| 30/03/2004 18h15min
Em 31 de março de 1964 um grupo formado por militares e forças políticas conservadoras detonou o processo que tirou João Goulart da Presidência em 1º de abril. O Brasil então se dividiu: enquanto os vitoriosos exaltavam a “Revolução de 31 de março”, os derrotados se rebelavam contra o “Golpe de 1º de abril”. Começou ali um regime militar que durou 21 anos. No poder, diferentes grupos da direita disputavam o controle. Na oposição, defensores e críticos do governo deposto se uniram para combater o inimigo em comum: a ditadura.
No início dos anos 60, o Brasil vivia em colapso. Numa conjuntura recessiva, os industriais não toleravam mais as pressões por aumentos salariais, e os fazendeiros rejeitavam até as propostas mais moderadas de reforma agrária. A direita exigia que o presidente reprimisse os sindicatos, enquanto a esquerda reclamava a implantação imediata das reformas de base. No Exterior, as relações do Brasil com os Estados Unidos estavam estremecidas pelo crescente antiamericanismo dos setores populares organizados e por algumas medidas de política econômica.
Goulart era um reformista. Não pretendia ser um revolucionário, mas tampouco queria liquidar a estrutura sindical que havia ajudado a construir. Quando os trabalhadores lhe pediram armas, recusou-se a fornecê-las. Ao mesmo tempo, rejeitou as propostas de generais para romper com os sindicatos e formar um ministério conservador.
O comportamento ambíguo de Jango com relação aos comunistas e com a deterioração externa e interna do quadro econômico, marcado pelo esgotamento das reservas cambiais e por uma inflação galopante, também pesavam contra o presidente. Diante de tudo isso, cresciam os movimentos reivindicatórios nas cidades e no campo e, ao mesmo tempo, começavam a ganhar corpo as articulações golpistas, com as bênçãos e a colaboração da CIA.
Em março de 1964 os generais legalistas de 1961 não estavam mais ao lado do presidente. O comandante do 2º Exército (com sede em São Paulo), general Amaury Kruel, padrinho de o filho de Jango, João Vicente Goulart, vinha pressionando para que o presidente deixasse claro seu repúdio aos comunistas e fechasse o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e o Clube Militar. O presidente se negou a tomar tais atitudes. Kruel acabou sendo um dos líderes do golpe.
Em abril de 1964, Brizola propôs resistência. Dispunha da rede de emissoras montada durante a Legalidade nas mãos, mas de nada adiantou. Dois anos e sete meses depois, não havia mais o fator surpresa que foi a renúncia de Jânio. Os militares já estavam articulados. Jango, pela segunda vez, preferiu ceder. Rumou para sua fazenda em São Borja e, de lá, para o Uruguai, mergulhando no exílio, de onde nunca mais retornou. Morreu em dezembro de 1976 sem nunca ter podido voltar ao Brasil. Brizola ainda tentou resistir, mas acabou deixando o país semanas depois, mergulhando num exílio de 15 anos.
Uma semana depois de o Congresso Nacional declarar vago o posto de presidente da República e de o general Humberto de Alencar Castelo Branco assumir o poder, foram cassados os mandatos de 41 deputados federais. Além de Jango e Brizola, no mesmo período tiveram suspensos os direitos políticos, entre outros, Jânio Quadros, Juscelino Kubitscheck, Luís Carlos Prestes, Miguel Arraes, Celso Furtado, além dos ex-ministros de Jango Almino Afonso, Paulo de Tarso Neto, Darcy Ribeiro e Waldir Pires.
A lista, que, juntamente com a deposição de Jango, formava o Ato Institucional número 1, incluía ainda 29 líderes sindicais e 122 oficiais expulsos das Forças Armadas. O ato demitiu ainda 10 mil funcionários públicos suspeitos de atos subversivos, tornou ilegais os partidos da oposição, os sindicatos e as associações de classe, proibiu greves, extinguiu a União Nacional dos Estudantes (UNE) e várias entidades estudantis.
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