| 07/04/2008 15h34min
Mendes demorou cerca de dez segundos para acreditar que era o principal protagonista do feito do Juventude, a vitória por 3 a 2 sobre o Grêmio, neste domingo, no Estádio Olímpico.
Assim que o árbitro Márcio Coruja encerrou o jogo, o centroavante caminhava lentamente pelo meio de campo, olhando para o céu boquiaberto, como se estivesse em transe. Voltou a si somente quando os olhos dele miraram um repórter que lhe fez a primeira pergunta sobre o resultado, e ouviu em resposta.
— Aaaaaaaaaaah!!!!!! — gritou o jogador saindo em disparada em direção à torcida.
Mendes correu com os braços abertos, chamando os demais companheiros para acompanhá-lo. Berrava "Deus é fiel" com os olhos fechados e os indicadores em riste apontando para o espaço.
Enquanto andava para sair do gramado, sempre dando entrevistas, era cumprimentado por companheiros, membros da comissão técnica e dirigentes pelos dois gols marcados. Na entrada do túnel, era
visível como a sina de quase nunca vencer o Grêmio
incomodava. Os jogadores gritavam, falavam palavrões, se abraçavam, davam tapas no tapume branco. Era impossível distinguir os sons da comemoração já dentro do vestiário, acalmados apenas quando todos se abraçaram a fizeram uma oração.
— É a vitória que valia a honra de um clube e também da nossa torcida, que não agüentava mais ser humilhada e chamada de filial do Grêmio — afirma Lauro.
De banho tomado e com a euforia controlada, o herói do jogo retornou para a entrevista coletiva segurando a mala do clube e seus dois telefones, um deles tinha quatro chamadas não-atendidas; o outro, com mais de 10 ligações de amigos e parentes — e seguiu tocando enquanto Mendes falava.
Mas a primeira pessoa para quem o goleador ligou foi para a mãe, dona Alvina, 60 anos. Ele contou que tinha feito dois gols, que o Juventude tinha vencido por 3 a 2, que o time se classificara para as semifinais do Gauchão. A mãe ajoelhou-se e começou a chorar.
—
Ela disse que tinha falado com vocês que queria
três, mas se fizesse dois seria bom — relata.
Mendes parou a entrevista mais duas vezes: uma para atender o pai, Sílvio Mendes, 62, narrador que chamou o filho de abençoado ao saber do seu feito na tarde, e do amigo André, goleiro do Caxias. Os dois se conheceram no ano passado, na Portuguesa Santista, e mantêm uma forte amizade.
O atacante só esqueceu de cumprir o prometido — tinha preparado uma comemoração em homenagem a André se marcasse. Iria jogar a bola para o alto a agarrá-la com as mãos, simulando uma saída de gol. Porém, nas duas vezes em que marcou, Mendes só pensava em dona Alvina. Mas pelo telefone mesmo, o atacante dedicou a vitória a André:
— Essa foi para você, amigão.
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