| 08/10/2006 22h56min
O combate entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin foi marcado pela agressividade. Os presidenciáveis abandonaram a cordialidade que embalou o primeiro turno para se enfrentarem na TV, e o palco da Rede Bandeirantes se transformou em um ringue. Menos propostas e mais críticas deram o tom do programa, o primeiro do segundo turno e a estréia de Lula em debates nestas eleições.
A artilharia pesada preparada para a tela entre Lula e Alckmin começou pouco depois das 20h30min e se estendeu por mais de duas horas. Faltou disposição para apresentar programas de governo e sobrou fôlego para ironias e ataques pessoais. A ânsia pelo embate fez com que Lula cometesse uma gafe: sequer deu boa-noite aos telespectadores quando apareceu ante às câmeras.
Sanguessugas, mensalão, Dossiê Cuiabá, ética e corrupção protagonizaram a primeira parte do programa. Para contrapor escândalos que sacudiram o atual governo, Lula tentou falar sobre comissões parlamentares de inquérito (CPIs) não instaladas na época em que Alckmin era governador de São Paulo. O passado teve destaque: o petista criticou privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso e o apagão.
O embate aguerrido pode ter sido o estopim para uma campanha ferrenha na reta final. A questão ética pontuou o programa. Alckmin falou em mais de uma oportunidade que é fundamental descobrir a origem do dinheiro que seria usado para o pagamento do Dossiê Cuiabá – que supostamente envolveria tucanos à máfia dos sanguessugas. Lula, que preferiu se manter longe de debates no primeiro turno, disse que agora quer mais programas neste formato.
O segundo bloco foi pouco produtivo aos eleitores que aguardavam novos projetos. Ambos os candidatos gastaram o tempo apresentando dados sobre governos anteriores. Lula chamou o tucano de leviano, e este não se fez de rogado: disse que o petista mentia.
Os presidenciáveis não pouparam críticas às políticas de saúde, educação e economia no terceiro bloco – tanto do governo de Lula quanto das gestões de FH no Planalto e do próprio Alckmin em São Paulo. Para o tucano, sobrou críticas em relação à segurança pública, quando Lula lembrou os ataques do Primeiro Comando da Capital (PCC). Para o candidato do PSDB, o que faltou foi investimento do governo federal no controle de fronteiras e combate aos tráficos de armas e de drogas. Ambos ainda trataram sobre energia e infra-estrutura, como o caso de rodovias.
A política externa brasileira foi outro ponto de discórdia. Para rebater o tucano, que classificou a posição do atual governo como fraca e ineficaz, Lula afirmou:
– É difícil discutir com alguém que pensa ainda que estamos na Guerra Fria. Possivelmente, ele não saiba que temos superávit com a China. Se o Bush tivesse o bom senso como eu tenho, não teria feito a guerra do Iraque. Pensou como você e fez uma barbárie – atacou Lula.
Quando jornalistas entraram em cena para fazer as perguntas aos presidenciáveis, Lula se viu novamente ligado a casos de corrupção. Franklin Martins quis saber se, numa eventual reeleição, o petista correria mais uma vez o risco de não saber de escândalos como o mensalão e do Dossiê. Mais uma vez, o presidente exaltou a Polícia Federal e disse ser o primeiro interessado em punir culpados por irregularidades. O Aerolula foi o protagonista nestre trecho: Alckmin disse que venderia o avião presidencial para construir cinco hospitais. Para explicar o investimento no aparelho e a importância de um veículo, Lula lembrou os tempos de sindicalista, quando a diretoria comprou um "fusquinha para entregar material".
– Nem o papa tem avião – reagiu Alckmin.
No último bloco, outra vez houve troca de insultos e ironias. Deixa para a platéia, que deveria permanecer em silêncio, se manifestar. Ante a artilharia pesada preparada pelos postulantes ao Planalto, e que supreendeu a platéia, foi comum desde os primeiros minutos risadas ou expressões de apoio ou vaia. Todas sempre repreendidas pelo mediador, Ricardo Boechat.
Foi só nas considerações finais que tanto Alckmin quanto Lula optaram claramente por apresentar propostas aos eleitores: ambos apostam em educação e emprego. Lula ainda ressaltou investimento na indústria de base, como refinarias. Alckmin não deixou de alfinetar: para ele, não basta apenas investimento em infra-estrutura se a população vive em dificuldades.
• Confira mais detalhes da cobertura do debate no blog Votolog
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