| 03/06/2008 05h07min
Para efeito externo, o discurso segue monocórdico. Abel Braga saiu para os Emirados Árabes e restou um sentimento de perda do amigo dos jogadores. Mas essa não é toda a história.
Abel sofria com o desgaste no vestiário. Sobretudo com os garotos das categorias de base, que não tinham chance mesmo que arrasassem nos treinos. Ontem, na despedida do técnico, dois episódios deixaram isso bem claro. À certa altura, um funcionário brincou com Adriano, atacante escalado na lateral-direita contra o Sport, no sábado.
— Fala, meu lateral!
— Está louco. Me põe cinco minutos, mas me põe na minha, meu! — devolveu Adriano.
Não foi só a molecada — Taison, Guto e o centroavante Walter estão neste grupo — que sentiu desconforto. O episódio da saída também provocou um mal estar na direção.
Há pelo menos duas semanas o técnico já comentava com amigos sobre a proposta do Al-Jazira. Esmiuçava até detalhes do prazo de 10
meses. Foi assim também com o jornalista e colunista de ZH
Ruy Carlos Ostermann, ao final de uma edição do programa Bem, Amigos, do canal Sportv. Aos poucos, o segredo chegou até os jogadores.
Dias antes de o Inter enfrentar o Sport, na Ilha do Retiro, o empresário Jorge Machado aos Emirados Árabes tratava da transferência de Abel. Enquanto o Inter decidia o futuro na Copa do Brasil, o mundo árabe já fazia parte do projeto do treinador. Ontem, questionado se conhecia as negociações adiantadas de Abel com o Al-Jazira, Giovani não moveu um músculo da face.
— Não. Só no domingo à tarde — respondeu Luigi.
Na despedida de Abel Braga dentro do vestiário, os líderes do Beira-Rio — Fernandão, Clemer, Iarley, Magrão — não falaram. Depois, mandaram um recado para a direção: não querem ver repetida a experiência vivida com Alexandre Gallo, no ano passado. Não querem um treinador jovem e inexperiente para lidar com um grupo rodado. Querem alguém experiente, forrado de títulos.
— É melhor
esperar uma ou até duas semanas. Assim, com
calma, a direção poderá escolher um nome para ficar no Inter por muito tempo. Não é preciso mesmo decidir rapidamente — avisou Fernandão.
No vestiário, com o visitante Ceará e com Wellington (E), Abel cumprimentou jogadores e deu pronunciamento unilateral
Foto:
Jefferson Botega
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