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 | 03/02/2002 17h34min

Ativistas apresentam idéias para combater intolerâncias e discriminação

Nem as entidades voltadas ao combate à discriminação estão livres dela, segundo alerta feito neste domingo, dia 2, pela ativista da Aliança Estratégica de Afro-descendentes, a brasileira Sueli Carneiro. Estrela de uma conferência sobre as formas de enfrentar a discriminação e a intolerância realizada durante a manhã no Fórum Social Mundial, Sueli disse que a busca de um mundo melhor não pode reproduzir o padrão de diversidade que coloca o branco no topo e as demais raças como atores secundários da História.

– O discurso oficial brasileiro é de que a miscigenação é a marca do país, mas, na verdade, essa é uma diversidade que coloca o branco como herói e negros e índios como responsáveis pela "variedade cultural" – afirmou.

Segundo a ativista, um olhar atento nos indicadores sociais e econômicos brasileiros revela dois países: há um Brasil rico e branco, e outro, onde vive 45% da população, pobre e negro. Sueli é favorável à adoção do sistema de cotas que garantam vagas em organismos públicos para as populações que sofrem discriminação por raça, embora pondere que esse mecanismo não conseguirá, sem o apoio de outras políticas sociais que reduzam as desigualdades de renda, ter impacto significativo num país com as dimensões do Brasil.

Outro eixo das discussões foi abordado pela filipina Anna Leah Sarabia, da International Lesbian and Gay Association (Ilga). Anna disse que a população não-heterossexual tem o sofrimento adicional de ter de enfrentar a intolerância e a falta de atenção generalizada pelas agressões a que está sujeita. Também propôs que todas as pessoas façam o exercício de imaginar que seus companheiros, familiares e colegas de trabalho mudaram de sexo repentinamente. A idéia é constatar que as pessoas das quais gostamos são mais que apenas o seu sexo.

Na mesma linha, a uruguaia Lilian Celiberti, da Articulacción de Mujeres Marco-Sur, arrancou aplausos dos participantes ao afirmar que o combate à discriminação começa dentro do indivíduo:

– Não é preciso ser mulher, negro ou homossexual para combater a intolerância e a discriminação – afirmou, conclamando as organizações não-governamentais de várias áreas a também lutarem pelos direitos das minorias.

Os efeitos dos atentados de 11 de setembro preocupam a advogada Phoebe Eng, da ONG Breakhtrough, que acusou a política adotada pelo governo norte-americano de promover o aumento do ódio e da intolerância em todo o planeta com a alegação de que está combatendo o terrorismo. A escritora Gioconda Belli, da Nicarágua, agregou que a guerra liderada pelos Estados Unidos está disseminando uma ética perigosa, de fazer parecerem menos humanos os indivíduos de populações não-americanas, para justificar a morte de civis. As mortes de cidadãos comuns no Afeganistão e dos próprios soldados aliados vítimas de "fogo amigo", exemplificou, são informadas à opinião pública como meros erros de cálculo de armamentos sofisticados.

LUCIA RITZEL
 

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