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Um discreto cientista britânico foi encontrado morto nesta sexta, dia 18, após ter sido involuntariamente arrastado para uma violenta disputa política sobre a informação usada para justificar a guerra ao Iraque. A polícia britânica disse ter encontrado no meio do mato um corpo que combinava com o de David Kelly, um biólogo de fala macia que trabalhava para o Ministério da Defesa e que também foi inspetor de armas da Organização das Nações Unidas.
Kelly foi interrogado severamente no Parlamento inglês sobre as alegações de que o governo teria manipulado as informações para justificar a guerra ao Iraque. A notícia caiu como uma bomba no meio político britânico. O premiê Tony Blair, que soube da descoberta do corpo enquanto viajava de Washington para Tóquio, prometeu um inquérito judicial independente sobre a morte no caso de ser confirmado que o corpo era o de Kelly.
Mas a oposição pede que Blair volte e enfrente uma investigação mais ampla sobre a questão da guerra. O choque chegou a derrubar a libra em meio por cento nos mercados de câmbio enquanto o mercado media a gravidade da crise para Blair.
A família de Kelly reportou seu desaparecimento durante a noite, depois que ele saiu para uma caminhada na zona rural de Oxfordshire nesta quinta sem uma capa de chuva, apesar da tempestade que estava caindo. A polícia disse que não estava tratando sua morte como suspeita e que a causa da morte só será confirmada após exames de post-mortem.
Ele havia negado ter sido a fonte do repórter da BBC, Andrew Gilligan, que disse em maio que uma importante fonte do serviço de inteligência britânico havia lhe dito que o governo tinha exagerado a informação sobre o Iraque. A reportagem provocou audiências parlamentares para saber como o governo tratou a questão da guerra, obrigando Blair a se defender e jogando autoridades do governo contra a BBC.
A notícia da morte de Kelly obscureceu completamente a recepção arrebatadora que Blair teve no Congresso dos Estados Unidos na quinta, embora não haja indicação de que o premiê vá mudar seus planos de uma longa viagem à Ásia.
– O premiê está obviamente muito triste pela família do doutor Kelly – disse um porta-voz a bordo do avião.
O líder do Partido Conservador, Iain Duncan Smith, da oposição, disse que Blair deveria voltar para a Inglaterra e qualquer inquérito deveria cobrir a questão inteira da informação usada para justificar a guerra.
– Se eu fosse o premiê, eu suspenderia essa visita e voltaria para casa. Há muitas questões que precisarão ser feitas nos próximos dias – disse.
Kelly entrou claramente contra a vontade para o debate público sobre a informação do Iraque. Falando tão baixo que mal podia ser escutado, ele admitiu ao comitê dos Assuntos Externos do Parlamento que havia se encontrado com Gilligan, mas negou ter dito a ele que o governo estava manipulando as informações sobre o Iraque.
Kelly ficou evidentemente contrariado quando parlamentares presentes à sessão se referiram a ele como um "bode expiatório", que teria sido escalado pelo governo para levar a culpa pelo escândalo. A mulher de Kelly, Jane, disse que ele ficou profundamente abatido pelo depoimento, segundo um amigo da família, Tom Mangold, em declarações ao canal ITV News.
– Ela me disse que ele estava sob um estresse considerável, que ele estava muitíssimo irritado com o que aconteceu na comissão – afirmou.
O governo disse que se Kelly foi a única fonte de Gilligan, seus depoimentos contrários provavam que a história da BBC estava errada. Gilligan, que nunca identificou sua fonte, foi questionado numa audiência a portas fechadas mais ou menos na hora em que Kelly desapareceu na quinta.
As informações são da agência Reuters.
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