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 | 13/03/2006 11h13min

Dunga, um ponto de equilíbrio para Romário em 1994

Capitão do tetra fala sobre papel decisivo que exerceu sobre o Baixinho

Dunga não hesita. Para o capitão do tetra, em entrevista ao clicRBS nesta segunda, Romário foi o melhor jogador da Copa de 94. Segundo ele, o atacante  teve sucesso porque talvez em toda sua vida nunca tenha se preparado tanto para jogar futebol. Mas para ter sua melhor performance, o Baixinho contou com uma ajuda importante. Dunga foi encarregado pelo técnico Carlos Alberto Parreira de ficar no mesmo quarto do avante. A intenção era focar o jogador naquilo que ele queria. A ação deu certo: Romário foi o artilheiro e também o melhor jogador do Mundial.

– Esse é um exemplo de que não se ganha só dentro de campo, tem que ser tudo planejado. A intenção foi tentar focar o Romário naquilo que ele queria, que era ser campeão do mundo, artilheiro, melhor jogador da Copa. Colocar um amigo verdadeiro, que fala claramente – disse Dunga.

A pressão sobre o grupo na época não era pouca. O Brasil estava há 24 anos sem um título mundial e ainda sob a decepção da eliminação em 90 para a Argentina nas oitavas.

– O clima era tenso, porque o Brasil estava há 24 anos sem ganhar, a responsabilidade era muito grande, principalmente a pressão sobre a seleção – afirmou.

Mas a tensão não influenciou no grupo. Segundo o ex-jogador, não basta ter técnica. A personalidade é essencial em alguns momentos. E isso, Dunga acredita que havia de sobra na Seleção Brasileira de 94.

– Não é só técnica, tem que ter personalidade, saber lidar nos momentos de pressão, ter equilíbrio emocional. Por mais que uma seleção seja ótima tecnicamente, se não tiver equilíbrio emocional, não rende. Copa do Mundo é uma chance só. Amistoso tem outra chance, ali não, se perde, tá fora – afirmou.

O resultado de tanta dedicação e concentração foi a conquista do tetra. Dunga foi o encarregado de levantar a taça. A sensação, de acordo com o ele, não se pode descrever.

– A sensação não tem como descrever.. somente três capitães haviam erguido a taça. Num país de 140 milhões de pessoas, era a realização de um sonho. Na hora falei um palavrão, pois um fotógrafo queria que eu fizesse pose, ele tava pensando muito nele próprio, sendo egoísta, e o espírito da seleção era coletivo, então vinha ao contrário do que nós pensávamos. Eu não estava preocupado em ser fotografado, estava pensando em comemorar – disse.

Confira a íntegra da entrevista online:

Pergunta – Como era o clima entre a delegação brasileira no início da Copa de 94?

Dunga – O clima era tenso, porque o Brasil estava há 24 anos sem ganhar, a responsabilidade era muito grande, principalmente a pressão sobre a Seleção
 
Pergunta – A imprensa internacional considerava o Brasil um azarão ou estava entre os favoritos?

Dunga – O Brasil sempre é favorito, a imprensa brasileira é que colocava o Brasil como azarão

Pergunta – O Mauro Galvão considera que faltou união no grupo de 1990, isso serviu de lição quatro anos depois?

Dunga – Era um grupo muito bom tecnicamente, mas ainda não era maduro como grupo. Sem dúvida nenhuma serviu para em 94 não cometer os mesmos erros

Pergunta de internauta – Qual é a sensação de levantar uma taça de Copa do Mundo, e o que tu falaste naquela hora, além do 'É nossa...'?
 
Dunga
– A sensação não tem como descrever.. somente três capitães haviam erguido a taça. Num país de 140 milhões de pessoas, era a realização de um sonho. Na hora falei um palavrão, pois um fotógrafo queria que eu fizesse pose, ele tava pensando muito nele próprio, sendo egoísta, e o espírito da seleção era coletivo, então vinha ao contrário do que nós pensávamos. Eu não estava preocupado em ser fotografado, estava pensando em comemorar
 
Pergunta de internauta – Dunga, você acha que a Seleção de 94 era inferior a Seleção de 1998? Mas mesmo assim ganhou a Copa. Qual o segredo?

Dunga – Não era inferior, porque o nível dos jogadores era o mesmo, por exemplo Jorginho e Branco, Romário e Bebeto, Aldair... eram jogadores de alto nível. Não é só técnica, tem que ter personalidade, saber lidar nos momentos de pressão, ter equilíbrio emocional. Por mais que uma seleção seja ótima tecnicamente, se não tiver equilíbrio emocional, não rende. Copa do Mundo é uma chance só. Amistoso tem outra chance, ali não, se perde, tá fora.
 
Pergunta – Em 1994, você ficou no mesmo quarto do Romário por orientação do Parreira? Qual a intenção com esse ato?

Dunga – Esse é um exemplo de que não se ganha só dentro de campo, tem que ser tudo planejado. A intenção foi tentar focar o Romário naquilo que ele queria, que era ser campeão do mundo, artilheiro, melhor jogador da Copa. Colocar um amigo verdadeiro, que fala claramente

Pergunta – Pelo que observa, o que mudou no estilo Parreira de 1994 para este de 2006?

Dunga – Ele está mais solto, pode arriscar mais, coisa que em 94 não podia. O Brasil chegando em três finais de Copa do Mundo, o ambiente fica mais relaxado, e o treinador pode ousar mais

Pergunta de internauta – O Parreira é um técnico considerado "retranqueiro", você acha que esse modo de jogar não pode falhar nessa Copa?
 
Dunga
– Como pode ser retranqueiro se joga com quatro atacantes? Mais Kaká e Zé Roberto que são ofensivos... Mais isso também falavam do Felipão, e o que nós vimos em 2002 foi diferente. Futebol não tem ofensivo e defensivo, com a bola ataca, sem a bola defende. Tem que ter equilíbrio entre ofensivo e defensivo

Pergunta – Aquela atitude do Leonardo sobre o jogador dos EUA abalou o grupo, já que ele foi suspenso pelo resto da Copa? O Branco entrou bem?

Dunga – Ficamos tristes, mas de maneira nenhuma abalou. Não tem tempo durante o jogo para parar e se preocupar com quem está fora. Tem um problema, tem que resolver. Aquela seleção tinha muita personalidade e sabia muito bem o que queria, tinha muito claro o foco do que queria. Nada nos desvirtuava do nosso objetivo. E depois o Branco entrou muito bem. Era um time homogêneo

Pergunta de internauta – Dunga, qual seleção tirando as clássicas favoritas tu achas que deve surpreender nesta Copa na Alemanha?

Dunga – Portugal, República Checa, e a Itália, que é muito perigosa e está melhor do que nas outras copas, pois deixou de jogar só no contra ataque, é mais ousada
 
Pergunta – Qual foi o melhor jogador daquela Copa? Foi mesmo Romário ou você escolheria outro?

Dunga – Para mim foi o Romário, porque talvez em toda sua vida nunca tenha se preparado tanto para jogar futebol

Pergunta de internauta – Tu acha difícil formar um grupo como o de 94 novamente? Não acha que a seleção atual está muito marqueteira, distante do foco principal que é a copa?

Dunga – Não sei se é possível formar uma seleção como a de 94, porque jogar naquele estado com a pressão de 24 anos, poucos jogadores resistiriam. Quanto a ser marqueteira, é normal que se fale tanto da seleção, mas isso é mais da imprensa, até pelos resultados que o Brasil conquistou até agora. Entre a seleção não tem salto alto, eles sabem que ninguém ganha antes do jogo começar. A publicidade que tem em cima da seleção é pelos resultados e principalmente pela performance dos jogadores nos clubes da Europa

Pergunta de internauta – Qual o jogo que você considerou o mais difícil na copa? Foi aquele com a Holanda?

Dunga – Sim, mas também contra os Estados Unidos. Jogar no dia da Independência deles, com um jogador a menos, todo o estádio contra e nós sabendo que para os EUA qualquer resultado estava bom... O Brasil precisava ganhar. Se não ganhasse não entrava no Brasil!

Pergunta – Você considera aquele time de 94 mais pragmático, sem preocupação de jogar bonito e sim com resultado? Isso é essencial em uma equipe?

Dunga – Nós jogávamos para ganhar. Depende o que cada um pensa que é bonito. Não só o futebol é de resultados, a nossa vida também. O melhor sempre ganha. Imagine a sua empresa toda bonita, tudo arte, e nada de resultado, sempre no vermelho... Uma equipe tem que jogar com foco no resultado. No Brasil achamos que um drible sem objetividade é bonito. Uma defesa do Taffarel é bonita

Pergunta de internauta – Dunga o que você pensou quando se viu cara a cara com o goleiro da Italia nas penalidades em 1994?

Dunga – Depois do que aconteceu comigo em 90, eu estava tendo a segunda oportinidade, e se eu me preparei para esse momento, para que temer? Poderia realizar meu sonho de infância. Medo sim, mas sabia que muitos jogadores melhores do que eu não venceram por falta de coragem. O medoé adrenalina que nos faz tomar uma decisão e ter a chance de ser um vencedor ou se omitir e nunca chegar a lugar nenhum.

Dunga – Vamos todos torcer pelo Brasil, sermos exigentes, mas também muito conscientes, sabemos que temos os melhores jogadores do mundo, mas que esses jogadores também são seres humanos e precisam do nosso incentivo sempre, principalmente nos momentos mais difíceis. Já pensou se nós fôssemos assim exigentes na educação, saúde e política, como somos com a seleção brasileira?

 
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