Existem minutos que duram para sempre. Eles marcam, ferem, redimensionam a própria percepção do tempo. Negam-se a ir embora. Depois de cinco anos da maior tragédia aérea brasileira, que se completam nesta terça-feira, há 400 minutos que seguem vívidos, recusando-se a ir embora. Eles começam às 18h54min de 17 de julho de 2007, quando o Airbus da TAM que levava 187 passageiros e tripulantes de Porto Alegre a São Paulo, incluindo 93 gaúchos, atravessou a pista do aeroporto de Congonhas e explodiu contra um prédio repleto de trabalhadores, matando 199 pessoas. Principiava ali um período da mais severa agonia, tingida por uma ponta de esperança. Ele se estendeu até a 1h34min do dia 18, quando o Brasil soube o nome dos mortos na tragédia.

Aeroporto de Congonhas, 18h45min

O painel eletrônico no saguão do aeroporto de Congonhas, em São Paulo, informa que o voo JJ 3054, vindo de Porto Alegre, aterrissou. Lauri Volpi vai até a área de desembarque e posta-se à espera, de olho na porta. Aguarda a neta, Thaís Volpi Scott, 14 anos, que está chegando de São Leopoldo para uma semana de férias. Ela vem acompanhada de uma amiga, Rebeca Haddad, também de 14 anos. O celular de Volpi chama. É o genro, o professor da Unisinos Dario Scott, ligando do Rio Grande do Sul.

– As meninas chegaram?

Vídeo: assista ao depoimento de Dario Scott sobre os primeiros momentos após o acidente

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O incêndio

Em meio às chamas, no prédio da TAM Express que serve de depósito para as cargas transportadas pela companhia, o português Antônio Garcia atende o telefone. É a mulher Giselle. Ela quer saber o que está acontecendo, quer que o marido abandone o posto.

— Um avião bateu no prédio — é tudo que ele diz, antes de a ligação cair.

Garcia morreria dois dias depois no hospital — vítima número 199, a última da tragédia.

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O Brasil em choque, 19h7min

No apartamento localizado a 10 quadras do aeroporto, o repórter na TV despedaça as ilusões da enfermeira aposentada Cladice: o avião em chamas não era de carga, era de passageiros, e saíra de Porto Alegre às 17h19min. A mulher telefona de novo para a filha, agora aos gritos, os olhos fixos no fogo emoldurado por sua janela:

— Teu irmão está morrendo queimado. Estou vendo aqui de casa.

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Telefone de Mariana toca. É um amigo:

— Vi o acidente e pensei no teu pai.

Mariana tenta o celular do pai, o deputado Julio Redecker. Ele não atende.

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Simone recebe a notícia no meio da rua, a caminho de um shopping. Sente as pernas amolecerem, fica tonta. Caem no chão seus livros, sua sombrinha. Entra no primeiro táxi, pede:

— Para Congonhas.

Naquele momento, milhões de brasileiros atônitos estão descobrindo pela internet, pelo rádio ou pela TV que um avião com quase 200 passageiros pegou fogo no aeroporto de São Paulo. As notícias, ainda desencontradas, mas muito velozes, originam-se das equipes de repórteres que passam os dias em Congonhas a relatar o drama dos viajantes em meio ao caos aéreo.

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O LIVRO

Esta reportagem é inspirada no livro 102 minutos, a História Inédita da Luta pela Vida de autoria dos jornalistas americanos Jim Dwyer e Kevin Flynn. A publicação conta o drama dos sobreviventes da queda das Torres Gêmeas, em Nova York, em 11 de setembro. São 102 minutos, a partir do momento que começou o ataque ao World Trade Center até o segundo arranha-céu desmoronar.

LIVRO

Ler um trecho do livro

O repórter Fernando Rocha, que sobrevoa o local de helicóptero, tem detalhes alarmantes para dar:

– O avião teria atravessado a pista do aeroporto de Congonhas. Atravessou a Avenida Washington Luiz, que fica no bairro de Campo Belo, na zona sul de São Paulo. Esse prédio da TAM fica do lado de fora do aeroporto. A informação preliminar do Corpo de Bombeiros é de que existem vítimas.

Em um consultório de Porto Alegre, a notícia da tragédia chega à psicóloga Eneida Fleck Suarez aos pedaços e por acaso, por meio um telefonema. O celular que toca é de um paciente, no começo da sessão. O homem atende um amigo preocupado, que quer se certificar de que ele não era passageiro do avião que, mostram as TVs, está em chamas em São Paulo. Eneida escuta os fiapos da conversa e se dá conta de que voo é aquele. Havia comprado passagens nele para a mãe, Sueli Fleck, 73 anos, e para o sobrinho, Fernando Fleck Pessoa, 22 anos.

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Aeroporto Salgado Filho, 66º minuto

– Vocês têm a obrigação de dar a lista, porra!

Uma hora depois de o Airbus da TAM explodir em Congonhas, com as chamas ainda ardendo, o conflito está instalado no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. Parentes e amigos de passageiros correm de um lado para outro, em desespero, chorando, gritando. Acotovelam-se diante do balcão de vendas da TAM, onde descobrem que a companhia não havia preparado qualquer esquema de atendimento.

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Hotel Plaza São Rafael, 306º minuto

No aparelho sintonizado na Rádio Gaúcha, dentro do auditório Itapema, Neusa agora escuta o repórter Wagner Belmont, que entra ao vivo de São Paulo para dizer que teve acesso a um comunicado com 176 nomes.

Em volta do aparelho colocado sobre o palco do auditório, com dedos entrelaçados ou de joelhos, homens e mulheres rezam para não ouvir nomes de parentes e amigos.

É 1h34min 400 MINUTOS depois do acidente em Congonhas.

Audio

O primeiro nome a ser lido é o da pensionista Adelaide Moura.

Neusa , a filha, cai em pranto.

A cada novo nome, o choro e os gritos se amplificam. Quando o repórter menciona Catilene Maia de Oliveira, 35 anos, passageira da poltrona 21A do Airbus e integrante da comitiva do Sinapers, uma amiga desaba. Uma colega evita a queda e a consola:

– Segura que tem mais.

Seis paramédicos não dão conta de acudir a todos que tombam pelo chão, desesperados. Quatro pessoas são retiradas do auditório desmaiadas. Nove minutos depois, um funcionário da TAM faz a leitura oficial dos nomes.

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Os Fatores da Tragédia

Após o acidente, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) da Aeronáutica conduziu uma investigação para apontar os fatores que contribuíram para o acidente. Além disso, a Polícia Civil de São Paulo, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal efetuaram investigações independentes.

O Cenipa emitiu 83 recomendações de segurança operacional para várias partes envolvidas na operação em Congonhas. Cinco anos depois, confira as raízes da catástrofe apontadas pelo MPF, o que foi determinado pelo Cenipa e o que foi feito para evitar que algo do tipo se repita.

Aeronave

Como é feito o pouso

  • Quando o avião toca o solo, aciona automaticamente
    freios aerodinâmicos nas asas.

  • Em seguida, o piloto coloca em operação o reversor, mecanismo que inverte o fluxo das turbinas, fazendo-a "acelerar para trás" – ou seja, frear. Em seguida, os freios das rodas são automaticamente acionados.

  • O uso do reversor não é obrigatório: o principal sistema para parar um avião é o de freios nas rodas. Mas é praxe utilizá-lo.

O A-320

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