| 07/11/2005 18h22min
Brasil e a Índia concordaram hoje em Londres que os países ricos devem ampliar a abertura de seus mercados à agricultura do mundo em desenvolvimento e cortar mais drasticamente suas ajudas internas e subsídios à exportação caso queiram salvar a rodada de Doha.
– Estamos dispostos a movimentar-nos (em outros setores como o comércio de bens industriais), mas isso depende do que consigamos em agricultura, que ainda é insuficiente – declarou à imprensa o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim.
Por sua vez, o ministro de Comercio e Indústria da Índia, Kamal Nath, denunciou que "a agricultura é o setor estruturalmente mais distorcido de todo o comércio mundial" e se queixou que os países ricos estão dispostos a ceder "uma polegada, mas reivindicam em troca uma milha".
Amorim e Nath se dirigiram aos jornalistas separadamente antes de participarem de uma reunião da missão indiana na capital britânica com seus colegas da Comissão Européia (CE, órgão executivo da União Européia) e EUA para tentar aproximar posições com vistas a outra reunião mais ampla, amanhã, em Genebra, sede da Organização Mundial do Comércio.
O chanceler brasileiro indicou que seu país estava disposto a fazer concessões, mas sempre "proporcionais", embora não tenha revelado até onde estava disposto a chegar. "É algo que tratarei esta tarde com (Peter) Mandelson", comissário de Comércio da União Européia, afirmou.
Seu colega indiano expressou, por sua vez, sua preocupação com o fato de que hajam "tantas coisas por resolver em tão pouco tempo".
Nath se referia assim à conferência ministerial fixada para 13 de dezembro em Hong Kong, na qual os 148 países-membros da OMC devem fixar as linhas mestras de um acordo multilateral nos diferentes âmbitos da negociação, que incluem também os bens industriais e os serviços.
Uma vez que hoje em Londres só estão negociando quatro países – ou blocos, no caso da UE – Amorim destacou que dali não sairia nenhuma oferta definitiva, embora tenha dito que poderiam ser "fixadas as bases" do que será discutido amanhã em círculos mais amplos em Genebra.
– Estamos tentando avançar, e há fundamento para esse avanço. Não é totalmente impossível – disse, apesar de reiterar que tudo dependerá dos progressos na agricultura, setor que qualificou de "o motor da rodada".
Amorim disse que em sua recente visita ao Brasil o presidente George W. Bush confirmou a disposição dos Estados Unidos em reduzir os subsídios internos ao setor agrícola embora tenha destacado que isso dependeria de uma contrapartida européia no mesmo âmbito.
O ministro brasileiro disse, por outro lado, que o presidente Lula tinha escrito uma carta a seu colega francês, Jacques Chirac, em relação ao impasse agrícola e reiterou que "a melhor forma de combater a pobreza no mundo em desenvolvimento é eliminando os subsídios e abrindo os mercados".
Segundo Amorim, "a União Européia não pode utilizar como pretexto para não diminuir mais suas tarifas protecionistas" o fato de um grupo de países mais pobres se beneficiar atualmente de um acesso preferencial aos mercados europeus. Conforme Bruxelas, essas preferências iriam por água abaixo no caso de uma diminuição geral de tarifas.
Amorim destacou que esses países (o chamado grupo ACP: antigas colônias da África, Caribe e o Pacífico) deveriam diversificar sua produção e Brasil está disposto a ajudá-los. O chanceler brasileiro acrescentou que também não pode ser aceito que a União Européia só esteja disposta a diminuir suas tarifas em 39% em média – ou ainda menos, caso sejam incluídos os chamados "produtos sensíveis", fortemente protegidos – e exijam dos países em desenvolvimento a redução de 70% de suas barreiras aos produtos industriais.
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