| 19/01/2008 08h49min
A reação imediata do mercado financeiro ao pronunciamento do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sobre o pacote de estímulo fiscal foi de decepção.
— Os mercados aguardavam mais detalhes do pacote. Bush poderia ter sido mais enfático do que foi. Mas a gente enxerga que há disposição do governo e do Fed (banco central americano) em evitar recessão — comentou o economista Bráulio Borges, da LCA Consultores.
Ontem à tarde, Bush propôs uma série de medidas fiscais para evitar que o país entre em recessão. Na avaliação dele, para ser eficaz, o pacote de estímulo econômico deve ser equivalente a 1% do produto interno bruto (PIB) dos EUA, ou seja, ficar entre US$ 140 bilhões e US$ 150 bilhões. O presidente defendeu a implementação do plano o mais rapidamente possível, e com duração limitada.
Segundo Borges, o pacote só deve começar a mostrar seus efeitos sobre a economia do segundo trimestre em diante. Até lá, os mercados
devem manter a volatilidade. Um dos efeitos da
fala de Bush se deu no mercado futuro de juros dos EUA, onde cresceu a aposta de um corte de 0,75 ponto percentual da taxa básica na reunião do Fed que será realizada nos próximos dias 29 e 30. Atualmente, o juro está em 4,25% ao ano. Borges disse ainda que, a partir do segundo trimestre, ficará mais claro se os EUA entrarão em recessão ou não. Ele estima que o PIB americano terá crescimento zero neste trimestre. Para o ano, o economista prevê uma expansão "pouco abaixo de 2%".
Expectativa frustrada
O economista Fausto Gouveia, da Alpes Corretora, concorda com o colega:
— O pacote criou uma expectativa muito grande, que não foi atendida pelo anúncio em si.
Para ele, o volume de recursos que deve ser aplicado na ajuda é bom, já que supera as perdas estimadas com a crise das hipotecas de alto risco, de aproximadamente US$ 100 bilhões. Porém, o problema é que o prejuízo final ainda é "incerto",
comentou. A seu ver, ele é bem mais profundo do que simplesmente
injetar dinheiro na economia, porque também será preciso restaurar a confiança da população. Endividadas, as pessoas temem voltar a gastar. Gouveia também chamou a atenção para a agilidade na implementação das medidas.
— O rápido de Bernanke (Ben Bernanke, presidente do Fed) e Bush não é o rápido do Congresso, que nem está funcionando ainda. E o momento exige medidas imediatas. Precisa ser algo rápido de verdade — salientou.
Para o economista e professor da PUC paulista Antonio Corrêa de Lacerda, as medidas de Bush para aquecer a economia americana são corretas e mostram que há intervenção governamental na economia mesmo num país tradicionalmente liberal como os EUA. Para ele, "as medidas do governo devem aquecer a economia":
— Particularmente, não acredito que os EUA entrem em recessão, mas sofra uma desaceleração.
Lacerda estima que o PIB americano deve crescer de 1% a 1,5% neste ano. O professor lembrou
que, na crise de 1929, o economista John Maynard Keynes
defendeu mecanismos semelhantes para estimular a economia.
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