| 07/03/2002 07h36min
Avisado pelo vice-presidente Marco Maciel (PFL) e pelo secretário-geral da Presidência, Arthur Virgílio (PSDB), da gravidade da situação, o presidente Fernando Henrique Cardoso antecipou nessa quarta-feira, dia 6, sua volta do Panamá. FH tentará debelar a mais difícil crise política de seu governo, iniciada com a rebelião do PFL. Para garantir a governabilidade, uma parcela do PFL e parlamentares do PSDB defendiam a antecipação da reforma ministerial, inevitável a partir do dia 6 de abril com a saída dos políticos que vão se candidatar.
Pela proposta, o ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, alvo maior dos ataques pefelistas, seria mantido, mas, desconfortável com a exoneração de seus pares, teria espaço aberto para pedir demissão. A idéia, porém, fomentaria uma rebelião no PSDB, que correu para abortar a operação. FH chega hoje e tomará sua decisão. Mas a antecipação da reforma sequer está descartada, porque nem foi cogitada pelo presidente, disse o ministro das Comunicações, Pimenta da Veiga.
O PSDB se recusou a admitir a possibilidade de demissão coletiva sob a alegação de que garantiria uma vitória ao PFL: a entrega da cabeça de Aloysio. Negando que a hipótese tivesse qualquer fundamento, os tucanos também argumentaram que a medida arranharia a imagem de FH. Segundo eles, seria reconhecer que o governo pune quem investiga seus aliados.
– Aloysio é ministro do PSDB. Tem a nossa confiança. Conta também com a confiança do presidente. Mas é do PSDB – reagiu o presidente nacional do partido, José Aníbal (SP), rechaçando a idéia.
Com a operação bombardeada, FH não terá outra alternativa senão investir no racha do PFL, com o uso dos cargos do segundo escalão como instrumento de sedução dos pefelistas. Segundo tucanos e até pefelistas, o presidente poderá manter fatia expressiva do PFL a seu lado caso deixe os cargos de segundo e terceiro escalões nas mãos de parlamentares do partido. O PFL entregaria os cargos ao presidente, que, no entanto, retardaria ao máximo qualquer demissão. Tudo dependerá, porém, do tom dos discursos quando deverá ser anunciado o rompimento do PFL com o governo.
– Fernando Henrique espera que o PFL tome uma atitude serena. O presidente, em nenhum momento, perderá as rédeas do poder – avisou Arthur Virgílio.
Do Panamá, o presidente discutiu com aliados a hipótese de antecipação da reforma. Mas foi convencido por tucanos de que isso poderia azedar ainda mais as relações na base. O ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, por exemplo, foi um dos primeiros a protestar.
– Que história é essa de antecipação de reforma ministerial?
Mesmo assustados com as ameaças do PFL – “Serra será o alvo”, ouviram caciques tucanos –, os líderes do PSDB fincaram o pé. Além disso, o comando do PFL tentou minimizar os efeitos da antecipação da reforma. Embora neguem que a proposta tenha sido cogitada, os tucanos consultaram os pefelistas. Ouviram, como resposta, que a idéia nascera tarde demais. Os pefelistas também acusaram os tucanos de alimentar a crise com provocações, como as insinuações de que o partido não largaria mão de seus cargos.
Atônito em meio à crise, o comando do PSDB se dedicava a dois trabalhos: afagar os pefelistas e controlar seus parlamentares, irritados com a estratégia do PFL de responsabilizar o partido pelo rompimento. O PSDB também cobrava sensatez da governadora Roseana Sarney, pivô da crise.
– Ninguém vai praticar a hipocrisia de dizer que a crise não é séria. A governadora está magoada. Mas tenho a esperança de que Roseana, tenha a sensatez, a maturidade e o equilíbrio de alguém com a experiência dela – disse o líder do PSDB no Senado, Geraldo Mello (RN).
No fim do dia, os governistas já davam como inevitável a saída do PFL. E estudavam estratégias para garantir a governabilidade e a aprovação de projetos de interesse do governo no Congresso:
– Fernando Henrique vai tentar até a 26ª hora evitar a saída dos pefelistas. Mas não pode fazer o impossível – disse Aníbal.
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