| 21/08/2007 12h52min
As forças ocultas que levaram Cláudio Duarte ao desligamento do Juventude vieram do além, contratadas pela direção. A busca de auxílios extra-futebol, em especial a presença de um misterioso guru junto à delegação, desgostaram o técnico a ponto de ele pedir demissão às vésperas da abertura do segundo turno do Brasileirão.
O personagem principal dessa divergência entre técnico e direção, como convém a um enredo do gênero, está cercado de mistério. No Estádio Alfredo Jaconi, é conhecido apenas como "Pin". O número de dirigentes que sabem o seu nome completo cabe nos dedos de uma mão. São os mesmos que fizeram com Cláudio Duarte um pacto de silêncio sobre os motivos da saída do treinador. E ele está sendo cumprido por ambas as partes.
Pin é uma espécie de guru contratado pela direção para ajudar a espantar a má fase do clube. Ele não estava sozinho nesta cruzada alviverde pelas forças do além. O clube cercou-se ainda de uma mãe-de-santo – que visitou o Jaconi em segredo na quinta-feira – e realizou uma missa na manhã de domingo na capela do Estádio, o que não acontecia há anos. Além disso, recorreu a uma palestra do consultor motivacional Evandro Mota, que trabalha no Inter e presta assessoria a clubes como Botafogo e Palmeiras.
Pelo contato direto que teve com jogadores, Pin foi o pivô principal do desgosto de Claudião. O guru esteve na semana passada em Salvador do Sul, onde o Juventude realizou uma intertemporada em busca de forças pela reabilitação. Para Cláudio Duarte, um trabalho eminentemente tático e técnico. Mas Pin, com aval da direção, tinha outros planos.
É atribuída a ele a não-utilização da camisa 4, número que teria efeito negativo, no jogo contra o Corinthians. Uma atitude interpretada pelo técnico como ingerência em assunto de sua alçada.
O guru também teve duas reuniões a portas fechadas com os jogadores, na terça-feira e na sábado, sem a presença sequer da comissão técnica. Pediu teipes de treinos e jogos e teria ainda sugerido mudanças em horários de programação.
O zagueiro Wescley soube apenas no vestiário do Alfredo Jaconi, cerca de uma hora antes de enfrentar o Corinthians, que entraria em campo com o número 19 às costas. Coincidência ou não, ele marcou um gol em um chute quase do meio-campo, com a colaboração do quique da bola e da falha do goleiro Felipe. Um lance insuficiente para convencer o jogador da validade da alteração:
– Eu fiz dois gols com a camisa quatro também – lembrou.
O quatro teria sido considerado por Pin um número negativo e, por isso, foi banido da formação do time. Já o 19 seria a soma dos 16 pontos que o Juventude tinha até então com os três da vitória que tentaria obter. Por essa lógica, Wescley vestiria a camisa 20 diante do Flamengo. O que ele acataria, mesmo sem concordar:
– Se numerologia ganhasse, o time dos matemáticos seria campeão brasileiro todo ano. Eu queria continuar com a quatro, mas quem manda são os diretores.
Pin seria chileno, teria cerca de 50 anos e um sotaque difícil
de ser decifrado. Houve até quem pensasse que se tratava de um dos "donos" da Abyara, a incorporadora (no sentido imobiliário) que patrocina as camisas do time e está adquirindo a área da sede campestre por cerca de R$ 50 milhões. Na verdade, ele teria sido indicado por alguém do alto escalão da empresa paulista.
As rápidas conversas com os boleiros tampouco serviram para maiores esclarecimentos. Segundo relatos, Pin falou sobre a própria vida, contou ter sido criado por chineses, vangloriou-se de andar descalço no gelo sob temperatura de 15ºC negativos e prometeu fazer os goleiros voarem.
– Olha, cara, para te falar a verdade eu não entendi nada – contou um jogador, com evidente pedido de anonimato.
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