| 10/10/2007 08h12min
A família celebrou com um inesquecível churrasquinho no quintal de casa, na Restinga, quando Ronaldinho chegou alardeando a notícia arrasa-quarteirão. O Ronaldinho em questão é o dentuço Jader Fabrício Gonçalves, 11 anos, clone do camisa 10 do Barcelona. Ele foi sorteado, entre dezenas de colegas da escola Nossa Senhora do Carmo, para ser um dos 300 alunos da fase inicial de atividades do Instituto Ronaldinho Gaúcho (IRG).
— A senhora é mãe dele? E ele vai vir aqui de verdade? — perguntava Jader ontem, enquanto pedia autógrafo para dona Miguelina, mãe do ex-jogador do Grêmio e presidente de honra do Instituto.
Inaugurado em dezembro do ano passado, a burocracia atrasou as atividades práticas do IRG. Assim, apenas agora pode-se ver crianças correndo atrás da bola em algum dos 10 campos de futebol da área de 11,7 hectares ou adolescentes compenetrados à frente dos 21 computadores instalados pela Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre (Procempa)
na sala de inclusão
social. A Secretaria Municipal de Educação (Smed) organizou o recrutamento entre nove escolas da Restinga, do Chapéu do Sol, da Vila Nova e, ainda, 30 menores de programas de rua da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc).
— Não agüentava mais ver isso aqui vazio — suspira dona Miguelina, que viveu na pele a agonia de não ter com quem deixar Ronaldinho, o caçula dos Moreira, enquanto trabalhava fora, nos tempos de dinheiro escasso.
— É um prazer devolver para a comunidade tudo o que recebemos.
Ônibus do Instituto levam e trazem as crianças das escolas. No IRG, elas participam de um cuidadoso programa pedagógico. São orientados por 43 monitores, instrutores e professores bancados pela prefeitura. Divididos em oito turmas, conforme a faixa etária, os afilhados de Ronaldinho exercem atividades como prática de esportes, artes, inclusão digital e cursos de capacitação técnica.
Quem faltar três vezes ao colégio ou ao seu
turno no IRG perde a vaga. Como a família inteira é
envolvida no projeto, o número indireto de beneficiados pode chegar a mil — mesmo nesta fase inicial, de 300 alunos. Só Jader, clone de Ronaldinho, tem nove irmãos. A meta para o futuro é atender a 3,5 mil crianças.
— Tem um vizinho meu que faltou duas vezes. O próximo da lista é o meu irmão. Estamos ansiosos lá em casa — conta Luciano Rodrigues, 11 anos, da escola Campos do Cristal, na Vila Nova.
— O objetivo é formar um cidadão. Eles precisam de um caminho. É o que vamos oferecer — resume a professora Flora Maria Macedo Fernandez, coordenadora do projeto, batizado Letras e Gol.
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