| 11/09/2005 12h30min
A uma semana de suas eleições internas, o PT, partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vem sofrendo uma incontrolável debandada, em meio às denúncias de corrupção que surgem diariamente. O êxodo de militantes e dirigentes para outros partidos aumentou nos últimos dias, sobretudo em função da incapacidade e do desinteresse demonstrados pelo partido para punir a corrupção interna, "cortando na própria carne", como Lula exigiu.
A gota d´água foi o caso do ex-tesoureiro Delúbio Soares, que confessou ter tomado empréstimos irregulares, usado dinheiro de origem duvidosa nas campanhas do partido, ocultando parte da contabilidade às autoridades fiscais e eleitorais e deixando o PT com dívidas de cerca de US$ 80 milhões.
Delúbio, que até agora não foi punido, cobra ainda seu salário e o pagamento de seus advogados, apesar de até o presidente do partido, Tarso Genro, reconhecer que sua "administração foi temerária" e deixou o PT à beira da ilegalidade.
A direção nacional do partido se reuniu na semana passada para avaliar a possibilidade de expulsar o ex-tesoureiro do partido, mas Delúbio conseguiu obter uma ordem judicial que impede a ação, e o PT decidiu deixar o assunto em suspenso.
– São muitos desencantos, humilhações e frustrações – disse o senador Cristovam Buarque, ao explicar novamente sua decisão de abandonar o partido.
Até agora quatro parlamentares já deixaram o partido, e se calcula que centenas de militantes foram para outros partidos de esquerda.
Buarque disse que a direção econômica ortodoxa do governo de Lula e os escândalos de corrupção transformaram a esperança gerada pela vitória de Lula em "um desastre". Ainda segundo Buarque, criador de avançados programas sociais e ministro da Educação durante o primeiro ano do governo Lula, as eleições internas do próximo dia 18 levam o PT a "uma luta corporativa e antipopular, totalmente oposta a sua origem e a seus ideais".
Ele admitiu que sua saída pode ser interpretada como "oportunista", mas esclareceu que se trata do "dever" de quem decidiu "ser de esquerda na vida".
Um dos inimigos políticos de Buarque é o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que renunciou ao cargo acusado por líderes de partidos aliados de ser "o chefe do maior esquema de corrupção" da história política brasileira. Dirceu é agora candidato a um cargo na direção nacional do partido pelo chamado Campo Majoritário, facção controlada por Lula e pelo ex-ministro, e que foi a responsável pela guinada do PT à centro-esquerda.
Tarso Genro, que deixou o Ministério da Educação para presidir interinamente o PT após a renúncia de toda a direção nacional devido aos escândalos de corrupção, tentou enfrentar Dirceu e chegou a exigir publicamente que este renunciasse à sua candidatura interna. Mas Genro perdeu a batalha, e teve de abrir mão de sua candidatura à Presidência do partido.
Para esse cargo o Campo Majoritário apresenta agora a candidatura de Ricardo Berzoini, ex-ministro do Trabalho de Lula, que nesta semana foi criticado por exigir a renúncia do presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, acusado de corrupção.
– Severino deve ser destituído, mas o PT deveria olhar também para seus próprios corruptos – disse o senador Álvaro Dias, do PSDB, que recebeu apoio até mesmo de aliados de Lula.
O PT detém a maior bancada na Câmara dos Deputados, com 90 parlamentares, mas sete podem ser destituídos por corrupção e outros 24 anunciaram uma renúncia em massa caso o Campo Majoritário saia vencedor das eleições internas do partido.
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