| 04/05/2008 06h57min
Fernandão meneia a cabeça, passa a mão pelos cabelos, gira a chave de sua caminhonete Range Rover no dedo indicador da mão direita, olha para o teto da entrada do vestiário Frederico Arnaldo Ballvé e, como se encontrasse a resposta no ar, resume o que muda na vida de um capitão quando alcança uma final de campeonato:
– O tom. Muda o tom.
Da voz, em princípio. Que se torna tonitruante. É o que dizem, ao menos. O certo é que o capitão do Inter é um tanto intuitivo na hora de falar para os companheiros. No Beira-Rio, sua rápida preleção no túnel de acesso ao gramado começa a ganhar contornos místicos.
Na virada sobre o Paraná, os novatos Agenor e Roger foram para casa impressionados com a retórica de Fernando Lúcio da Costa, 30 anos, o goiano que, a cada dia, parece mais incorporado aos costumes gaúchos.
Não bastasse a
paixão campeira trazida do Centro-Oeste, onde nasceu
de uma família de posse e terras, agora até o jeito de falar recebe um certo matiz gaudério. O "você" vai cedendo lugar para o "tu". Não só nas entrevistas, como no programa Bem, Amigos, do SporTV, esta semana.
– Não penso no que vou dizer. Não trago nada pronto de casa. A inspiração aparece na hora, com alguma situação do momento – revela Fernandão, que usou a presença de Guiñazu no vestiário para pedir luta em nome dele na virada histórica sobre o Paraná pela Copa do Brasil. – Mas admito que o tom da voz muda numa final. É provável que seja mais eloqüente.
De resto, Fernandão executa os mandamentos que, a seu juízo, devem ser cumpridos pelo bom capitão. Um deles é raramente ser advertido pelo árbitro por reclamação. O outro é não ser expulso. Em mais de uma década de carreira, jamais recebeu cartão vermelho.
Mas existe uma lei que Fernandão preza demais. Sobretudo em decisões como a de hoje: controlar os gestos na hora de chamar a
atenção:
– Acho abrir os
braços sacanagem com o companheiro. O cara é jogado para os leões. Cuido um monte isso mesmo no calor da partida.
Mas então como agir, se repreender é tarefa sua, para acertar o posicionamento, ou a jogada treinada durante a semana?
– Sou de gritar. Se bem que tenho gritado pouco este ano. Nosso time está mais velho, mais experiente. Cada um sabe o que faz.
Tudo bem, Fernandão, mas esta final de Campeonato Gaúcho não tem um tom de desagravo após o erro no início da jogada que resultou no gol da vitória do Juventude no Alfredo Jaconi, já nos acréscimos? Não haveria um tom de desabafo na hora de comemorar um gol ou de erguer a taça, caso o Inter reverta a vantagem do Juventude?
– A motivação é a mesma, apesar do erro – jura o capitão, para em seguida deflagrar o tom do vestiário para a final. – Estaria abatido se jogasse em um clube pequeno e se meu time fosse ruim. Não é o caso: portanto, a confiança é total.
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