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 | 29/08/2005 16h41min

Especialistas destacam papel do agronegócio na economia brasileira

Professores Samuel Giordano e Luís Villwock participaram de entrevista online

O agronegócio é a real vocação do Brasil. A afirmação é do professor Samuel Giordano, doutor em Geografia Econômica pela USP e coordenador de Educação Continuada do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial da Universidade de São Paulo (Pensa/USP). O professor doutor Luís Humberto de Mello Villwock, coordenador do MBA em Economia e Gestão dos Agronegócios da Unisinos, concorda, destacando que o setor é um dos maiores gerados de emprego e renda do país.

Giordano e Villwock participaram de entrevista online no site clicRBS nesta segunda, dia 29, destacando o papel estratégico do agronegócio para o Brasil e a importância de se agregar valor aos produtos agropecuários exportados pelo país através da Organização Mundial do Comércio e da busca de acordos bil-laterais. Os especialistas participam no final da tarde de hoje do Fórum de Inteligência Competitiva do Agronegócio: Um Novo Olhar sobre os Mercados, na Casa RBS na Expointer 2005. A mais tradicional feira agropecuária da América Latina foi aberta no último sábado, dia 27, e se estende até 4 de setembro em Esteio, no Rio Grande do Sul.  

Confira a íntegra da entrevista.

Pergunta: O Ministério da Agricultura tem ressaltado que o agronegócio responde por grande parte do PIB brasileiro (39%), gerando emprego, renda e superávit. Qual a real importância do agronegócio para o Brasil?

Samuel Giordano: O agronegócio tem salvado as finanças do Brasil gerando superávits na balança de pagamentos do país desde 1998. Nao é pouco. É a real vocação do Brasil.

Luiz Villwock: O agronegócio, além de representar uma boa parcela de nossa economia global (PIB), é um dos maiores geradores de emprego e renda, não só no meio rural como no urbano. Além disso, este segmento é responsável por boa parte do saldo positivo da balança comercial brasileira.

Pergunta: Que atividades o agronegócio compreende? A produção de calçados de couro, da indústria têxtil baseada em fibras naturais e de componentes mecânicos para máquinas agrícolas, por exemplo, entram na conta do agronegócio brasileiro?

Samuel Giordano: Os limites são onde o produto vira matéria prima e onde é manufaturado. Caso contrário, a indústria de mineração de calcário, por exemplo, pelo fato dele vir a ser um corretivo importante para a agricultura, seria agronegócio, e nao o é. Da mesma forma, na minha opinião os calçados são produtos industriais com uma forte presença do agronegócio nas matérias primas.

Luiz Villwock: Esta é uma pergunta complexa. Existem várias versões. Eu pessoalmente considero que o agronegócio engloba até couros e não calçados. Entra madeira e não móveis. Envolve o segmento de biomassa (alcool, biodiesel). Mas principalmente o principal enfoque está centrado na produção de alimentos, até as gôndolas dos supermercados.

Pergunta: As políticas públicas voltadas para o campo são suficientes? Os governos brasileiros (federal, estaduais, municipais) estão conscientes da importância do agronegócio?

Luiz Villwock: Evidentemente que os governos (federal e estaduais) têm consciência da sua importância para a economia, como geradora de emprego, renda e impostos, além das divisas de Comex (comércio exterior). O problema é que o país enfrenta grande restrição de recursos para cobrir toda a demanda necessária para viabilizar a atividade. Desta forma, a cadeia produtiva tem conseguido resolver parte deste entrave, através de auto-finaciamento entre os elos da cadeia, sobretudo a indústria e o setor de distribuição, incluindo traders, e vem paulatinamente assumindo este papel junto ao produtor rural (geralmente o elo mais frágil desta cadeia).

Samuel Giordano: O governo tem atrapalhado pouco os agronegócios. De muitos anos para cá a contribuição do governo ao financiamento tem sido de menos de 40% dos recursos demandados, provando que há outras formas de financiá-lo. Da mesma forma a politica de preços mínimos já não é 5% do que foi, portanto o mercado tem sido mais regulador que o governo. As autoridades estão conscientes sim, ainda mais com o atual Ministério da Agricultura e o da Indústria e Comércio, que são muito competentes dentro de suas limitações. Há ainda orgãos públicos que atrapalham quem quer trabalhar a sério.

Pergunta: Qual o papel da agricultura familiar no agronegócio?

Samuel Giordano: Menor do que se atribui. Não é a redenção dos agronegócios. Tem seu lugar, mas quem produz soja, arroz, feijão, carne bovina, café, laranja e cana de açucar, que são os carros chefes do agronegócio brasileiro, não é a agricultura familiar – sem demérito a eles.

Luiz Villwock: A agricultura familiar assume um papel muito importante, considerando, sobretudo, a produção de alimentos que são consumidos in natura (hortigrangeiros). Além disso, há uma boa parcela da agricultura familiar envolvida em esquemas de integração vertical com agroindústrias, incluindo-se suas cooperativas, na produção de aves, suínos, milho, feijão, leite e fumo. Logo, deve-se considerar seu papel como regulador de preços e estabilidade de oferta dos produtos no mercado consumidor urbano.

Pergunta: Então a chamada agricultura patronal, com grandes extensões de terra e produção intensiva, é quem alimenta o agronegócio?

Samuel Giordano: Não se deve confundir agronegócio com agricultura empresarial (patronal é um termo exaurido). Ninguém fala em indústria patronal, mas sim em empresas. Há produtores familiares que deveriam alimentar o agronegócio. Não há nada pior que o produtor estar no "agro-não-negócio", pois isso significa que ele está fora do mercado e não obtém os benefícios de estar em uma cadeia produtiva.

Pergunta: Embora seja um grande produtor e exportador de soja, carne e outros produtos, o Brasil está sujeito a preços internacionais que podem tornar a produção pouco vantanjosa de um momento para outro. Como o país pode superar esta dependência?

Samuel Giordano: Não são apenas os preços que constituem o problema. Há também o problema de acesso a mercados (há mercados que nem sabem o que o país produz) e há o problema das barreiras tarifárias, quotas, barreiras sanitárias, e etc. Seria ótimo poder exportar bifes em bandejas de plástico biodegradável e café em pó torrado e moído, mas há um longo caminha a percorrer para se chegar a isso. O mercado interno tem limites que são superados em muito pela capacidade brasileira em produzir.

Pergunta: E como o Brasil poderia agregar valor aos produtos que exporta hoje com pouco ou nenhum beneficiamento?

Samuel Giordano: Lutando na OMC e em outras instâncias, como no comércio bi-lateral, por exemplo. A Tailândia não tem a menor idéia do que o Brasil produz e como comprar dele. O Sebrae tem ajudado em muito a fazer esse papel que seria do Estado.

LENARA LONDERO

 

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