| 03/12/2009 14h02min
Na série de torcedores fanáticos pela dupla Gre-Nal, é a vez do gremista Nicola Streliaev Centeno. Para comemorar a Batalha dos Aflitos em 2005, ele botou o hino do Grêmio a todo volume, pulou no teto do próprio carro e até invadiu um hospital para comemorar com o amigo internado.
Envie a sua história também para o e-mail esportes@clicRBS.com.br, informando seu nome completo, profissão/ocupação e um telefone de contato, além de uma foto, e tenha a sua aventura publicada no clicEsportes.
Confira o relato:
No dia 26/11/2005, o Grêmio estava entrando para a história como o maior clube do futebol mundial de todos os tempos, sem exagero. Pois título brasileiro, muitos têm. Libertadores, outros tantos (inclusive a LDU,
Once Caldas e Eles). Mas a Batalha dos Aflitos, só um: o Imortal Tricolor.
Pois bem. Moro em Porto Alegre há oito anos (não por acaso, pois vim morar aqui por causa do Grêmio) e, naquele dia, fui assistir ao jogo na casa de meus sogros, em Pelotas, minha cidade natal. Como meu sogro, o Joca, recém convalescia de uma angioplastia, estava em recuperação na Santa Casa de Misericórdia de Pelotas junto com minha sogra, a Lelene, pois não foi liberado para ver o jogo em casa (o médico, agora sabemos, prevera as intensas emoções que estavam reservadas para os gremistas e preservou o coração do Joca). Então eu, minha namorada (Mercedes), cunhada (Elisa) e o namorado da Elisa e meu melhor amigo (Lizandro, mais conhecido como Bugu) fomos assistir à decisão na casa dos sogros.
O primeiro tempo, à exceção do pênalti perdido pelo Náutico, não guardou maiores emoções. Assim, no intervalo as gurias resolveram trocar a final (até então aparentemente entediante) e foram fazer compras. Pobrezinhas, mal sabiam que com aquela singela atitude, aquela inocente opção, perderiam o
ápice da
história do futebol, esporte este que passou a ter dois períodos históricos: o pré e o pós-Batalha dos Aflitos. Mas como final é final, eu e o Bugu, inadvertidamente, acabamos tomando durante o primeiro tempo todas as cervejas que havíamos comprado para o jogo.
Iniciado o segundo tempo, o jogo continuou no mesmo ritmo, até que sobrevieram a expulsão do Escalona, o pênalti (segundo), as demais expulsões, a invasão ao campo e tudo mais. Durante a paralisação da partida, minha reação foi, igualmente, a de ficar estático, paralisado, descrente e resignado. O Bugu, por seu turno, bradava:
— Vamos tirar o time de campo! Vamos decidir no tribunal!
O problema é que sou advogado e sabia que se a questão fosse para os tribunais desportivos fatalmente seríamos derrotados.
Naquela altura, como a cerveja havia acabado, estava calor para avançarmos sobre a adega dos sogros e não somos muito do uísque, não nos restou outra alternativa: abrimos
uma garrafa de cachaça e misturamos com
refrigerante. Ou seja, o famoso samba (pobre fígado!).
O jogo recomeçou e quando o Galatto defendeu o pênalti, o Bugu, ensandecido, foi para a sacada urrar contra os vizinhos colorados. Gritava, o Bugu, feito doido empilhando palavrões e, de tanto apertar, rasgou a gola da camiseta tricolor. Eu, não conseguindo acreditar no que via, ajoelhei-me em frente à televisão e não consegui gritar outra coisa senão:
— Não acredito, é melhor do que o Mundial! Não acredito, é melhor do que o Mundial!
E assim os segundos foram passando, o Bugu continuava a gritar palavrões na sacada e minha visão ficou turva, tamanha a quantidade de sangue (azul, é claro) que estava circulando intensamente no meu corpo e na minha mente.
Pois quando a visão começou a voltar, pouco mais do que um minuto após a defesa do Galatto, vi o que ninguém poderia prever, o inimaginável: mesmo com quatro jogadores expulsos, o Andershow invadiu a área do Náutico e estufou
as redes. Nisso o Bugu estava recém voltando da
sacada, sem voz, e quando fitou novamente a TV viu a bola entrando no gol do Náutico. A redenção!
A emoção é inenarrável, mas o que fizemos a partir dali foi passar na casa de outro amigo, o Cremonti, e irmos para a Av. Bento Gonçalves comemorar com uma multidão jamais vista na história da cidade. Quando parei em frente ao conhecido Altar da Pátria, vi uma massa humana pulando uniforme e loucamente. E não resisti: coloquei o hino do Grêmio no rádio no máximo volume e subi no teto do carro, vendo milhares de pessoas cantando o hino do Imortal. Pulei que nem criança no pula-pula e, obviamente, amassei todo o carro.
Após sairmos da Av. Bento Gonçalves eu, o Bugu e o Cremonti, ainda tomados pela emoção (que em verdade perdura palpitante até hoje e, por certo, manter-se-á para o resto das vidas de todos os gremistas que viram aquilo, exceto as nossas gurias, que foram fazer compras), fomos até a Santa Casa, onde meu sogro estava se recuperando. Cegos pela conquista,
invadimos o hospital de
joelhos e, ignorando as famosas fotos de enfermeiras pedindo silêncio, adentramos no quarto do Joca, recém operado, gritando "Grêêêmio, Grêêêêmio, Grêêêmio". O hospital parou.
Bem, depois daquela emoção toda, no dia seguinte fui na concessionária para orçar o conserto do teto do meu carro e, sem lamentar o "suposto" prejuízo, lembrei-me do dia anterior e pensei: um gremista jamais pode deixar de ver um jogo do Grêmio, seja qual for o compromisso, ainda mais para ir às compras (!), pois o Grêmio sempre reserva algo inesperado, inédito, emocionante.
A propósito, o médico deveria ter se tornado referência na medicina mundial, já que o Joca, gremistão, não resistiu e driblou as suas recomendações ouvindo o jogo na Gaúcha, e isso provou que a angioplastia foi um verdadeiro sucesso: o coração do Joca aguentou a emoção da Batalha dos Aflitos!
• A história de Rogério Dalcin virou uma charge eletrônica. Confira
clicando na imagem abaixo:
Grupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2009 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.