| 19/08/2005 17h21min
Aconteceu o que o mercado financeiro mais temia. Uma denúncia de propina envolvendo o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, trouxe grande nervosismo aos investidores e levou o dólar a fechar em alta de 2,94%, cotado a R$ 2,448 na compra e R$ 2,450 na venda. Foi a maior alta diária desde o final de maio de 2004. No acumulado da semana, a valorização do dólar foi de 3,20%.
O clima no final dos negócios era de grande incerteza quanto aos próximos desdobramentos da crise. A dúvida é se os fundamentos econômicos positivos vão continuar a prevalecer sobre as turbulências do cenário político. Com a queda dos títulos da dívida externa, o risco-país brasileiro fechou em 419 pontos centesimais, com alta de 3,46%.
– É difícil afirmar qualquer coisa neste momento e o mercado terá de esperar para ver quais são os próximos desdobramentos. O que se sabe é que os fundamentos econômicos estão muito positivos e não justificariam um comportamento negativo do mercado – afirma Alexandre Sant'Anna, analista da ARX Capital Management.
A notícia-bomba foi dada pelo promotor Sebastião Sérgio de Silveira, durante o depoimento do advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro Palocci na época em que ele era prefeito de Ribeirão Preto. Segundo o depoimento de Buratti, Palocci receberia propina de R$ 50 mil mensais da empresa Leão & Leão, em troca da manutenção do contrato de coleta de lixo. Os recursos seria repassados ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que os destinava ao financiamento de campanhas eleitorais.
As informações abalaram o mercado e geraram uma piora brusca em todos os ativos. O dólar chegou a subir 4,33% nos piores momentos, mas atraiu muitos vendedores, que aproveitaram a ótima chance de lucrar com a volatilidade. Entre as especulações dos operadores estiveram os nomes de possíveis substitutos de Palocci.
– O mercado reage com estresse porque é muito emocional, mas essas denúncias ainda precisam se confirmar – afirma Jason Freitas Vieira, economista da consultoria GRC Visão, ressaltando que nesses momentos acontecem perdas irreversíveis.
Segundo o economista, os próximos passos do mercado dependerão da reflexão a ser feita daqui em diante. Toda a pressão poderá arrefecer, se em um segundo momento se perceber que as denúncias não tiverem consistência e não puderem se sustentar. Mas também há grandes chances de o cenário realmente se deteriorar, se a conclusão for contrária.
As projeções dos juros negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) fecharam com forte alta, como reflexo do estresse dos mercados com a aparente deterioração do cenário político.
– O nervosismo gerado pelas denúncias contra o ministro Antônio Palocci fez o mercado de juros se preparar para a possibilidade de os juros não começarem a cair em setembro. Para piorar, houve alta do petróleo e reajuste de preços do gás – afirmou um experiente profissional de uma corretora paulista.
O Depósito Interfinanceiro (DI) de outubro fechou com taxa de 19,66% ao ano, contra 19,62% do fechamento de quinta-feira. O DI de janeiro de 2006 terminou o dia com taxa de 19,28% anuais, frente aos 19,12% anteriores. A taxa do DI de janeiro de 2007, o mais negociado, disparou de 17,95% para 18,50% anuais.
A taxa Selic foi mantida estável nesta semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom). A taxa básica continuará em 19,75% ao ano pelo menos até meados de setembro.
Grupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.