| 23/05/2009 18h47min
A tão esperada estreia de Paulo Autuori na casamata do Grêmio, neste domingo, contra o Botafogo, por pouco não acontece. Para obter de volta seu passaporte e embarcar a Porto Alegre, o técnico teve de apelar a um amigo de 20 anos, presidente do seu time no Catar. Histórias como essa temperaram um almoço de quase duas horas com jornalistas na RBS.
Dois dias antes de retornar ao Brasil para assumir o Grêmio, o carioca Paulo Autuori, 53 anos, gelou diante do aviso de um dos xeques da federação de futebol do Catar.
– Você não pode ir embora. Temos planos de aproveitá-lo na seleção – avisou a autoridade, invadindo o gramado sintético em que o Al-Rayyan treinava para o jogo do dia seguinte.
– Mas já tenho compromisso com um clube brasileiro. É um projeto muito importante na minha carreira – argumentou o técnico, enquanto lembrava de relatos de outros profissionais impedidos de deixar o mundo árabe por terem o passaporte retido.
Aflito, embora já tivesse em mãos uma carta do
Comitê Olímpico do Catar como garantia de liberação, Autuori decidiu recorrer ao presidente do clube, de apenas 20 anos, de quem havia se tornado amigo. Conseguiu dele que honrasse a palavra de liberá-lo ao final da Copa do Emir. Ainda assim, certo de que sua saída contrariava alguns interesses, o treinador evitou despedir-se dos jogadores e dirigentes antes de embarcar para São Paulo no domingo, dia 17.
Por ironia, foi sua competência que quase impediu seu retorno. No
Al-Rayyan, clube em que permaneceu por duas temporadas, Autuori encantou pelo
trabalho de unificar todas as categorias, dando uma identidade única ao time. Foi o que o credenciou para a seleção, da qual escapou por detalhe. Algo que também havia ocorrido no peruano Sporting Cristal, em 2001.
Pouco tempo depois, ele passava a comandar a seleção peruana.
A possibilidade de realizar projeto semelhante no Grêmio foi o argumento que convenceu Autuori a aceitar o convite.
– Sempre vi os clubes como um todo. Mas sempre foi algo unilateral. Agora, a proposta de verticalizar parte da direção – empolga-se o técnico.
Por verticalizar, Autuori entende unificar os modelos táticos desde as categorias de base. Seus planos incluem até a realização de simpósios entre técnicos e preparadores físicos do clube. O objetivo, em resumo, é permitir que jovens recém-promovidos comunguem da mesma cultura física e tática dos profissionais.
Sobram histórias deliciosas da passagem do treinador pelo Catar, um país em que o futebol não é totalmente profissionalizado. Como o do dia em que chegou ao seu prédio e deu de cara com um dos zagueiros do time, vestindo farda militar.
– Havia uma reunião de representantes do Golfo, e ele tinha sido convocado para trabalhar como segurança – ri o técnico.
Em outra ocasião, ele deparou com um dos meias, apelidado de Robinho, por sua rapidez, trabalhando como guarda de trânsito.
Também não é tarefa fácil, no mundo árabe, convencer os jogadores a participar de treinamentos. Auxiliar de Autuori, o gaúcho Rene Weber lembra que muitos jogadores tiram proveito do intervalo entre as cinco
paradas diárias de oração para ir embora.
Questões militares também
atrapalham quem tem planos de orientar uma rotina organizada de treinamentos, como ocorre em clubes de outros países.
– Certa vez, só três jogadores apareceram para treinar. E ninguém me explicava nada. Só depois fui saber que o resto do time tinha sido convocado para uma manobra militar – conta Weber.
Zero Hora
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