| 08/09/2005 07h00min
No rastro dos recursos que irrigaram o valerioduto, a CPI dos Correios começa a desvendar um esquema que envolve lavagem de dinheiro e paraísos fiscais.
Há coincidência de datas e valores entre os saques das contas do empresário Marcos Valério de Souza no Banco Rural e depósitos no Exterior em benefício do publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002.
Até sobre o empréstimo de R$ 55 milhões do Banco Rural, que Valério diz ter feito para repassar ao PT, paira a desconfiança de que a operação teria sido lastreada com depósitos no Exterior, via uma offshore chamada Trade Link Bank.
Em parceria com a CPI, o Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça já montou um plano estratégico de investigação das contas de Duda. Na terça-feira, a CPI e o departamento, junto com a Polícia Federal e o Ministério Público, fecharam o texto que subsidiará o pedido de quebra de sigilo bancário das operações de Duda para o rastreamento de suas contas. O documento será encaminhado ao governo americano, com o qual o Brasil mantém convênio de cooperação.
Se conseguirem fechar essas conexões, os deputados começarão a montar o quebra-cabeças da origem dos recursos que financiou o esquema Valério-PT. Em depoimentos à CPI dos Correios e à Polícia Federal, o próprio Duda afirmou ter recebido, em uma conta bancária em Miami (EUA), aberta em nome da offshore Dusseldorf Company Ltda, cerca de US$ 10,5 milhões. O repasse referia-se a serviços prestados ao PT durante as eleições de 2002.
– O cruzamento de dados mostra que os dois contaram apenas parte da verdade – observa o deputado Onyx Lorenzoni (PFL).
A CPI teve o trabalho de listar os saques realizados pela equipe de Duda no Brasil no período de 2003 e 2004. No dia 9 de março de 2003, por exemplo, foram liberados no Brasil R$ 300 mil da conta de Marcos Valério. Três dias depois, Duda Mendonça registrou um depósito na sua conta no Exterior no valor de US$ 83,6 mil. O levantamento não chega ao total que Duda diz ter recebido, nem a conversão representa exatamente a valor do dólar à época.
– Eles podem ter feito um acordo, trabalhado com valor fixo do dólar. Mas só saberemos isso quando descobrirmos quem depositou esse dinheiro lá nas contas do Duda. Foram doleiros? Precisamos responder a essas dúvidas – comenta o sub-relator da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).
Investigações da Polícia Federal já identificaram que o publicitário tem sócios nessa conta, entre eles, doleiros. Intrigados, os parlamentares agora querem confirmar se o dinheiro sacado foi enviado para fora do Brasil para cobrir os gastos de Duda em nome do PT, ou se houve outra transação sem saída de dinheiro do Brasil, o chamado dólar-cabo. O mesmo vale para os empréstimos do Banco Rural.
Até o momento, não foram apresentados documentos que comprovem qual a garantia dada para que R$ 55 milhões tenham sido emprestados a Marcos Valério. A CPI ainda descobriu que os empréstimos superaram esse valor, chegando a R$ 110 milhões. Parlamentares acreditam que a garantia real foi depositada em algum paraíso fiscal em nome da instituição financeira.
– Pode existir um contrato de gaveta. Não é possível que o banco tenha liberado esse empréstimo tendo como garantia apenas a assinaturas de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT) – observa Onyx.
CAROLINA BAHIA/ZERO HORAGrupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.