O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, afirmou que lamentava não ter liquidado o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Yasser Arafat, em 1982, durante a Guerra do Líbano. A declaração foi divulgada nesta quinta-feira, dia 31, em uma entrevista publicada no jornal israelense Maariv.

Sharon comandou a invasão de 1982 – quando quase 20 mil pessoas foram mortas –,com o intuito de expulsar palestinos do território libanês.

– No Líbano, havia um acordo para que ele (Arafat) não fosse eliminado, agora lamento – disse Sharon, destacando que nesta quinta Arafat ainda pode se revelar confiável para negociar a paz.

A íntegra da entrevista será publicada na edição de sexta do Maariv. Durante a invasão do Líbano, em 1982, Sharon era ministro da Defesa de Israel, e Arafat, que já era chefe da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), dirigia os combates palestinos na capital libanesa.

Segundo o líder direitista israelense, Arafat chegou a ser cercado no Líbano, onde vivia exilado, mas acabou fugindo para a Tunísia. Sharon criticou os governos israelenses anteriores por negociar a paz com Arafat. Uma vez no poder, o premier se recusou a encontrar o presidente da ANP – mandou seu filho Omri Sharon para conversar com Arafat. Com o acirramento do conflito, Sharon passou a se referir ao palestino como "terrorista" e "irrelevante" e deu ordens para confiná-lo em Ramallah.

A União Européia (UE) lamentou e rejeitou as declarações de Sharon, segundo o chefe da diplomacia espanhola, José Piqué.

– Se essas declarações são verdadeiras, eu as lamento e elas merecem nossa rejeição – afirmou Piqué.

Raanan Gissin, porta-voz de Sharon, disse que Israel não pretende assassinar Arafat.

– A política hoje não é eliminá-lo fisicamente – afirmou.

Sharon prometeu "um dia" escrever um memorando conjunto com seu chanceler, Shimon Peres (que é seu adversário político), selando o fim das hostilidades com os palestinos. Em declarações anteriores, Sharon nunca reconheceu a reivindicação palestina de criar um Estado na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Leste, territórios ocupados por Israel em 1967.

– No final das contas, um Estado palestino independente será criado. Terá de ser desmilitarizado, apenas com uma força policial para manter a ordem pública. Em nome da paz verdadeira, estou disposto a abrir mão de partes da terra de Israel – disse Sharon ao Maariv.

Para Saeb Erekat, principal negociador palestino, os comentários de Sharon "refletem o que sempre foi dito: que ele está tentando acabar o que começou em 1982":

– Quando um primeiro-ministro anuncia abertamente suas intenções criminosas, isso reflete com que tipo de governo estamos lidando.