| 29/10/2005 16h55min
O presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), se desdobra para levar adiante processos contra 11 deputados ameaçados de cassação. Quem "mais incomoda", segundo o deputado, é o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. Na sexta à tarde, de São Paulo, Izar falou com Zero Hora por telefone. A seguir, uma síntese da entrevista:
Zero Hora - O senhor está satisfeito com o andamento dos processos?
Ricardo Izar - Temos de dar logo uma satisfação à sociedade brasileira. O problema é que Dirceu incomoda e recorreu várias vezes ao Supremo Tribunal Federal (STF). Não adianta ele tentar retardar o processo.
ZH - Houve falhas no apoio jurídico aos relatores para evitar que os investigados recorressem ao STF?
Izar - A nossa assessoria técnica-legislativa é muito boa. Não ocorreram erros de nossa parte. O que houve foram interferências indevidas do Supremo no poder Legislativo.
ZH - Qual foi o sinal emitido pelo STF ao modificar decisões do Conselho de Ética?
Izar - Houve interferência inexplicável (o Supremo suspendeu votação por 13 a um que aprovava relatório favorável à cassação de Dirceu em razão de recurso). Iremos cumprir resoluções do tribunal. Mesmo assim, falei com o ministro Eros Grau e mandei nossos advogados ao Supremo para sabermos exatamente o que eles querem. Não queremos mais essa ingerência. Na segunda, o relator Júlio Delgado irá ler o mesmo parecer. Na quinta ou na sexta iremos votar outra vez e termina essa história.
ZH - O que mais atrasa o trabalho do Conselho?
Izar - O que mais atrapalha são essas liminares do Supremo. Para completar, há recursos de Dirceu e de alguns deputados à Comissão de Constituição e Justiça. Somando tudo, foi um mês perdido.
ZH - O ministro Eros Grau é amigo de Dirceu. Há motivação política no Supremo?
Izar - Não gostaria de analisar o aspecto político. Não posso colocar nesses termos, dizendo que o objetivo é ajudar um amigo. A imprensa pode fazer isso. Já pedimos explicações ao tribunal para evitar interferências.
ZH - Há deputados do Conselho que trabalham contra os processos?
Izar - Todos estão me ajudando muito. Há parlamentares de fora que estão exercendo todo tipo de pressão, pedindo para absolver um e condenar outro, escolher um relator para esse ou aquele. Por isso, resolvi sortear os relatores.
ZH - Quem são os parlamentares e como agem? O senhor já foi intimidado?
Izar - Fui muito pressionado desde o começo. Falavam por telefone ou mandavam recados. Cheguei a ser ameaçado de que inventariam uma história a meu respeito e que seria difícil desmentir. Eles também tentaram vasculhar o meu passado. Não posso falar quem são. Envolveu uma variedade de partidos. Nunca fui ameaçado de morte. O governo não tentou influenciar nada. Estamos conseguindo fazer um trabalho independente.
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