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 | 04/03/2005 14h31min

Seca frustra euforia pela liberação dos transgênicos

Decisão aguardada por produtores há anos veio em momento de perdas

O assunto mais comentado nas rodas de conversas entre agricultores nos últimos anos passou quase despercebido nesta quinta, dia 3, nas regiões gaúchas produtoras de soja. A liberação dos transgênicos sucumbiu em importância às perdas com a seca. Há cinco anos plantando soja geneticamente modificada, o agricultor de Entre-Ijuís, nas Missões, Ademar Heldt, não conseguiu comemorar a notícia que ele esperava com ansiedade.

– A notícia é boa, mas veio em uma hora ruim – diz o agricultor, da localidade de Serra de Baixo.

Neste ano Heldt não vai ter que pagar royalties sobre a produção. Ele cultivou soja em 56 hectares e perdeu tudo. Nem vai passar a colheitadeira na terra. A cultura vai virar em breve comida para as oito vacas leiteiras. Sem a principal fonte da família, resta a produção de leite.

Na safra passada Heldt já havia colhido 50% menos do que o previsto. Os custos reduzidos para manter a lavoura foram o que motivou o produtor a plantar transgênicos. Neste ano, empolgado com as previsões de El Niño, Heldt investiu mais em adubos e fertilizantes. O produtor acredita que a liberação do grão geneticamente modificado vai ser crucial para as próximas safras.

Para o diretor de produção da Cooperativa Tritícola Mista Alto Jacuí (Cotrijal), de Não-Me-Toque, Gelson Melo de Lima, a aprovação da Lei de Biossegurança vai permitir que pesquisas desenvolvam plantas resistentes à seca.

– Abre-se caminho para novas tecnologias. Sempre defendemos que a ciência, a biotecnologia e a transgenia são extremamente necessárias para se fazer frente aos desafios – justifica Lima.

Em Giruá, que tem uma das maiores áreas de soja do Estado, a transgenia já virou assunto secundário diante das perdas com a cultura, que chegam aos 80%. Conforme o presidente do Sindicato Rural, Luis Fernando Fucks, a liberação dos transgênicos será um marco no Rio Grande do Sul, mas a partir da próxima safra.

– A preocupação do momento é a seca. Vai faltar semente para a próxima safra em razão disso – reforça Fucks.

O vice-prefeito de Guarani das Missões e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Leonardo Szinwelski, aprova a lei, mas com ressalvas.

– A realização de pesquisas é importante, desde que o governo federal não banque estudos desenvolvidos por multinacionais – afirma Szinwelski.

SILVANA DE CASTRO/AGÊNCIA RBS
 

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