| 21/06/2008 18h28min
Em meio às férias no Rio, o carioca Marcos Paquetá, 50 anos, recebeu a notícia que teve jeito de presente árabe: seu clube, o Al-Gharafa, acabara de fechar a contratação do atacante Fernandão, do Inter. "Terei um ataque dos sonhos", vibrou Paquetá, ao lembrar que Fernandão jogará ao lado de Araújo, seu antigo companheiro de Goiás, recordista de gols no futebol do Catar.
Pai de uma menina de 10 anos, que estuda em uma escola britânica de Doha, e de uma de 21 anos, que está se formando em marketing, técnico de futebol desde os anos 80, com uma carreira já consolidada no mundo árabe, Paquetá encerra suas férias dia 15 de julho. A partir daí, vai cuidar de seu ataque dos sonhos, como explica nesta entrevista por telefone, em meio ao descanso no Rio.
Confira a entrevista:
Zero Hora — A indicação do Fernandão foi sua?
Marcos Paquetá — Eu
tinha três atacantes na lista. Fernandão era a preferência pelo fato de ter jogado com
Araújo (goleador do Al-Gharafa). Eu precisava de um líder e ele tem este perfil. Era capitão no Inter, tinha larga experiência, poderia nos ajudar em campo e fora. Achei difícil no início, mas o clube trabalhou bem. Eles conheciam o Fernandão do Mundial, do torneio de Dubai, mas era só. Mostrei a eles que era um bom jogador.
ZH — Há limite para estrangeiros no time?
Paquetá — Sim, podemos contratar quatro, mais dois dos países da região. O resto é local. Temos o Araújo, mais um de Gana, do Marrocos e até um meia (Nashat), do Iraque, que interessa ao Chelsea.
ZH — Por que você fala em ataque de sonho?
Paquetá — Pelo seguinte: o Araújo, que foi companheiro do Fernandão no Goiás, já bateu o recorde de gols do Batistuta (argentino). Fez 27 gols só na Liga. Na temporada, são mais de 35. Perdemos o companheiro dele, que
será vendido. O Fernandão é mais completo. Além de jogar na área, atua de meia e faz gols.
ZH — Como é o campeonato?
Paquetá — São 12 equipes e uma disputa em três turnos. São times fortes, que contratam bons jogadores. Estão lá o Felipe (ex-Vasco), um dos clubes contratou o chileno Zamorano, os irmãos Boer (holandeses) participaram do campeonato. Há jogadores ingleses, franceses. É uma competição muito equilibrada.
ZH — E as torcidas?
Paquetá — O público não costuma ser muito grande, até porque todos os jogos passam na TV. Ele só vai mesmo nas partidas finais. Nossa torcida é a terceira do país. No mais, é igual à de outros países. Vibra, se apaixona. Todos os clubes têm boa estrutura, o governo garante apoio. Temos um estádio, dois ginásios, campos de treinamento, área exclusiva para amadores, é uma estrutura gigantesca.
ZH — Como as equipes driblam
o calor?
Paquetá — Sobe muito de julho a outubro. Neste período, treinamos à noite.
ZH — São muitos brasileiros no seu time?
Paquetá — A equipe é integrada por mim, o Josué Teixeira (ex-Flu), mais dois na preparação e na fisiologia, um treinador de goleiros, todos ajudados por um intérprete, um marroquino que fala cinco idiomas.
ZH — Como vocês passam o tempo livre?
Paquetá — A colônia de brasileiros em Doha é grande. Além do pessoal do futebol, há ex-funcionários da Varig que foram empregados pela Catar Airways. Muitos de nós levam as crianças para a escola pela manhã, freqüentam academias, vamos à praia, que é muito boa, nos cruzamos a todo momento, até porque todos costumam ir aos mesmos lugares. É um país mais aberto, diferente do tempo em que trabalhei na Arábia Saudita. As mulheres têm liberdade, podem dirigir, não são vigiadas. Nas
sextas-feiras, organizamos um joguinho de futebol que, aos poucos, começa a chamar atenção. Até mexicanos têm aparecido
para as peladas.
ZH — Agora, Eduardo Silva, ex-preparador físico do Inter, está indo os Emirados. A região está virando um novo mercado?
Paquetá — Sim, é uma tendência. Há alguns anos, eles trocaram os brasileiros pelos europeus. Aí, o futebol caiu. Eles então voltaram aos brasileiros. Há mais de 20 por aqui, inclusive na seleção de base e nas equipes de futsal. Estão investindo forte.
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