| 18/09/2009 05h30min
Tatiana Lopes
É curiosa a repercussão a certas atitude na Província de São Pedro. Paulo Autuori (na foto, com Rochemback) acaba de dizer que pretende ser campeão brasileiro. Analisou daqui e dali e, conforme os cálculos do técnico, se o Grêmio engatar duas ou três vitórias seguidas vai entrar no noticiário como postulante ao título.
Autuori é o responsável pelo time de futebol de um clube centenário, acostumado a festejar títulos e, não raro, alguns considerados impossíveis, mas a sua
crença tornou-se uma polêmica. Enquetes foram programadas. Os sites se encheram de interativas. Instados a dizer se fazia ou não sentido as projeções de
Autuori, torcedores espraiaram suas opiniões.
É mesmo um Estado que adora polêmica, o Rio Grande do Sul. O que há de estranho e anormal o técnico de um clube como o Grêmio assumir publicamente que o sonho de ser campeão ainda é real e habita o Estádio Olímpico?
A distância para o líder Palmeiras é de oito pontos e o Grêmio não mostra uma regularidade fora de casa capaz de credenciá-lo ao título. Se o futebol fosse uma ciência exata, realmente: loucura. Mas não é o caso. Ao contrário.
Casos de reversão de expectativa se repetem com espantosa rotina no mundo da bola. O ano passado mesmo. O próprio Grêmio não estava 11 pontos à frente do São Paulo e terminou dois atrás, amargando o vice-campeonato? Vamos adiante. O Avaí não jazia condenado ao rebaixamento por unanimidade há dois meses, encarreirou onze rodadas sem derrota e chegou a entrar no G-4?
A própria história de 106 anos do
Grêmio está cheia de episódios improváveis, para não dizer
impossíveis, que viraram realidade quando ninguém mais apostava um centavo de real no time.
A Batalha dos Aflitos é só o mais recente. Lembro do Brasileirão de 1998, quando o Grêmio de Zé Alcino — isso mesmo: Zé Alcino! — precisava vencer a Portuguesa em casa e contar com uma série de resultados paralelos. Só que faltavam quinze minutos — pouco mais, pouco menos — para o fim do jogo no Olímpico e a derrota por 2 a 1 parecia consumada.
Então, na base da pressão e da fé, quem sabe esta mesma fé manifestada por Autuori, o Grêmio virou para 4 a 2 e terminou em 8º lugar, última vaga para a fase de mata-mata do Brasileirão. Dois anos antes, o título veio com um gol de Aílton aos 39 do segundo tempo. Há outros exemplos, mas fiquemos apenas nestes. É o suficiente.
Qual é o espanto de ver Autuori falando em título, afinal? Ele está mais do que certo.
Errado estavam os dirigentes e até os
jogadores, a certa altura, que começaram a falar em G-4 como se fosse
taça. Com certeza agiam assim por medo de criar expectativas na torcida e depois frustrá-las. Mas o convívio diário com a pressão está na base de todo grande clube. Quem não souber conviver com ela que vá para um time medíocre. Autuori está certo. Não dá para jogar a toalha faltando 14 rodadas.
Não no Grêmio, ao menos.
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