| 11/03/2008 20h06min
O embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, informou hoje a deputados e senadores que a União Européia (UE) determinou ao país vigilância maior em relação a brasileiros, bolivianos e paraguaios, na América do Sul, e cidadãos do norte de África e do Leste Europeu.
Estes viajantes usariam a Espanha como porta de entrada para toda a UE, onde permaneceriam, ilegalmente. A determinação para o endurecimento das normas partiu da Agência para o Controle das Fronteiras Externas da União Européia (Frontex).
Peidró entregou ainda aos deputados e senadores das Comissões de Relações Exteriores da Câmara e do Senado documentos do Ministério do Interior espanhol — tidos como reservados — que descrevem (do ponto de vista das autoridades espanholas) o que ocorreu com 26 brasileiros retidos na quarta e quinta-feira, que foram repatriados por não terem os papéis exigidos pela UE.
De acordo com o relatório, eles não conheciam ninguém na Espanha para darem uma
referência qualquer, não tinham
passagem aérea de volta, não tinham reserva em hotel nem dinheiro suficiente para a estada. Enquadravam-se, de acordo com o documento do governo espanhol, nas regras da repatriação.
Ele disse ainda que todos os dias chegam a Madri 12 vôos procedentes do Brasil e que 800 brasileiros desembarcam na capital espanhola. Diariamente, também, são detidos oito brasileiros (1% do total), que regressam ao país.
— A vigilância é feita por amostragem. Os agentes escolhem alguns para pedir documentos. Os que não os têm são retidos porque essas são as regras. Elas não foram criadas pela Espanha, são da União Européia — disse.
Peidró não quis fazer comentários sobre cidadãos espanhóis que aliciam jovens brasileiros, levando-as para se prostituir na Espanha.
— Isso é problema de polícia, não da diplomacia — afirmou.
Quanto à possibilidade de a eleição na Espanha ter influenciado a vigilância, respondeu:
—
A eleição mexeu com muita coisa. A migração foi um dos temas
principais.
Maus-tratos
Sobre maus-tratos sofridos pelos brasileiros no Aeroporto de Barajas, na capital espanhola, nos dias seguintes à detenção dos 26 passageiros provenientes do Brasil, o embaixador da Espanha afirmou que eles não haviam ficado em salas lotadas, mas em alojamentos limpos e que só demoraram a ser devolvidos porque os países da UE exigem que todos tenham direito de defesa.
— A todos, foi oferecido advogado porque muitos gostam de registrar queixas, o que ocorreu com alguns — declarou.
Peidró admitiu aos senadores brasileiros, com os quais teve uma reunião reservada, que o país está "muito insatisfeito" com o princípio da reciprocidade adotada pelo governo do Brasil, o que barrou espanhóis que não tinham documentos suficientes para entrar no país na semana passada e nesta.
O embaixador prosseguiu afirmando esperar que a situação se resolva logo. Peidró voltou a
acentuar que a Espanha não discrimina os brasileiros:
— A imagem
dos brasileiros lá é muito boa. São muito trabalhadores, pelo menos os que estão lá estabelecidos.
Peidró esclareceu que a Espanha é o segundo destino turístico dos brasileiros e também um grande atrativo na área da educação, porque também está em segundo lugar entre os mais procurados por estudantes do Brasil para cursos de pós-graduação.
O embaixador explicou ainda que a Espanha está em segundo lugar na lista dos que mais investem no Brasil.
Embaixador Ricardo Peidró voltou a dizer que a Espanha não discrimina os brasileiros
Foto:
Marcello Casal, JR/ABr
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