| 30/07/2005 11h27min
A revista Veja desta semana, em sua matéria de capa, aponta que um assessor do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu teria recebido uma autorização para sacar dinheiro das contas do publicitário Marcos Valério. O nome de Roberto Marques, conhecido como "Bob", consta em um documento, apreendido pela Polícia Federal na agência do Banco Rural em Belo Horizonte.
Bob nega que tenha feito o saque e acha que foi "tudo armação" para prejudicar o ex-ministro num momento em que a sua convocação para depor na CPI. Dirceu estará na Comissão de Ética da Câmara nesta terça.
O material apreendido é um fax com papel timbrado do Banco Rural. Um funcionário da agência mineira encaminha ao colega da Avenida Paulista uma autorização para o "sr. Roberto Marques receber a quantia de 50 mil, referente ao cheque 414270, da empresa SMPB Comunicação". De acordo com a revista, a descoberta surpreendeu a bancada petista na CPI dos Correios.
Dirceu diz que tudo indica tratar-se de uma "plantação" para prejudicá-lo. A convocação do ex-ministro para a CPI deverá ser aprovada nesta semana.
O saque teria sido feito no dia seguinte por Luiz Carlos Mazano, contador da corretora Bonus-Banval, que estava autorizado a realizá-lo assim como Roberto. A corretora informou que realmente tem um funcionário com esse nome, mas que o saque teria sido feito por um homônimo.
O nome de Mazano e a corretora já foram envolvidos na CPI dos Correios. Em nome da Bonus-Banval, o funcionário Benoni Nascimento de Moura fez um saque de R$ 225 mil. Sobre esse saque, a Bonus-Banval diz que ainda está fazendo uma auditoria para descobrir se houve alguma irregularidade cometida pelo funcionário Benoni.
Quanto a Roberto Marques, a corretora disse que não conhece e nunca ouviu falar no nome do ajudante de José Dirceu. Até o final do ano passado, essa corretora empregou como estagiária Michele Janene, filha do deputado José Janene (PP-PR),
suspeito de ser um dos operadores do
"mensalão". Ontem, em depoimento na PF, o assessor de Janene, João Claudio Genu, confirmou que recebeu malas de dinheiro do esquema de Marcos Valério para distribuir a deputados do PP, inclusive Janene, Pedro Correa (PE) e Pedro Henriy (MT).
Ao ser procurado pela revista para falar sobre o saque, Roberto Marques teria dito que nunca esteve no Banco Rural, não sacou o dinheiro e acha que seu nome foi usado indevidamente.
– Só em São Paulo existem 5000 pessoas com o mesmo nome. Pode ser então uma armação para complicar a vida do Zé Dirceu – disse Bob Marques, segundo a Veja.
Bob é um ajudante geral de José Dirceu. Ele é funcionário da Assembléia Legislativa de São Paulo, mas serve ao ex-ministro como uma espécie de "pau para toda a obra". Ele acompanha o ex-ministro emviagens, carrega suas malas, marca seus compromissos em agenda e até já representou Dirceu em eventos oficiais quando ele era ministro.
– Sou amigo do Zé há 20 anos. Faço companhia a ele nos fins de semana e ajudo no que for possível – disse Bob Marques à revista, voltando a negar que dinheiro de Valério nunca sacou.
Ouvido pela Veja, o deputado Carlos Abicalil (PT-MT), membro da CPI dos Correios, confirma que o Roberto Marques autorizado a sacar os R$ 50 mil no Banco Rural é mesmo o assessor de José Dirceu. Abicalil confirma que foi procurado pelo próprio bob Marques, na semana retrasada, para tentar esclarecer o aparamento de seu nome nos documentos do Banco Rural. De acordo com o deputado, o assessor de José Dirceu repassou o número de sua identidade e de seu CPF à CPI e o resultado da pesquisa é que o número do RG conferia e que só nãoconferia o saque.
Segundo a revista, Dirceu sabia que o documento com o nome de seu auxiliar apareceria mais cedo ou mais tarde. Bob Marques já teria também conversado com o deputado sobre o assunto bem antes de o documento aparecer na CPI. Dirceu chegou a procurar o presidente da CPI, senador Delcidio Amaral (PT-MS) para falar sobre o assunto.
Delcidio chegou a ir à casa de Dirceu na terça passada. Os dois tiveram uma conversa difícil, segundo a revista apurou. O ex-ministro teria proposto a Delcidio que a CPI não o convocasse para depor, em troca de não se chamar o presidente do PSDB, Eduardo Azeredo. Delcidio teria desconversado. Parlamentares dizem que Dirceu chegou a propor em "sumir" com a autorização de saque para Bob, argumentando que era um papel avulso sem valor jurídico.
As informações são da agência O Globo.
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