| 10/02/2007 19h52min
Onze anos de abandono e críticas se passaram até o Estádio Municipal de Cidreira, popularmente conhecido como Sessinzão, ser reformado para voltar a sediar jogos do Gauchão no verão de 2007. Ao todo foram investidos nas obras cerca de R$ 700 mil, entre recursos municipais, do Ministério do Esporte e de parcerias com empresas. As partidas na praia, que registraram uma média de público de 8 a 9 mil pessoas, agradaram principalmente aos comerciantes e veranistas, empolgados com o aumento do movimento na cidade. Já os torcedores divergem: enquanto uns aprovam a iniciativa, outros reclamam da infra-estrutura inferior daquela que é oferecida nas casas da dupla Gre-Nal.
A família Almeida está entre os que ficaram satisfeitos com o Gauchão praiano. Eles vieram para o Litoral apenas para ver o time do coração, o Inter, encarar o Guarany-Ba neste sábado. Flávio, Andréia e o filho Eduardo, de sete anos, saíram de Uruguaiana às 19h de ontem, viajaram cerca de 700 quilômetros, e chegaram a
Cidreira no começo
da manhã.
– Faz oito anos que não vou ao Beira-Rio. Decidimos de repente vir para cá assistir ao jogo. Em Porto Alegre, se fica muito longe do campo, aqui dá para ver melhor os jogadores – observou o autônomo Flávio.
Outro que aproveitou a oportunidade para ver o Colorado em ação foi o aposentado Paulo Romeu Guterres, 53 anos, de Alegrete.
– Foi muito bom trazer esses jogos para cá, porque isso aqui (o estádio) estava parado há muitos anos. É bom para movimentar a praia. Moro longe e esta é uma boa chance para eu ver o time – declarou o veranista de Magistério.
O professor aposentado Breno Cláudio da Silva, 66 anos, é sócio do clube do Beira-Rio e além do confronto com o Guarany, assistiu à derrota para o Juventude no domingo passado. Ele gostou da volta dos jogos a Cidreira, mas reclamou do horário de funcionamento das bilheterias:
– Só abrem às 13h30min. Deveriam funcionar desde as 12h –
enfatizou.
Em mural do clicRBS, outros torcedores se manifestaram em relação à questão. Para Felipe Barcelos Alves, as partidas na praia prejudicam no número de público:
– Em vez de ser um atrativo, acabam apresentando jogos sem graça e longe da sua torcida. Pura politicagem. Acho que os jogos devem acontecer nos estádios dos próprios times – opinou.
O pelotense Samuel Mancini acredita que as partidas em Cidreira não saem em conta para o torcedor do Interior, uma vez que aumentam os custos de deslocamento.
– Dificultam cada vez mais a ida de torcedores de times do Interior, aumentando os custos em viagens, alimentação, ingresso. Sem contar na precariedade do
Estádio em Cidreira e no despreparo da Brigada Militar local –
reiterou.
Movimentação satisfaz comerciantes e veranistas
O prefeito de Cidreira, Beto Pires, por sua vez, salientou que a volta do Gauchão ao município foi muito positiva para o turismo e comércio locais.
– Foram gerados cerca de 350 empregos no entorno e dentro do estádio. Fora isso, houve uma melhora da imagem da cidade, que por muito tempo ficou marcada na mídia de maneira negativa – referiu Pires, em alusão às acusações de corrupção contra o ex-prefeito Elói Braz Sessim nos anos 90.
Muitos comerciantes se estabeleceram do lado de fora do estádio, mas as vendas, de um modo geral, ficaram abaixo do esperado. Segundo os trabalhadores, isso ocorreu principalmente pelo grande número de ambulantes ilegais que atuavam nos dias de jogos.
– Muitas pessoas sem alvará trabalham aqui. A fiscalização é fraca – explicou o vendedor Carlos Alberto Torales, que apesar dos números pretende
trabalhar no próximo Gauchão na praia.
Graci Mota dos Santos, 50
anos, enfrentou o mesmo problema. A comercialização de bebidas, pastéis e enroladinhos atingiu uma média de R$ 100 a R$ 150 por dia, aquém do que foi planejado. Segundo ela, as pessoas irregulares entravam nas filas, vendiam seus produtos e a fiscalização dizia que não dava conta de coibir. Conforme o prefeito Beto Pires, cerca de 15 pessoas atuaram na vigilância, mas o objetivo é ampliar o número de funcionários para o próximo ano, a fim de evitar maiores transtornos.
Proprietária de uma padaria, que ela alugou em 2007, Graci reconheceu que, apesar dos problemas com os vendedores irregulares, o saldo do Gauchão foi positivo para os moradores de Cidreira, como ela.
– Conheço muitos comerciantes e todos têm dito que a sorte deste ano foram os jogos – declarou.
Entre eles está Álvaro Gomes Pacheco, 37 anos, proprietário de um mercado. Para ele, o retorno do Gauchão foi fundamental para melhorar o movimento e colocar a cidade novamente na mídia.
– Foi ótimo para a cidade, que
andava meio esquecida. Muitas pessoas que não vinham para praia apareceram só para os jogos. Alguns passavam por aqui e perguntavam onde ficava o estádio – revelou Pacheco, que registrou um aumento de 25 a 30% nas vendas no período.
Veranista de Cidreira há quatro anos, a porto-alegrense Adriana Remião, 39 anos, ficou satisfeita com o aumento do movimento na praia durante o Estadual. Assim como ela, a técnica em enfermagem Ana Cristina Marcelo, 27, aprovou a idéia:
– É ótimo, melhora o entretenimento das pessoas através do futebol, e também dá uma utilidade para o estádio – afirmou.
A realização de oito jogos neste verão em Cidreira também foi apontada como positiva para a Federação Gaúcha de Futebol. O presidente Francisco Novelletto salientou que para 2008 cogita-se a idéia de algumas partidas serem disputadas nas sextas e sábados à noite, uma vez que muitas pessoas deixam de acompanhar os jogos para ir à praia. Mas o Municipal de Cidreira, com
capacidade para 18 mil pessoas, não
ficará fechado até o próximo Gauchão. Durante o ano, o local será usado para o atendimento de crianças e jovens que desenvolverão a prática de esportes como futebol, judô, atletismo e capoeira no turno contrário ao da escola.
Ana Maria Acker
ana.acker@rbsonline.com.br
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