebola em falta e
preços nas alturas
Herança de
portugueses e açorianos
A
U
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D
A
Reportagem
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Edição
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"
Com base nos dados da Epagri e do IBGE (2014/2015), se as condições climáticas não atrapalharem, a perspectiva é de um aumento na safra em relação ao ano passado. Se não tivermos nenhum problema climático, a colheita pode passar das 500 mil toneladas.
avalia o vice-presidente da Facisc, Vincenzo Giacomo
"
A mão de obra se tornou cara. Planto cebola há 40 anos. Isso se tornou uma herança de família. Hoje em dia, os jovens não querem mais ficar no campo.
diz o produtor Lauro Alves, 54 anos
"
Desde os 10 anos, o pai e a mãe nos levavam pra roça. Hoje, um trabalhador experiente chega a plantar 30 mil mudas em um dia.
diz a agricultora
Diones Alves:
– Sempre me interessei pela lavoura e é aqui quero ficar – diz enquanto trabalha
"
O plantio está bom. A espera é sempre por uma boa safra, com bons preços para o produtor, mas é muito cedo para qualquer coisa. Tivemos chuva no início da plantio.
especula o produtor
"
Por outro lado, no mercado brasileiro a oferta deve aumentar já em agosto, quando se intensifica a colheita nas regiões paulistas de Monte Alto e São José do Rio Pardo, bem como de Cristalina, em Goiás.
explica o engenheiro agrônomo da Epagri e Coordenador
da Câmara Setorial de Cebola/SC, Daniel Rogério Schmitt.
MAPA DO PLANTIO
Municípios do Planalto Serrano concentram as maiores produções no Estado em 2013 (em toneladas).
Passe o mouse nos pontos do mapa.
VARIEDADES EM SC
CICLO NO PAÍS
Do plantio à colheita, em média dura de 170 a 180 dias. Quando as folhas do vegetal começam a crescer e deitar estão prontas. As épocas de semeadura e colheita variam dependendo da região.
PRINCIPAIS PRODUTORES
SC abastece, além do Estado, principalmente as cidades do Sudeste, como São Paulo, Rio e Belo Horizonte. Em menor quantidade, a produção também vai para Nordeste, Pará, Paraná e Centro-Oeste.
PREÇOS AO PRODUTOR
Preços médios pagos ao produtor catarinense devido a redução da oferta (por quilo da cebola Classe 3)
PELO MUNDO
Com isso, cresceu a importação de produtores internacionais no primeiro semestre de 2015 (em toneladas)
Ituporanga
120,4 mil
Alfredo Wagner
107,5 mil
Imbuia
30 mil
Aurora
39 mil
Período de colheita e distribuição
Período de colheita e distribuição
Período de colheita e distribuição
Período de colheita e distribuição
Sul
Centro-Oeste (Goiás)
Sudeste
Nordeste
Movimenta
R$ 350
milhões
na economia
do Estado
Área plantada
em SC
20 mil
Hectares
ITUPORANGA
Líder nacional na produção de cebola desde da década de 1980.
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CLASSIFICAÇÃO
O tamanho é documento na classificação do vegetal. De acordo com o diâmetro transversal do bulbo e independente do tipo, ela é dividida em quatro classes, conforme tabela do Ministério da Agricultura, que vale para o Mercosul, desde 1994:
DE SANTA CATARINA PARA O BRASIL
Com um sabor mais picante, as cebolas catarinenses estão entre as favoritas dos brasileiros. O segredo, apontam os especialistas, é a maior durabilidade do vegetal, que pode ser armazenado por até seis meses. O cultivo manual, feito em 2/3 das áreas em SC, garante um tamanho maior e mais uniforme dos bulbos, pois as plantas crescem em espaços equidistantes entre si.
CLASSE 2
Maior que 3,5 até 5 cm
CLASSE 3
Maior que 5 até 7 cm
CLASSE 4
Maior que 7 até 9 cm
CLASSE 5
Maior que
9 cm
Variedade desenvolvida pela Epagri de SC, também é plantada no RS e PR.
Ela leva mais tempo para ser produzida e tem uma durabilidade maior.
A planta é armazenada em estaleiros ventilados por até quatro meses, dependendo da produção.
CEBOLA CRIOULA
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Há 20 anos, a pequena cidade de Ituporanga, no Vale do Itajaí, com cerca de 22 mil habitantes mantém o status de município que mais produz cebola no país. É de lá que sai, também, a maior parte do bulbo que abastece o Brasil.
Ituporanga respira, cheira e vive da planta, que movimenta em torno de R$ 350 milhões por ano na economia do Estado. Além dela, outras cidades da região, como Alfredo Wagner, Aurora e Imbuia, são importantes polos de cultivo da cebola. Na safra 2013/14, Santa Catarina produziu mais de 500 mil toneladas – dessas, 120 mil em Ituporanga.
A cebola catarinense tem diversidade de tamanho, cor da casca e sabor, segundo especialistas. A maior parte das mudas da cebola crioula, uma variedade catarinense melhorada pela Epagri, são plantadas em um processo totalmente manual, e os bulbos se formam envoltos em uma fina casca marrom, da cor de pinhão, conhecidos pelo sabor picante.
Na terra da cebola, as carreiras verdes alinhadas simetricamente contornam os campos infinitos. O clima garante uma melhor qualidade à planta, que cresce no tamanho certo da preferência dos seus consumidores. O zelo no plantio, com as sementes sendo organizadas uma a uma, garante um melhor aproveitamento da safra.