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 | 01/12/2007 20h23min

Mano Menezes: foram dois anos e meio sem crises no vestiário

Técnico fala sobre a saída do Grêmio e projeta o seu futuro

Leandro Behs  |  leandro.behs@zerohora.com.br

Depois de conquistar o Grêmio, Mano Menezes agora quer ganhar o mundo. Neste domingo, contra o Corinthians, o namoro de três temporadas entre técnico e time chegará ao fim. Com Mano, o Grêmio foi da Batalha dos Aflitos à surpreendente final da Libertadores contra o Boca Juniors. Entre esses extremos, dois títulos estaduais.

Com uma frieza que em nada lembra a imagem daquele técnico sangüíneo à beira do gramado, Mano projeta o futuro. Aos 45 anos, deseja um maior reconhecimento no centro do país e projeta treinar na Europa.

Na sexta-feira, antes do treino da manhã, seu último trabalho tático no Grêmio, o técnico recebeu Zero Hora para um balanço de sua passagem pelo Olímpico. Antes da entrevista, agendada para as 8h40min, cumpriu um ritual. Fez a barba no vestiário, e vestiu uniforme de treino: boné, camiseta do clube, calção e tênis.

Zero Hora — O que mudou no Mano Menezes em três temporadas de Grêmio?

Mano Menezes — Mudei muito. Disputei jogos com pressão e dificuldades extremas. Isso dá muita vivência. Enfrentando dificuldades maiores você é obrigado a encontrar soluções para os problemas e acaba adquirindo experiência.

ZH — O zagueiro William disse que você deixa no Grêmio a "marca" Mano. O que significa isso?

Mano — Que acredito em trabalho com disciplina, lealdade e comprometimento. Foram dois anos e sete meses sem crise de vestiário. Isso é difícil de se conseguir.

ZH — Por falar em vestiário: você não pegou pesado com Tcheco ao criticá-lo publicamente em três ocasiões?

Mano — Tudo sempre foi bem compreendido entre nós. O último momento de se trabalhar uma questão é em público. Antes de chegar a esse ponto houve outras situações parecidas, e que a imprensa não teve conhecimento. As manifestações do Tcheco foram públicas, por isso, exigiram respostas públicas. É claro que isso não foi o ideal, mas teve efeito positivo.

ZH — Por que deixar o Grêmio?

Mano — Um técnico precisa seguir produzindo resultados, principalmente alguém que está chegando aos clubes grandes. E resultado requer maior investimento. Até mesmo alteração de rumos, com novos desafios em um novo ambiente. É bom mudar de tempos em tempos. Se eu tivesse feito no Rio ou em São Paulo a campanha que fiz no Grêmio, a repercussão do trabalho teria sido muito maior.

ZH — Você já se sente capaz de dirigir um grupo de estrelas?

Mano — Sei compartilhar com os jogadores o espaço de cada um. Acho que não terei problemas com jogadores renomados.

ZH — Europa e Seleção Brasileira fazem parte do seu projeto?

Mano — A Europa ainda é um desafio a ser superado pelos técnicos de grandes clubes brasileiros. O Wanderley Luxemburgo não teve uma passagem tão boa no Real Madrid, e houve retrocesso na confiança em escolher técnicos brasileiros na Europa. Assim que tiver uma oportunidade tentarei ir para lá. Já a Seleção deve estar nos objetivos de qualquer técnico de clube grande. Mas não durmo e acordo pensando nisso.

ZH — Como você anunciou a sua saída para o grupo?

Mano — Com a clareza de sempre. Disse que não havia mais nada a pedir a eles além de comprometimento com o clube para um último jogo.

ZH — O que fica no Grêmio após a Era Mano?

Mano — Que é possível fazer um time competitivo com poucos recursos e bastante organização. O Grêmio vai seguir com essa realidade de investimentos nos próximos anos, mas também com a necessidade de resultados em alto nível.

ZH — Como você imagina a sua despedida no domingo?

Mano — Tenho uma relação muito boa com a torcida. Será emocionante conduzir o time nesta passagem.

ZH — Qual a sua opinião sobre o trabalho de Vagner Mancini?

Mano — Acompanhei-o no Paulista. Foi um trabalho de longo prazo, e aquela amostra foi boa. É um dos grandes técnicos no Brasil.

ZH — Você seguirá realizando treinos fechados?

Mano — Isso é novo no Brasil, mas, na Europa, as equipes trabalham com privacidade. É para dar maior tranqüilidade aos jogadores e preparar coisas diferentes para os adversários. Os europeus produzem mudança na equipe de jogo para jogo. É claro que gerou descontentamento na imprensa. Ainda vou analisar se valerá a pena no próximo clube.

ZH — Mas se você sonha com a Seleção, terá que aceitar os treinos abertos e televisionados...

Mano — Esse é o outro extremo. Hoje, comentaristas renomados comentam até alongamento. É a banalização do futebol. O torcedor precisa ver algo diferente no domingo. Coisas desse tipo já se voltaram contra a Seleção na última Copa do Mundo.

ZH — Você teria feito melhor campanha no Brasileirão se tivesse recebido melhores reforços?

Mano — Não sei. Perdemos Carlos Eduardo, Lúcio e Lucas. É preciso conviver com isso. Não reclamei das contratações que fizemos, apenas não conseguimos repor posições nas quais perdemos gente importante.

ZH — Seu futuro está definido?

Mano — Não. Só buscarei o acerto com o meu próximo clube na semana que vem. Há muitos clubes e técnicos envolvidos na disputa. Respeito a todos e exijo o mesmo respeito.

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