| 02/08/2005 18h59min
O momento mais esperado do depoimento do ex-ministro da Casa Civil e deputado federal José Dirceu (PT-SP) no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados não decepcionou os espectadores. Em sua manifestação, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), estopim da crise política, acusou Dirceu de mentir. O ex-ministro disse que quem mente é Jefferson.
Diante de Dirceu, Jefferson repetiu histórias como a da negociação conduzida pelo petista com a Portugal Telecom para viabilizar um acordo que pusesse em dia as contas do PT e do PTB.
O petebista disse que tratava com Dirceu de “assuntos republicanos e não republicanos” na ante-sala de Lula. Também repetiu ter tratado com Dirceu sobre Furnas no gabinete do presidente.
– Eu creio, senhor deputado José Dirceu, que o momento nacional não comporta mais atitudes escapistas e falsas – disse Jefferson, encarando o ex-ministro.
O deputado do PTB emendou, depois:
– Não falseie mais, abra mão de ser professor dessa escola de mentiras do Delúbio, do Marcos Valério, do Sílvio Pereira. Cada sessão é um depoimento. Eu, não. Eu não claudico, titubeio ou falseio, mesmo em prejuízo pessoal.
Jefferson voltou a afirmar categoricamente que Dirceu tem ligação direta com a corrupção no PT, alegando que o ex-ministro era o braço do partido no governo Lula. Ele manteve, porém, a estratégia de defender a inocência do presidente:
– Lula não merecia o que Dirceu fez com ele na Casa Civil, não merecia o que a cúpula do PT fez com ele. Foi o maior tráfico de influência, a maior corrupção pública, a maior corrupção política de um partido. O PT não poderia agir sozinho se não tivesse um braço no governo. Volto a afirmar que, infelizmente, esse braço é Vossa Excelência.
Entre outras declarações de impacto, Jefferson admitiu que sente uma grande satisfação em enfrentar o deputado José Dirceu (PT-SP):
– Vossa Excelência amendronta as pessoas. Muitos temem esse enfrentamento com Vossa Excelência, mas eu não. Eu não. Pelo contrário, ele gera em mim uma grande satisfação.
O petebista disse ainda que o ex-ministro provoca nele seus “instintos mais primitivos”.
– Tenho medo das conseqüências – ironizou Jefferson, que se referiu várias vezes ao ex-ministro como “o inocente deputado”.
Respondendo às acusações de Jefferson, que o encarava fixamente o tempo todo, Dirceu disse nunca ter tido qualquer relação com a Portugal Telecom, nem administrativa, nem funcional.
– É mais uma denúncia que ele traz, de tempos em tempos, e procura me envolver. É mais uma mentira – garantiu Dirceu.
O ex-ministro afirmou que não está sendo indiciado, e sequer citado em investigações, ao passo que o deputado Roberto Jefferson é acusado de corrupção, listando os vários órgãos que figuram nos noticiários como focos de corrupção:
– Ele quer fazer crer que há uma conspiração montada. O senhor aparece nos Correios, em Furnas, eu quero que o senhor diga onde eu apareço, que o país faça o julgamento.
Ao fim de sua réplica, Dirceu pediu ao presidente da CPI que a denúncia envolvendo a Portugal Telecom fosse investigada. O presidente do Conselho, Ricardo Izar (PTB/SP), disse que vai solicitar que o deputado Roberto Jefferson informe por escrito o nome dos supostos emissários do PT e do PTB citados nas denúncias que fez, envolvendo Dirceu e a Portugal Telecom. O deputado Chico Alencar (PT-RJ) solicitou urgência na resposta.
Dirceu arrancou risos e vaias da platéia de parlamentares ao tentar criticar a atitude de Jefferson.
– O senhor me acusa de ser arrogante mas o senhor exerce aqui uma satisfação e uma arrogância... Eu nunca fui arrogante, quando fui ministro – disse.
A manifestação foi imediatamente seguida por um zunzunzum entre os presentes à sala do conselho. Como reação, Dirceu dirigiu-se diretamente à deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), afirmando que ela não o tratava assim quando os dois eram colegas de faculdade.
Com informações da Agência O Globo.
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