O diretor do Instituto Paulo Freire (IPF), Moacir Gadotti, defende a gestão democrática nas escolas brasileiras. Especialista em educação, o professor da Faculdade de Educação na Universidade de São Paulo (USP) está em Porto Alegre para participar do 5º Fórum Social Mundial. Nesta quinta, dia 27, participou de entrevista online no clicRBS. Confira a íntegra da entrevista:

Pergunta - O senhor vai participar de pelo menos oito atividades no Fórum Social Mundial 2005. Como diretor do Instituto Paulo Freire e professor titular da Faculdade de Educação da USP, que assuntos relacionados à sua área de atuação serão discutidos? Como as idéias que circulam no FSM podem chegar nas escolas?

Moacir Gadotti - Uma das idéias mais importantes discutidas neste fórum é a questão da tradução intercultural. Devido à enorme afluência de instituições e movimentos socias no FSM, precisamos de uma metodologia cada vez mais apropriada e dialógica para nos comunicar com diferentes e para mostrar o que temos em comum sem perder a nossa identidade. Daqui a pouco estou indo para a sala f 604 para tratar do tema reinventando o poder: a praxis freiriana. Este também é um tema importante: não basta chegar ao poder para mudar a sociedade. É preciso reinventar o próprio poder como dizia Paulo Freire.

Pergunta - O que é gestão democrática na escola?

Moacir Gadotti - É muito importante a sua pergunta. Tem a ver coma reinvenção do poder. Para reinventar o poder é preciso democratizá-lo radicalmente, portanto, dissolvê-lo. E para isso não bastam conselhos de escola ou direcão direta de diretor. É preciso criar um outro espírito, relacões novas de amizade e companheirismo dentro das escolas.

Pergunta - E isto já está ocorrendo no Brasil? Que exemplos o senhor pode citar?

Moacir Gadotti - O IPF tem um programa "Jovem Paz" que forma educadores sociais jovens para a cultura da paz e da sustentabilidade. Criando nas escolas rádios comunitárias e jornais estudantis. A comunicação é muito importante nas escolas para a geração da paz e de relações mais cordiais. A isso chamamos educomunicação.

Pergunta - Que avaliação o senhor tem da educação pública brasileira. De acordo com o IBGE, 13,3% da população brasileira acima de 15 anos é analfabeta. A taxa de escolarização, entre as crianças de 7 a 14 anos, chega a 95,7%. Os dados são de 1999. O Brasil está no caminho certo? Os mutirões de alfabetização, promessa de praticamente todos os governos do país, funcionam?

Moacir Gadotti - Creio que nosso atraso educacional é conhecido de todos. Houve um avanço do ingresso do aluno no nível fundamental. Mas não houve a inclusão com qualidade. Esse é o desafio atual. A educação precisa de qualidade, sobretudo, de qualidade social.