| 23/06/2005 18h10min
A safra 2005/2006 de grãos do Brasil, que começará a ser cultivada em meados de outubro, deverá registrar queda de área e de investimentos em decorrência da menor renda no campo. A avaliação é do diretor de Assuntos Corporativos da Bunge no Brasil e presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Carlo Lovatelli.
– A área plantada cai um pouco (na próxima safra) e deveremos ter menos tecnologia aplicada na agricultura – afirmou Lovatelli.
Produtores brasileiros passam atualmente por dificuldades financeiras depois de perdas na última safra devido à forte estiagem que atingiu boa parte do país e pela queda dos preços no mercado local, causada tanto pelos valores menores nos futuros como pela valorização do real contra o dólar.
– Foi um baque muito grande. Os agricultores perderam R$ 10 bilhões em receita e quase 20 milhões de toneladas de grãos. E não temos um mecanismo para sanar esse tipo de buraco – afirmou Lovatelli, que não quis arriscar um percentual para a queda da área de grãos.
– Esse problema todo pode afetar a safra nova. Claro que algum reflexo deve haver – afirmou.
Cristiano Walter Simon, presidente da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), entidade que reúne produtores de insumos agrícolas, concordou com a avaliação do diretor da Bunge. Segundo ele, a dívida atual dos produtores brasileiros com as empresas de insumos está entre R$ 4 e R$ 6 bilhões.
– Observamos que não houve, até agora, antecipação de vendas de insumos para a próxima safra (de grãos), o que sinaliza uma indefinição do produtor sobre os seus planos – afirmou Simon a jornalistas, antes do início do 4° Congresso Brasileiro de Agribusiness, em São Paulo.
Um indicador do menor apetite para investimento por parte do setor rural é a projeção para vendas de máquinas agrícolas. Segundo Pérsio Luiz Pastre, diretor da Case New Holland no Brasil e membro do conselho diretor da Abag, as vendas de colheitadeiras devem cair cerca de 80% neste ano e as de tratores já registram queda de 30%.
– Na área de colheitadeiras, não é possível recuperar a perda, afinal de contas o grosso da área (de grãos) já foi colhida – afirmou.
– Nos tratores é possível recuperar, já que a preparação do solo para a próxima safra ocorre no segundo semestre, mas dependerá dos investimentos que serão previstos no plano safra – acrescentou.
É possível que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncie na sexta-feira o plano agrícola para a próxima safra.
Lovatelli afirmou, no entanto, que a queda na produção de grãos evitou problemas logísticos.
– Seria quase o caso de falar: ainda bem que não tivemos 130 milhões de toneladas – afirmou.
Ele declarou também que o Brasil precisa abrir novos mercados para seus produtos agrícolas, sob o risco de ver uma queda de preços por um eventual excesso de produção.
As informações são da agência Reuters.
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