| 19/09/2008 04h29min
O visionário Bill Gates pendurou as chuteiras na Microsoft. Mas não nos negócios. O bilionário americano sonha agora investir no futebol: quer comprar o Newcastle, um dos times mais tradicionais da Inglaterra, criado em 1881. Se fechar o negócio, será o nono clube controlado por estrangeiros entre os 20 da Premier League, a primeira divisão deles. Situação que já incomoda a Fifa.
Fundador da Microsoft, a maior empresa de softwares do mundo, Gates está disposto a pagar pelo menos US$ 90 milhões pelo Newcastle. Não é pouco: são equivalentes a cerca de R$ 162 milhões.
O Newcastle, aliás, já tem dono. A partir da remodelação do futebol inglês, em 1992, os clubes lançaram ações na bolsa de valores e se transformaram em empresas. Mike Ashley comprou o Newcastle e já admite vendê-lo. Fará leilão. Há outros quatro compradores em potencial, entre eles um bilionário chinês e um grupo de investidores dos Emirados Árabes, o Dubai Investiment Capital.
O interesse
de Dubai retrata bem a nova
realidade, a de mercantilização. O grupo voltou os olhos para o Newcastle em resposta à recente compra do Manchester City por vizinhos de Abu Dhabi, outro emirado. No caso do City, é a segunda venda em um ano — pertencia ao ex-primeiro-ministro da Tailândia, Thaksin Sinawatra.
A primeira providência do novo dono do City, um conglomerado petrolífero cujo capital beira US$ 1 trilhão, foi contratar Robinho ao Real Madrid. Sulaiman Al-Fahim, o chefão, insinua oferta superior a US$ 200 milhões por Cristiano Ronaldo, a estrela do Manchester United.
O cerco ao craque português sinaliza uma reação em cadeia: antes da compra do Chelsea pelo russo Roman Abramovich, em 2003, só o tradicional Fulham, de Londres, estava em mãos estrangeiras. A partir daí, aconteceu o mesmo com clubes do nível de Manchester United e Liverpool.
Manda-chuvas como Ashley sofrem pressão da torcida para investir mais diante da pujança dos adversários. Mas há quem elogie: o músico
Noel Gallagher, do grupo Oasis,
comemorou o negócio do City tripudiando com os rivais da cidade:
— É bom saber que cada litro de gasolina comprado por torcedores do Manchester United vai para o nosso bolso — disse em entrevista à rede BBC, referindo-se aos negócios com petróleo dos acionistas do City.
Técnico Arsène Wenger condena interferência dos novos donos
Nem sempre, porém, a reação é favorável. Em 2005, fãs do Manchester United protestaram contra a venda a um americano e criaram um time alternativo, nanico, para “recuperar a essência” do futebol.
No City, há quem tema pela descaracterização. E técnicos como Arsène Wenger, do Arsenal, reclamam da interferência dos cartolas, que por vezes contratam por vaidade.
— Futebol não é supermercado — protestou Wenger.
Os magnatas, porém, pensam assim. Um especialista em finanças esportivas afirmou à BBC que os investidores apostam em
crescimento acelerado do futebol nos próximos anos, especialmente no mercado chinês. Como são
homens de negócio, farão uso de sua experiência para alavancar os lucros. Normalmente começam aumentando preço dos ingressos, como no United.
Na contramão, vêm os dirigentes. A FA, federação inglesa, mostra iniciativa tímida para coibir compradores cujo dinheiro tem origem obscura – caso de parte dos atuais donos. Presidente da Uefa, o ex-craque francês Michel Platini sustenta que o modelo levará o futebol à falência.
Mas a Fifa fala ainda mais grosso, como declarou o presidente Joseph Blatter:
— Donos estrangeiros levam os clubes para longe dos fãs. Se não interrompermos isso, haverá danos.
Após pendurar as chuteiras na Microsoft, Bill Gates quer seu próprio time de futebol
Foto:
Alessandro Della Valle, EFE
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