| 30/11/2005 15h04min
O Brasil deve recusar as ofertas que lhe têm sido feitas no âmbito das negociações na Organização Mundial do Comércio, sob pena de comprometer o desenvolvimento do país. A avaliação é do diplomata brasileiro aposentado Rubens Ricupero, especialista em comércio internacional.
Na terceira semana de dezembro acontece em Hong Kong a 6ª reunião ministerial da atual rodada de negociações na OMC.
– No momento atual, é melhor não ter nenhum acordo do que um mau acordo. O governo brasileiro deveria se manter firme – disse Ricupero,
O posicionamento do Brasil tem sido considerado como fundamental na conclusão das negociações da chamada Rodada de Doha (em alusão à capital do Catar, onde a rodada se iniciou, quatro anos atrás), dada a posição que o país assumiu na articulação do G-20 – grupo de grandes países em desenvolvimento que, desde 2003, unificaram uma proposta em torno da liberalização do comércio agrícola internacional.
Para Ricupero, aceitar as pequenas concessões que têm sido propostas pelos países desenvolvidos em relação aos produtos agrícolas, tendo em troca de abrir mão da proteção a setores importantes de nossa indústria, "é um pouco trocar o nosso futuro (de país que pode passar a exportar produtos com maior valor agregado e mais tecnologia) pelo nosso passado (como exportador de commodities agrícolas)".
O ex-secretário geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad) e atualmente professor na Fundação Armando Alvares Penteado, em São Paulo, diz que, pela proposta atual, setores como a indústria automobilística e de eletroeletrônicos ficariam ameaçados, pois haveria corte de cerca de 50% nas tarifas de importação. Ele adverte que, apesar de as propostas serem insignificantes, "isso vai ser embrulhado com uma propaganda tal que vai se criar uma impressão de que quem recusar é porque vai assumir o ônus de enfraquecer o sistema mundial de comércio".
– O que se vai conseguir em agricultura é muito pouco, e por outro lado não vale a pena trocar setores dinâmicos, de alta tecnologia, por uma possibilidade apenas de aumentar nossa exportação de commodities – diz ele.
O diplomata avalia também que a reunião em Hong Kong será apenas um "anticlímax", porque a maioria dos atores importantes nas negociações já adiantou em Genebra (Suíça), no início de novembro, as posições que deve defender no encontro.
– Já de público, os protagonistas principais se resignaram a baixar o nível de ambição, portanto não se justifica mais ninguém esperar grande coisa da reunião – diz ele.
Para Ricupero, o que pode resultar da reunião é principalmente uma retomada dos esforços de negociação, para que haja novas tentativas no primeiro semestre de 2006. Mas, adverte ele, corre-se o risco de se ver repetir o "logro" que se viu em rodadas anteriores de negociação na OMC, beneficiando-se realmente dos acordos apenas os países desenvolvidos.
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