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 | 23/08/2005 15h52min

Lula diz que não mudará a economia apesar da crise

Presidente discursou ao inaugurar linha de transmissão em Cuiabá

Num discurso em que citou a crise política que atinge seu governo várias vezes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje, em Cuiabá, onde esteve para inaugurar uma linha de transmissão de energia da Eletronorte, que não vai fazer mudanças na política econômica.

– Tem crise, tem. Mas vamos tirar proveito dessa crise para que o país saia dela mais fortalecido. Pela primeira vez existe a perspectiva do país crescer de forma sustentada com inflação baixa. E não jogarei fora essa oportunidade por nada neste mundo. Mudar a economia agora, seria prejudicar os mais pobres – disse Lula, em discurso em Coxipó, às margens da rodovia Cuiabá-Rondonópolis, na região metropolitana de Cuiabá.

O presidente defendeu com veemência o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Segundo Lula, tanto ele, como o ministro Palocci e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, gostariam de baixar os juros de uma forma mais brusca, mas isso ainda não é possível.

– Muitos me procuram e dizem: por que não baixar os juros em 4% ou 5% de uma vez só. Quando o Senado aumentou o salário mínimo para R$ 383, me falaram, por que você não deixa esse salário mínimo. Ora, não podemos perder a oportunidade de ter um crescimento da economia com estabilidade. Os senadores que aprovaram o mínimo em R$ 383, sabem que as prefeituras não teriam dinheiro para pagar esse mínimo – disse Lula.

O presidente garantiu ainda que as investigações sobre a corrupção no governo não vão parar e defendeu o ritmo em que a Polícia Federal está procedendo com a investigação.

– Quando a investigação é bem feita, ela demora um pouco mais. Tem gente que faz só circo com investigação e não apura nada. Por mais séria que seja a crise política que estamos vivendo, o povo saberá debelá-la. Não haverá retrocessos – garantiu Lula.

 

O DISCURSO
O que Lula disse em Mato Grosso:
Quero cumprimentar o governador do estado do Mato Grosso, Blairo Maggi,Quero cumprimentar sua esposa Terezinha Maggi, Secretária do Trabalho e Emprego,Quero cumprimentar o nosso companheiro Silas Rondeau, Ministro de Minas e Energia,Quero cumprimentar a senhora Iraci Araújo, vice-governadora do Mato Grosso,Cumprimentar o deputado Silval Barbosa, presidente da Assembléia Legislativa do Mato Grosso,Quero cumprimentar os dois ex-governadores que estão aqui presentes, o ex-governador Gacia Neto e o ex-governador Júlio Campos,Quero cumprimentar o desembargador José Jurandir de Lima, presidente do Tribunal de Justiça do estado do Mato Grosso,Quero cumprimentar o prefeito Wilson Santos, da cidade de Cuiabá,Cumprimentar o Mauro Mendes, presidente da Amazônia-Eletronorte,Cumprimentar o reitor da Universidade Federal e comunicar ao reitor que já está acertado, para 2006, a extensão de dois campi da Universidade Federal para Rondonópolis e para Sinop,Quero cumprimentar o senhor Walter Luiz Cardeal de Sousa, Presidente interino da Eletronorte,Senhor Gerson Kelman, diretor-geral da Agência Nacional de Energia,Senhor José Nonino, presidente da Linear,Senhor José Maria Barale, presidente da AlubarQuero cumprimentar a senadora Serys,Os deputados federais Carlos Abicalil, Lino Rossi, Pedro Henry, Ricarte de Freitas, Teté Bezerra,Quero cumprimentar os deputados estaduais Carlos Brito, Pedro Satélite, Ságuas Moraes, Silval Barbosa, Verinha Araújo, Zé Carlos do Pátio,Quero cumprimentar os prefeitos de Nova Bandeirantes, Valdir Mendes Barranco; Tangará da Serra, Júlio César Davoli Ladeia e de Várzea Grande, Murilo Domingos,Quero cumprimentar os empresários do setor elétrico aqui presentes.

Quero dizer ao governador Blairo Maggi que se tem uma coisa de que eu tenho consciência é o direito de reivindicar das pessoas. A primeira vez que eu participei do Ato dos Prefeitos, em março de 2003, os prefeitos levaram uma pauta de reivindicação para mim e eu dizia para os prefeitos que eu entendia perfeitamente bem que eles tinham que ter consciência, que o que eles estavam reivindicando para mim, o povo reivindicava para eles em cada vila, em cada bairro, em cada esquina em que eles parassem, portanto, é apenas uma extensão do processo.Só que o Presidente da República não tem para quem reclamar. Eu não tenho para quem pedir ou para quem jogar a culpa. A verdade, antes de fazer o meu discurso, é que o governador Blairo sabe que muitas vezes o Pacto Federativo não acontece porque a prevalência do bairrismo nas discussões com governadores é maior do que muitas vezes os interesses nacionais.

Eu tomei posse e a primeira coisa que eu fiz foi convidar os governadores para que nós pudéssemos discutir a reforma tributária e a reforma previdenciária que eram duas reformas historicamente reivindicadas no Brasil, difíceis de fazer porque precisaria ter coragem para enfrentar situações adversas. Fizemos as reformas e, agora, tem a parte pertinente aos estados, em que dois ou três estados da Federação não querem que haja reforma. Então, o Presidente da República não pode fazer mais do que a vontade de mandar para o Congresso Nacional discutir. Já foram feitas dezenas de acordos, e eles estão lá porque alguns governadores não querem. A Reforma da Previdência foi a mesma coisa. E, se tem alguém neste país que acredita no Pacto Federativo como forma de restabelecer, eu diria, a governabilidade plena dos entes federativos, sou eu. Entretanto, os interesses dos prefeitos não se coadunam com os dos governadores que, muitas vezes, divergem do Presidente, dos prefeitos das capitais, que divergem das cidades do interior, e vai por aí afora. Houve um tempo em que me fizeram a seguinte proposta: "Presidente, o senhor quer fazer uma reunião com os governadores bem-feita? Convide os governadores e os prefeitos das capitais juntos, e o senhor vai perceber que as divergências entre os prefeitos das capitais e os governadores às vezes são maiores e infinitamente maiores do que as dos governadores com o Presidente da República".

Mas eu acho que nós precisamos repensar e sempre repensar o Brasil. Agora mesmo, precisamos repensar que tipo de reforma política nós vamos fazer. Tem coisas que nós precisamos mudar, que nós sabemos que são coisas do arco-da-velha e é preciso que haja compreensão dos partidos políticos. É muito difícil você fazer alguém que está cumprindo o seu mandato, mudar a regra do jogo no meio do jogo, é muito difícil. É muito fácil falar e muito difícil executar. Qualquer reforma feita no Brasil é muito complicada. As pessoas, a priori, já são contra, sem saber os efeitos das reformas, e nós temos que entender que é assim que funciona a cabeça do ser humano, e que nós precisamos conviver com ela, tentar burilá-la, tentar reeducá-la, para que as pessoas percebam que nós precisamos de reformas mais profundas no Brasil. E ela, se depender da minha vontade, acontecerá. Agora, não depende apenas da vontade do Presidente da República, depende da vontade de muito mais gente do que do Presidente da República.

A segunda coisa que eu queria dizer, Prefeito, é que você vai ter mais do que cinco minutos comigo no avião para ver se realmente eu vou ser convencido, porque essa é uma coisa que eu tenho conversado com a Direção da Frente Nacional dos Prefeitos. É preciso que façamos uma discussão com mais profundidade, porque, hoje, imaginar que a Petrobrás pode reduzir o preço de petróleo, é humanamente impossível, porque a Petrobrás, em poucos meses, saiu de 28 dólares o barril para 65 dólares. O que eles querem é aumentar o preço do diesel, o preço da gasolina, e nós ficamos achando que não tem que aumentar, mas isso também tem limite, porque embora a Petrobrás seja uma empresa de forte presença pública, ela tem ações no mercado, portanto, ela convive com as regras do mercado e tudo o que nós não queremos é que a Petrobras seja uma empresa deficitária. Queremos que ela seja uma empresa lucrativa e motivo de orgulho para o Brasil, como ela continua sendo.

Da mesma forma que eu acho que as reivindicações para reduzir a frota de ônibus, eu acho que é preciso que a gente esmiúce o que pudermos para encontrar uma solução, porque é verdade que o governo federal pode abrir uma parte, e já fizemos uma pequena concessão quando repassamos uma parte da Cide para os municípios. Já fizemos uma pequena concessão, não era tudo o que os prefeitos queriam, mas já foi passado. As transferências de dinheiro da União para estados e municípios saíram de 50 bilhões para 70 bilhões, foram 21 bilhões a mais transferidos nesse tempo de governo, numa demonstração de que nós levamos a questão do Pacto Federativo muito a sério. Agora, é difícil você construir, em pouco tempo, coisas que foram desmontadas ao longo de tantos e tantos anos. Eu, na minha opinião, quanto mais recursos tivermos nos municípios e nos estados, melhor, principalmente se eles forem bem gerenciados porque é o prefeito, é o vereador, que estão ali mais próximos do povo, que podem encontrar com quem vai lhe cobrar diretamente. Agora, são regras que precisamos definir conjuntamente.

Para o governador ficar mais feliz aqui, Blairo, antes de descer do avião eu te avisei, tem o problema de uma obra do aeroporto de Cuiabá, que é uma coisa muito antiga, a empresa que pegou a concorrência não tinha condições de fazer, quebrou. E você sabe que tudo isso é muito trabalho, mas eu queria dar a notícia ao povo do estado e, sobretudo, ao governador e ao prefeito, que falei com o Carlos Wilson, presidente da Infraero, na hora em que desci no aeroporto, e ele garantiu, como nós liberamos um dinheiro para a Infraero ontem, que até dezembro este aeroporto, estará inaugurada a segunda parte dele.

Uma coisa importante para que vocês possam entender a razão do orgulho de eu estar aqui hoje, é porque essas licitações quando nós fomos fazer em 2003... Hoje ela está pronta, esta aí, inaugurando, tudo muito fácil. Mas, no começo, havia muita descrença. Nós tínhamos vindo de um apagão muito sério em que o sistema elétrico brasileiro estava em xeque, em alguns casos era questionado, e quando a ministra Dilma e sua equipe resolveram fazer o primeiro leilão, eu fiquei surpreso com a quantidade de empresas que compareceram. Havia muitas dúvidas, essas dúvidas foram, ao longo do tempo, dissipadas e hoje nós estamos colhendo o primeiro grande fruto de uma crença que nós tivemos no empresariado nacional e que o empresariado teve nas empresas públicas do governo, na política do governo e, portanto, nós estamos colhendo aquilo que nós plantamos.

Eu queria apenas lembrar uma coisa que aconteceu nesses 30 meses no Ministério de Minas e Energia, na área de transmissão. A expansão da oferta de linha de transmissão nos últimos 30 meses foi de 8.420 quilômetros, representando um aumento de 10 por cento na rede básica. No período, entraram em operação novos empreendimentos de transmissões, nos quais foram investidos 3 bilhões e 940 milhões. Estão em construção 61 novas linhas de transmissão que totalizam 6.283 quilômetros, sendo, para 2005, a conclusão de 15 linhas de transmissão, totalizando 606 quilômetros, no valor de 350 milhões de reais. Em 2006, a conclusão de 36 linhas de transmissão, totalizando 3.429 quilômetros, em um investimento de 2 bilhões e 600 milhões. E para 2007 tem mais 10 linhas de transmissão, totalizando 2.248 quilômetros, investimento de 2 bilhões e 200 milhões de reais. Significa que, na medida em que o governo acredita, ele passa para a sociedade, para os investidores a idéia de que pode e deve acreditar. E o resultado nós estamos colhendo com os compromissos, tanto na reativação das empresas de produção de energia quanto na linha de transmissão. Eu estou certo, estou otimista de que o Brasil não terá mais apagão. Estou certo que, se depender do investimento do governo federal, tanto na produção de energia - seja energia hídrica, seja energia aeólica, seja da biomassa - nós não teremos nenhum empresário brasileiro com medo de investir no Brasil por falta de energia, porque nós sabemos que esse é um bem fundamental para qualquer empreendimento em uma cidade e em um estado. Portanto, nós vamos cuidar da nossa parte, e os empresários, certamente, com muita energia, cuidarão da deles.

Mas eu queria fazer jus aqui ao discurso que eu vou deixar para lá, para discutir uma coisa com vocês. O Brasil é um país que, muitas vezes, não deu os passos importantes que precisaria dar, porque muitos governantes, de forma medíocre, só pensavam no seu mandato, só pensavam nos 4 anos em que dura o seu mandato. Eu quero dizer para vocês que nenhuma cidade, nenhum estado e nenhuma nação anda com a pressa que precisa andar, se este país não for pensado em projetos de 15, 20 ou 30 anos, pensado em um longo prazo, para que os degraus sejam feitos passo a passo e para que a gente possa fazer com que, uma atitude pensada hoje, não necessariamente tenha que ser colhida por nós. Tem que ser colhida pelos nossos filhos, tem que ser colhida pelos nossos netos e por aqueles que virão depois de nós.

Pelo fato de o Brasil ser pensado apenas de 4 em 4 anos, nós costumamos assistir, pelos meios de comunicação, as grandes denúncias das obras que não sofriam continuidade porque a obra era de tal governo, então entrou tal governo. Isso vale para a prefeitura, vale para o estado e vale para a União. É um prefeito que não quer fazer a obra do seu antecessor, é o governador que não quer fazer a obra do seu antecessor, era o Presidente, cada um queria deixar a sua marca. E, de marca em marca, houve tempos em que o Brasil ficou um cemitério de obras não concluídas. Aqui tem muito político que sabe do que eu estou falando. Pois bem, se nós sabemos do que estamos falando, nós precisamos ter consciência de que, para fazer o Brasil se transformar na nação competitiva que nós queremos que seja, a nação produtiva que nós queremos que seja, e a nação geradora e distribuidora de riquezas que nós queremos que seja, é preciso que façamos duas coisas. Primeiro, que tenhamos uma definição muito clara dos projetos que nós queremos priorizar. Segundo, que tenhamos clareza de que a construção deste país só poderá ser feita se as instituições estiverem funcionando, não apenas funcionando bem, mas respeitadas no exercício das suas especificidades, para que garantam o exercício da democracia em sua plenitude. Sem esses valores, tudo o mais será secundarizado no Brasil.

O que nós estamos assistindo no Brasil, hoje, primeiro do ponto de vista econômico, eu acho que todos nós podemos e temos o dever de querer mais, mais rápido, e mais riqueza. Mas o dado concreto é que nós estamos atingindo, neste momento, todos os recordes que o Brasil há muito tempo sonhava e que nunca tinha conseguido sonhar. É verdade que os plantadores de soja, que os empresários, que os criadores de gado, que os vendedores de roupa, é verdade que muitas vezes se queixam do câmbio, porque todo mundo reivindicava o câmbio flutuante. Só que as pessoas deixaram de perceber que o câmbio flutuante flutua e, se ele flutua, ele flutua para baixo ou para cima e, portanto, nós temos que ter em conta que mesmo com este câmbio, nós estamos batendo todo mês o recorde de exportação.

Nós saímos de 60 bilhões para 110 bilhões e, se Deus quiser, ainda no meio do ano que vem, iremos comemorar, chegar a 120 bilhões de dólares de exportação, o que é um saldo impensável para qualquer teórico da economia brasileira dentro das universidades, nos últimos anos. E por quê? Porque o Brasil tinha um vício. Toda vez que a gente falava em exportar matava-se o mercado interno, e toda vez que se falava em recuperar o mercado interno, matava-se a exportação. Nós estamos provando que é possível crescer o mercado interno, que é possível crescer o mercado externo, e que é possível ainda conter a inflação no mais baixo patamar dos últimos anos no país.

Tudo isso, por uma coisa simples que todos nós deveremos ter em cada gesto nosso. Responsabilidade e não brincar com coisa séria, porque toda vez que se brincou com a economia neste país, por causa da proximidade eleitoral, o resultado negativo ficou para a parte pobre da população. Vocês não pensem que neste momento de crise não há quem diga para mim: "Mas Presidente Lula, o Senado aprovou o salário mínimo de 384 reais, por que você não deixa 384 reais?" Porque quem aprovou sabia que nenhuma prefeitura poderia pagar, quem aprovou sabia que a Previdência Social não suportaria pagar, quem aprovou tinha tido tempo de aprovar porque governa o Brasil há 500 anos. Mas não aprovou.E para mostrar que eu não estou pensando nas próximas eleições, mas estou pensando nas próximas gerações, porque é nessa meninada que nós temos que pensar se quisermos fazer alguma coisa para este país, e graças a Deus a Câmara teve compreensão e mudou, porque se não mudasse eu era obrigado a vetar e vetaria sem nenhuma preocupação. E da mesma forma tem gente que fala assim para mim: "puxa vida Presidente, porque o senhor não baixa os juros logo 4%, 5%?".

As pessoas pensam que o Palocci não gostaria de fazer isso, as pessoas pensam que o Palocci é diferente de qualquer um de nós, que não gostaria de baixar. Ele gostaria, eu gostaria, todo mundo aqui gostaria, o Meirelles gostaria, por que a gente não baixa? Porque não é uma questão apenas de vontade, porque aqueles que fizeram daquilo apenas um gesto político eleitoreiro, quebraram a cara, e vocês sabem o país que nós herdamos em 2003. Não precisa contar porque vocês acompanhavam este país.

Pois bem, esses dois momentos foram importantes para mostrar o quê? Este país só vai dar certo se nós agirmos com serenidade e com seriedade. Primeiro, deixar claro à opinião pública, sempre que possível, que não haverá nenhuma denúncia com indício de prova que não seja investigada e todo mundo conhece a qualidade de investigação da Polícia Federal; todo mundo conhece a qualidade de investigação do Ministério Público e todo mundo sabe que essas coisas, quando são feitas com seriedade, são mais demoradas. Muitas vezes quando se faz apenas um carnaval, se faz muito barulho e a conclusão verdadeira demora muito para aparecer ou às vezes nem aparece.

Eu sou daqueles que acha que o povo brasileiro, sobretudo a parte mais pobre da população brasileira, está vivendo um momento em que pela primeira vez eles têm perspectiva de ver este país crescer de forma sustentável, com a inflação baixa. Portanto, esse trabalhador está tendo perspectiva de ter um ganho real na sua renda mensal e de poder participar, com muito mais força, da política e do mercado de consumo deste país.

E eu quero dizer que não jogarei fora esta oportunidade, por nada neste mundo. Não jogarei nada, nada. Tem gente, aqui no estado do Mato Grosso, eu sei que tem gente que fala "não, mas esse Presidente está com essa política do Programa Fome Zero, do Bolsa Família, isso é proselitismo, isso é esmola", eu sei que tem gente que fala assim. Lógico, o cidadão que toma café de manhã, almoça e janta todo santo dia, para ele Bolsa Família não significa nada, ele não precisa. E ainda mais se ele puder fazer uma crítica a mim, tomando uma coca-cola em um bar, um uísque ou uma cerveja. Agora, tem pessoas que, se a gente não der essa ajuda, não conseguem comer as calorias e as proteínas necessárias à vida humana. E se for uma criança de antes de 6 anos de idade, nós sabemos que essa criança poderá ter o seu cérebro atrofiado e nunca mais recuperar. E aqui, nós atingimos, este mês, 7 milhões e 600 mil famílias recebendo o Bolsa Família, e é com alegria que aqui, no estado do Mato Grosso, nós atingimos 101 mil e 251 famílias recebendo o Bolsa Família. É pouco, mas significa 73 milhões de reais por ano para ajudar a cuidar da parte pobre da população deste estado, do Brasil inteiro.

Da mesma forma o Pronaf. Vocês sabem que a agricultura familiar, até 3 ou 4 anos atrás, era um privilégio do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. O Pronaf, quando era anunciado pelo governo federal, a maioria, 80% do dinheiro era tomado pelos dois estados que tinham uma agricultura familiar mais organizada, mais cooperativa. Pois bem, e a safra de 2003, de 2002/2003, que terminou em junho, liberou 2 bilhões e 200 milhões de reais. Nessa safra agora, que terminou em julho, nós liberamos 6 bilhões e 250 milhões de reais, ou seja, são mais de três vezes o dinheiro para uma agricultura familiar que, pode não gerar a quantidade de empregos que gera a agricultura empresarial, mas certamente, ao garantir que o pequeno produtor tenha o financiamento para tocar a agricultura com a sua família, você estará assegurando, não apenas que se mantenha o posto de trabalho no campo, mas estará evitando que um homem digno possa se transformar em um paira, na periferia de uma grande cidade, vivendo de esmola ou de favor, porque não tem o emprego dele, necessário.

E é por isso, governador, que eu fico feliz, porque aqui no estado triplicou o número de contratos e o Pronaf já financiou, aqui, 108 milhões de reais, em uma demonstração de que tem mais pequenos agricultores vivendo melhor, tem mais pequenos agricultores com a certeza que não vai ficar em vão. Além disso, eu disse aos companheiros aqui, ao nosso Reitor, que se preparem porque vai ter dois campus, em Rondonópolis e em Sinop, porque nós queremos, até 2006, inaugurar 32 extensões das universidades federais, tirando das capitais e levando para o interior deste país. Já aprovamos mais 3 universidades federais novas, vamos fazer 32 escolas técnicas, porque nós estamos certos e convencidos de que o Brasil precisa aproveitar o começo deste século para se transformar, não apenas em um exportador de produtos in natura, que foi extremamente importante para o Brasil, mas para se transformar em um grande exportador de conhecimento, em um grande exportador de tecnologia, e isso só será possível com muitos investimentos na educação brasileira.

E quero me despedir de vocês, dizendo ao Governador, ao Prefeito e a todos vocês que estão aqui, que para nós este estado simboliza como poucos a força do povo brasileiro. Porque eu conheço gente que veio para cá, que ficou tempos e tempos embaixo de uma lona, às vezes com a família inteira, teve algumas malárias na vida e essa pessoa persistiu, acreditou e hoje se transformou em empresário muito importante neste estado e em outro estado da Federação.

Ora, se o povo brasileiro foi capaz de entrar aqui e fazer deste estado o estado produtor que é, se este povo teve capacidade de entrar em Rondônia e transformar Rondônia num estado, se este povo teve condições de desbravar, eu posso dizer para vocês que por mais grave que seja a crise política, o povo brasileiro saberá, com a sua paciência, com a sua maturidade, debelá-la porque se depender das ações do governo, nós iremos trabalhar para que o Brasil não conheça e não sofra retrocessos que historicamente já sofreu.

Podem ficar certos que o povo brasileiro tem consciência de que o que pode acontecer para ele daqui para frente é ele melhorar de vida. E este é papel meu, do prefeito, do governador, dos empresários aqui presentes, dos deputados, dos vereadores, ou seja, se todos nós estivermos imbuídos deste desejo, não há por que nenhum cidadão ou cidadã temer que essa crise possa lhe causar prejuízo.

Vamos aproveitar. Tem uma crise? Tem. Vamos tirar proveito para fazer o Brasil sair dela muito mais fortalecido, muito mais democrático e, quem sabe, para que o povo tenha muito mais riqueza e distribuição de renda.

Muito obrigado.

Fonte: Agência O Globo

AGÊNCIA O GLOBO
 
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