| 24/08/2009 05h30min
Fernando Gomes
Diante do caso mais espetacular e intenso de dupla personalidade no futebol brasileiro nos últimos tempos, vou arriscar uma saída. Como se sabe, o Grêmio em casa é o que se viu ontem contra o Atlético-MG: atropelamento e fúria.
Não se trata de apenas vencer, mas de jogar bem, muito bem, em nível de excelência. Daí os quase 90% de aproveitamento em casa. Longe do aconchego do Olímpico é o inverso: o desempenho atinge esquizofrênicos 6,6%.
Caso para antropólogo, sociológo,
psicólogo, psiquiatra, psicanalista? Pode ser. Mas como é inviável colocar 11 jogadores mais o técnico no divã, tenho uma solução mais
prática.
Souza e Tcheco, eis a questão. Estes dois, experientes, rodados, malandros e ótimos jogadores no Olímpico, tornam-se marinheiros de primeira viagem, estreantes, inocentes e ruins quando o avião decola do Aeroporto Salgado Filho.
Se Tcheco e Souza reproduzirem uma terça parte do futebol desfilado ontem, na goleada de luxo por 4 a 1 sobre o Atlético-MG de Celso Roth, o Grêmio começa a ganhar fora de casa e embala. Aí está o grande mistério.
Longe do Olímpico, por algum motivo insondável, que não deve ser orientação tática do técnico Paulo Autuori, a dupla de armadores desaparece. Isso quando não voltam para casa lavando roupa suja em público, discutindo se o time tem ou não pegada — um debate cujo resultado prático para resolver o problema é zero.
O que no Grêmio não passa por eles, na defesa, no meio, no ataque?
No Olímpico, eles
desarmam, enfiam bolas milimétricas para os atacantes (a cobrança de falta de Tcheco
para o gol de cabeça de Réver é um passe) e marcam gols de falta (Souza fez mais um: agora, os goleiros até desistiram de se mexer). Mas basta sair de Porto Alegre e pronto: viram meros auxiliares de preenchimento de espaços no meio-campo.
Se realmente há alguma questão psicológica envolvendo o Grêmio neste campeonato — é esta a opinião do volante Túlio, expressa com muita clareza no Bate-Bola, da TVCOM, ontem — então cabe aos mais experientes vencer este bloqueio. E quem são os mais experientes? Tcheco e Souza. Há outros jogadores perto da faixa dos 30 anos, mas somente estes dois têm experiência internacional e já se viram na condição de esteios do time, como agora.
Então, aí está a explicação. Souza e Tcheco. Não precisa o time inteiro mudar. Basta que eles dois mudem fora de casa.
Se isto acontecer, o Grêmio entra na briga pelo título, desde que mantenha os quase 90% de aproveitamento nas imediações da Azenha, é
claro. Mas o problema não tem sido o Olímpico. O
desafio, domingo, é o Botafogo. No Rio de Janeiro.
Se Tcheco e Souza forem Tcheco e Souza também debaixo dos braços abertos do Cristo Redentor, tudo pode mudar.
Do contrário, o caso mais espetacular e intenso de dupla personalidade no futebol brasileiro nos últimos tempos vai continuar.
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