| 24/10/2005 19h36min
Pecuaristas do Paraná anteciparam a data da vacinação do gado para evitar que o vírus da febre aftosa ataque seus rebanhos. A doença foi trazida de lugarejos perdidos na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai para uma das vitrinas mais luxuosas do agronegócio do Brasil – o rebanho de corte do norte e do nordeste do território paranaense.
– Meu vizinho tem gado suspeito de estar com a aftosa. Estou vacinando o meu para ver se escapo do prejuízo – explica o produtor Natalino Montini Sotoriva, 55 anos, de Amaporã.
O vírus chegou ao Paraná da maneira mais temida pelos veterinários: em um leilão de gado com compradores de várias partes do país. Os animais foram comprados no Leilão 10 Marcas, evento tradicional da Eurozebu 2005, uma feira agropecuária realizada neste mês em Londrina, sede de grandes grupos econômicos do agronegócio no sul do Brasil. O gado pertence a um lote de 250 cabeças trazidas de Eldorado, na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, região afetada pela doença. Bovinos com suspeita de portar o vírus foram comprados por pecuristas de Maringá, Grandes Rios, Loanda, Toledo e de Amaporã.
Sotoriva conta que seu vizinho, proprietário da Fazenda São Luiz, comprou 45 cabeças de gado no leilão. Dessas, 12 teriam vindo de propriedades localizadas na região de Mato Grosso do Sul onde foram descobertos os primeiros focos da doença. A Fazenda São Luiz tem uma área de 2,4 mil hectares, com um rebanho de 2,5 mil cabeças de gado.
– Só saberemos se o gado está com aftosa na terça-feira, quando os exames de laboratório estiverem concluídos. Mas até lá o nosso comportamento é como se existisse aftosa no Paraná. Podemos pecar por excesso. Nunca por omissão – garantiu Genécio Feuser, chefe do núcleo Regional da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), que abrange 29 cidades, com sede em Paranavaí.
A posição do governo é dura e paralisou os negócios. Propriedades vizinhas às fazendas com gado suspeito não podem movimentar o gado. Ontem o veterinário da Seab Luiz Wielewski interditou o rebanho da Fazenda Nossa Senhora de Fátima, de propriedade de Valmir Augusti, pecuarista e intermediário no comércio de gado.
– O dinheiro que mexe com os negócios por aqui vem do boi. Se não vendermos, não teremos dinheiro para pagar a contas – avalia Augusti.
Amaporã é uma cidade de 5 mil habitantes que depende dos negócios de gado para sobreviver, concorda a prefeita Terezinha Fumika Yamakawa (PPS). A prefeita lembra que a maioria dos donos das grandes propriedades é de outra cidades, como Maringá, e grandes centros econômicos.
– Os que moram aqui são os peões das fazendas. Se os donos tiveram prejuízo, a primeira coisa que fazem é mandar o boiadeiro para a rua – diz Terezinha.
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