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 | 13/01/2008 01h34min

Guiñazu vira ídolo da torcida e do time no Beira-Rio

Argentino mostrou com sua aplicação em campo um tipo de liderança rara no futebol, a do jogador que se impõe pela dedicação à equipe

Diogo Olivier, Abu Dhabi*  |  diogo.olivier@zerohora.com.br

Aconteceu na final da Copa Dubai. Foi uma conversa de conterrâneos. O argentino Zanetti, da Inter, de Milão, corria em direção ao árbitro para defender o indefensável: o cotovelaço de Materazzi em Fernandão. Nisso, Guiñazu encosta no pé-do-ouvido de Zanetti e diz:

— Fica quieto. Tu e eu sabemos que ele é malvado.

Guiñazu jogou na temporada 2000/2001 com Materazzi no Peruggia, da Itália. O conhece de longa data. O gesto não teve nenhum efeito prático no jogo, mas serve para explicar como funciona o meia que parece ligado em 220 volts do início ao fim de um jogo. Talvez até ele comece a dar piques na preleção de Abel Braga, levando os demais de arrasto. O zagueiro Titi, 19 anos, decifrou Guiñazu, o motor do Inter desligado desde a saída de Tinga:

— Tu vês ele correndo daquele jeito e se sente obrigado a fazer igual. Não pára nunca, é o tipo do cara que tu olhas e pensas: "É por aí" .

— O Guiña? Pô, o Guiña é emocionante — derrete-se Abel Braga.

Pablo Horacio Guiñazu, 29 anos, também conhecido como "Cholo" não cobra. Faz. Não reclama do colega que desistiu do lance. Vai até o fim por ele. Não gosta de alarde. Uma cena real já virou quase lenda no Beira-Rio: em um treino com juniores, um garoto caiu e encenou a dor. Guiñazu se aproximou:

— Levanta. Sem circo.

Ele mesmo traduz:

— É que tem porrada e porrada. Não gosto de circo por pancadinha. Reconheço, às vezes, também bato. Por isso, tenho que saber receber. É do futebol.

Tanto é para valer a conduta do argentino que, mesmo de joelho torcido, tentou voltar contra a Inter. Guiñazu é do estilo de discursar através do silêncio das atitudes desde guri em General Cabrera, cidade de 10 mil habitantes da província de Córdoba, na Argentina. Nunca procurou escolinhas em cidades maiores ou foi fazer teste em Boca ou River, que agora o disputam. Apenas esperou. Jogou dos oito aos 12 anos no time amador da cidade. Até que um olheiro do Newells pediu permissão a sua mãe para levá-lo a Rosário.

— Minha mãe não queria. Mas eu sabia que era só jogar para a chance aparecer — lembra Guiñazu.

O argentino estudou até os 16 anos. Não fez vestibular porque o futebol impediu. O pai administra uma pequena empresa de transporte e foi dono de bar. A mãe é dona de casa. Guiñazu é filho de família classe média: nunca teve luxo, mas passou longe da pobreza. Admite que balançou com o assédio após a Copa Dubai, sobretudo do Boca.

Mas ele encaminhou a mudança para Porto Alegre da mulher, Erika, e dos filhos, Matias, sete, e Lucas, um ano e quatro meses, que moram em Assunção. Eles viriam depois da pré-temporada. Com o retorno antecipado, a família ocupa mais cedo o apartamento de três dormitórios no bairro Três Figueiras.

Guiñazu alugou o imóvel por indicação de um amigo. O inquilino anterior era Amoroso, ex-Grêmio. É lá que ele aproveita o tempo livre com seu chimarrão ou em jantares da confraria de gringos da Dupla: os colorados Sorondo e Orozco, seu vizinho de prédio, e o gremista Hildalgo, ex-companheiro de Libertad. A janta sempre descamba para o futebol virtual do videogame PlayStation 2 ou para algum filme entre os 60 DVDs da sua cinemateca.

Com contrato de quatro anos com o Inter, Guiñazu cogita de comprar o imóvel. Sabe que o Inter só o venderá se bancarem os US$ 20 milhões da multa.

Nestes dias longe da bola, a família será fundamental. Mas o período fora de campo deve ser curto. Guiñazu detesta ficar parado. Na quinta-feira, desdenhava das previsões dos médicos, de pelo menos quatro semanas inativo:

— Semana que vem tenho que estar correndo, fenômeno (Guiñazu chama as pessoas assim).

*COLABOROU GUILHERME FISTER
Fernando Gomes / 

Guiñazu foi destaque do time na Copa Dubai
Foto:  Fernando Gomes


 
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