| 27/11/2008 05h42min
Na ensolarada tarde de ontem, o tenente aviador Marcelo Browne, 29 anos, da Força Aérea Brasileira (FAB), posicionou o C-105 Amazonas, um avião de transporte de tropa e cargas, na pista da Base Aérea de Canoas, na Região Metropolitana. A bordo, com cinco toneladas de material de limpeza, 11 tripulantes iniciavam um vôo de uma hora e 15 minutos até o centro da devastação em Santa Catarina, o aeroporto da cidade de Navegantes.
Assim começa a história do quinto vôo da Ponte Aérea da Solidariedade, como é chamada extra-oficialmente. Do início na terça-feira e até a tarde de ontem, já havia sido transportado 42 toneladas – 90% de alimentos – destinadas aos flagelados.
A carga é entregue na Base Aérea pelos caminhões da Defesa Civil do Estado
e carregada nos aviões cargueiros da FAB pelos tripulantes. Ontem,
em Navegantes, de onde está coordenando a comunicação social da Aeronáutica, o major aviador Roberto Martire, planejava:
– A nossa intenção é, ainda hoje (ontem), fazer mais dois vôos trazendo víveres do Rio Grande o Sul para Santa Catarina.
Durante o vôo, a tripulação usou tampões nos ouvidos para suportar o ruído intenso dos dois motores turbo hélice. A uma altura média de 4 mil metros, com velocidade de 440 km/h, a aeronave gastou 830 litros de querosene de aviação.
A carga ocupou mais de 95% do espaço do cargueiro (2m30cm de largura por 1m70cm de altura e 12m4cm de cumprimento). O sargento Welber Porto, 39 anos, um dos mais calejados em missões de ajuda humanitária da FAB, disse que jamais havia visto um quadro tão aterrador. Da janela do Amazonas, ele sentenciou ao aterrissar em Navegantes.
– Parece que o aeroporto é o único pedaço de terra seca lá embaixo.
Não era o único, mas um dos poucos que
restaram, comentou o co-piloto da aeronave, o tenente aviador
Devilan Paulon Dutra Júnior, 30 anos.
De maneira geral, o quinto vôo foi sereno até os últimos 15 minutos, quando o Amazonas sobrevoou a região de Navegantes. O tempo mudou. Espessas nuvens e vento forte tornaram tenso os últimos instantes do vôo. Havia ameaça de fechar o aeroporto.
Depois de uma manobra, reduzindo a velocidade, a aeronave pousou. O movimento em terra era intenso. De Normalmente, são 12 pousos e decolagens diários. Ontem, foram 600. A maior parte deles feitas pelos 15 helicópteros com mantimentos.
Há um contigente de 250 voluntários no local. Davi Costa, 40 anos, funcionário público, é um deles. Ele retira a carga dos aviões da FAB e coloca em um caminhão, que as leva até um depósito. Lá, os alimentos são classificados e levados para os helicópteros, que os transportam até os flagelados.
– É tudo muito rápido. Os pacotes entram por uma porta e saem pela outra em menos de uma hora – afirma o funcionário público.
O avião foi descarregado em uma hora.
Houve atraso devido à chuva e à presença no aeroporto de um visitante ilustre, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
No final da tarde, o Amazonas voltou a Canoas. Na viagem, a tripulação distribuiu o que chamam de “biscoitos mais viajados do mundo”. Ao aterrissar, já estavam nas pistas da base aérea duas carretas de doações. O sexto vôo da Ponte Aérea da Solidariedade sairia no início da noite.
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