| 08/07/2009 05h10min
O Olímpico está fervendo. O técnico Paulo Autuori e Luiz Onofre Meira, novo homem forte do departamento de futebol, anunciam dispensas, venda de titulares consagrados e, a maior ousadia, aposta vertical e profunda nas categorias de base por conta da crise financeira.
Parece uma revolução singular, um processo nunca antes deflagrado nas imediações da Azenha. Não é. Ao contrário. É até lugar comum. E isso é bom.
Ao ouvir as entrevistas e as notícias borbulhando no Grêmio ontem, me veio uma lembrança quase instantânea. 1981 não era um ano de facilidades no Olímpico. Tempos difíceis
aqueles. Dinheiro escasso, como agora. O Inter acumulava três campeonatos brasileiros. O último, em 1979, de forma invicta, com farta
repercussão nacional e um timaço. Enquanto isso, o Grêmio corria atrás da primeira taça fora da Província de São Pedro.
Assim, quando Ênio Andrade propôs um time forrado de jogadores egressos das categorias de base para ser campeão brasileiro, a desconfiança instalou-se.
E aumentou durante primeira fase. De um grupo com 10 times, o Grêmio chegou em quarto lugar, atrás da Portuguesa e até do Operário, do Mato Grosso do Sul. Mas Ênio Andrade, que havia conduzido o Inter ao tri dois anos antes, manteve a mesma frieza daquela cobrança de falta no Pan-Americano de 1956, quando o Brasil foi representado pela seleção gaúcha e ele, com o gol diante da Argentina, garantiu o empate em 2 a 2 e o título no México.
Seu Ênio não apenas manteve a política de acreditar na base como a reforçou.
Paulo Roberto "Coelhinho" (o primeiro à esquerda na foto, ao lado de
Renato) tinha 18 anos . Virou titular da lateral-direita na antepenúltima
rodada da primeira fase, somando-se a Newmar, China, Casemiro, Odair, Bonamigo, este uma espécie de décimo segundo jogador. Todos prata-da-casa. A partir da entrada de Paulo Roberto, o Grêmio ganhou a jogada aguda pelo flanco e o cruzamento qualificado. O resultado desta política ficou na história: Grêmio, pela primeira vez, campeão brasileiro.
Não digo que as semelhanças entre 1981 e 2009 apontem para festa azul em dezembro. Não vou tão longe.
Mas quando lembrei de 1981, minha primeira reação foi telefonar para Paulo Roberto, espécie de emblema daquela aposta em massa nas categorias de base que resultou na primeira faixa nacional.
— Cara, parece que eu estou vendo tudo se repetir. Não falo de ser campeão ou não, isso é do futebol. Mas o processo é o mesmo. Em 1981, o Grêmio também não tinha dinheiro e apostou na molecada. Deu certo. Meu filho, o Matheus, tem 16 anos e é volante dos juvenis.
Dia destes, o Autuori foi ver um jogo dos guris no Estádio
do Zequinha. A gurizada está em festa. É esse o caminho — suspira Paulo Roberto, 46 anos, hoje empresário e sócio do ex-goleiro Taffarel.
Portanto, o Grêmio copia a si mesmo ao faxinar o grupo e apostar no que tem em casa.
Em 1981, deu certo. Mas vale lembrar que, há 28 anos, havia também Leão, Paulo Isidoro, Tarciso e De León, quatro jogadores de nível de seleção, em talento e experiência. Assim, o Grêmio não pode só apostar na base.
Precisa ter ousadia para encontrar investidores que o ajudem a contratar jogadores indiscutíveis. Nem falo de quatro, como em 1981. Um ou dois já está de bom tamanho, se não perder muitos titulares na janela de agosto.
É bom lembrar de 1981, mas com o devido cuidado.
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