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 | 08/03/2005 19h29min

Ministro diz que Mesa considera tornar renúncia irrevogável

Presidente boliviano quer garantias de governabilidade no Congresso

O presidente boliviano, Carlos Mesa, tornará irrevogável a sua renúncia se o país não chegar a um acordo que garanta a governabilidade e permita resolver seus problemas mais importantes, disse nesta terça, dia 8, o ministro da presidência (equivalente à Casa Civil), José Galindo, um dos principais colaboradores de Mesa.

– Se não existe um acordo de governabilidade e sobre a lei de hidrocarbonetos (gás natural) e outros temas, não haverá outra saída a não ser o presidente apresentar sua carta de renúncia em caráter irrevogável – disse Galindo.

As declarações foram feitas cerca de duas horas antes da reunião conjunta da Câmara e do Senado, em que os parlamentares vão considerar formalmente a surpreendente renúncia de Mesa, anunciada no domingo. Galindo disse que todos os setores sociais e políticos, inclusive os que atualmente realizam bloqueios e greves, deveriam participar do acordo nacional. Ele acrescentou que para Mesa é necessário que o Congresso, além de rejeitar sua renúncia, lhe dê condições para governar.

– Se a renúncia for rechaçada simplesmente, ou for devolvida sem consideração, em duas ou três semanas podemos estar de novo na mesma situação – afirmou.

Aparentemente, há uma corrente política majoritária favorável à continuidade do governo Mesa, um político sem partido que disse, ao anunciar a decisão, que chegara "ao limite" da resistência diante das diversas pressões relativas lei do gás. O Congresso, dominado pela oposição, deveria iniciar a sessão s 16h (17h em Brasília), em meio a grande expectativa da população. Galindo disse que o acordo nacional deveria incluir a Lei dos Hidrocarbonetos, com a qual a Bolívia espera tirar o máximo proveito das suas enormes reservas de gás, que na América do Sul são inferiores apenas às da Venezuela, as reivindicações de autonomias regionais e à convocação de uma assembléia constituinte.

Ainda há focos de tensão, como um bloqueio na estrada que cruza o país de leste a oeste e na região do Chapare, grande produtora de coca. Os manifestantes exigem mudanças na lei do gás, que ainda não foi sancionada, de forma a cobrar mais impostos das multinacionais, inclusive a Petrobras, que investem na Bolívia. Também há bloqueios em vários acessos a El Alto, um subúrbio pobre de La Paz onde os manifestantes exigem a expulsão de uma filial da empresa francesa Suez, que explora os serviços de abastecimento de água, e a convocação de uma constituinte.

– A presidência de Mesa é um mal necessário – disse Roberto de la Cruz, influente sindicalista e vereador de El Alto.

Para ele, as organizações da cidade, majoritariamente indígena, não vêem alternativa a Mesa, um político que chegou ao poder 17 meses atrás, após outra onda de protestos sociais. Mesa também enfrenta a pressão do Departamento de Santa Cruz, na fronteira com o Brasil, que é o motor econômico da Bolívia. Parte da população de lá exige um referendo para garantir maior autonomia à região. O senador Hugo Carvajal, do Movimento de Esquerda Revolucionária (de oposição), disse que os líderes parlamentares estão interessados em um acordo.

– Achamos que é preciso desconsiderar a renúncia do presidente, não cremos que seja necessário continuar aumentando a incerteza e o conflito no nosso país, mas somos conscientes de que não é suficiente ratificar a confiança e desconsiderar a renúncia para conseguir governabilidade.

O presidente do Senado, Hormando Vaca Díez, também do Movimento de Esquerda Revolucionária e eventual sucessor constitucional de Mesa, disse esperar que o presidente cumpra seu mandato até o final, em 2007. O esquerdista Evo Morales, líder opositor e principal dirigente dos plantadores de coca que bloqueiam a estrada do Chapare, afirmou que nunca buscou a saída de Mesa e que considera, inclusive, que a carta de renúncia "nem sequer deveria ser lida" no Congresso.

Outro dirigente da oposição, Manfred Reyes Villa, da populista Nova Força Revolucionária, anunciou que seu partido votará contra a renúncia, pois ela "pode aprofundar ainda mais a crise". Os grupos de Carvajal, Morales e Reyes Villa formam a maioria no Congresso, o que indica que a renúncia não será aceita. Mas, para o analista político Jorge Lazarte, "o importante é o modo de (rejeitar a renúncia), para que o que começou como um drama não termine como comédia".

As informações são da agência Reuters.

 

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