| 06/10/2006 10h
Manuela D'Ávila participou de entrevista online no clicRBS e falou sobre a sua votação recorde de 271.939 votos. Além disso, abordou um tema delicado para o PCdoB: a cláusula de barreira.
– A cláusula de barreira se mostrou muito frágil, em minha opinião. Nós fizemos 7% dos votos para o Senado, por exemplo. E isso não é considerado. Prova maior disso é o fato do TSE ainda estar analisando o que significa mesmo a lei – disse a deputada do PCdoB.
A parlamentar gaúcha mais votada para a Câmara Federal descarta trocar de partido por causa da cláusula de barreira.
– Eu não trocarei de partido, vou lutar pela reforma política. O povo me elegeu por um partido. Defendo a fidelidade partidária – acrescentou.
Ao ser indagada sobre a sua votação, que equivale quase a totalidade dos eleitores de Caxias do Sul, um dos maiores colégios eleitorais do Estado, Manuela atribui os quase 300 mil votos ao reconhecimento de seu trabalho no mandato de vereadora. Além disso, ela acredita que os jovens contribuíram para a sua conquista:
– Acho que a juventude gaúcha também buscava uma representação.
Para a nova deputada federal, a derrota de Luiz Inácio Lula da Silva para Geraldo Alckmin no Rio Grande do Sul no primeiro turno se deve ao fato de ter sido criada durante os últimos quatro anos uma idéia de que toda a responsabilidade da crise gaúcha era do presidente petista.
– Como se os presidentes fossem outros nos outros Estados. Acho que isso influenciou. Mas no segundo turno poderemos mostrar tudo o que investimos, as promessas (até de presidentes anteriores como a duplicação da BR-101) que cumprimos – disse.
Bem-humorada, Manuela respondeu a um internauta que é cedo falar em ser presidente da República:
– Nem sai de Porto Alegre e tu já queres que eu fique por lá?
Confira a íntegra da entrevista online:
Pergunta do internauta Anselmo Cougo Malaguez – O seu partido, o PCdoB, não conseguiu atingir a cláusula de barreira nestas eleições. Na sua opinião, o que faltou para que se atingisse esse patamar de votos, apesar de sua expressiva votação no Estado?
Manuela D’Ávila – A cláusula de barreira se mostrou muito frágil, em minha opinião. Nós fizemos 7% dos votos para o Senado, por exemplo. E isso não é considerado. Prova maior disso é o fato do TSE ainda estar analisando o que significa mesmo a lei.
Pergunta do internauta Gui
– Primeiramente gostaria de te dar os parabéns pela excelente votação que tu vez. A minha pergunta é a seguinte: tu esperava essa grande quantidade de
votos?
Manuela D’Ávila – Em Porto Alegre, por exemplo, é impossível dizer que se deve à renovação. Acho que foi o reconhecimento do trabalho no mandato de vereadora. Acho que a juventude gaúcha também buscava uma representação. Nós queremos discutir a reforma política que o povo quer ver: financiamento público de campanha, fidelidade partidária, listas partidárias etc.
Pergunta do internauta Anderson Félix Brizola – Você que foi vereadora em Porto Alegre, não acha que foi um salto muito grande passar desse cargo para o de deputada federal? E a que se deve a sua enorme votação?
Manuela D’Ávila – Em geral não é comum sair da condição de vereadora para a de deputada federal, mas não acho que se trata de um salto.
Pergunta – Você pensa em trocar de partido devido à cláusula?
Manuela D’Ávila – Eu não trocarei de partido, vou lutar pela
reforma política. O povo me elegeu por um partido. Defendo a fidelidade partidária.
Não esperava esse número de votos. Acho que eles aconteceram por uma série de motivos.
Pergunta do internauta Jacob Leonardo Kaspary: Prezada Manuela, você vem defendendo que, na recente onda de escândalos, os mesmos só vieram a público em função da atuação da Polícia Federal. Com isso, você quer dizer que os envolvidos não deveriam ser punidos e que se houver julgamento no plenário via CPI você votará pela absolvição dos mensaleiros e sanguessugas do PT? Pergunto pois ainda não ouvi e vi nenhuma condenação por sua parte dos envolvidos em sua coligação...
Manuela D’Ávila – Jacob, sempre defendi a punição dos envolvidos. Depois das investigações feitas. Agora é preciso ressaltar a capacidade operacional da PF. Agora as coisas não são colocadas para baixo do tapete como eram no governo FHC. A PF investiga de maneira autônoma. Entretanto, julgo extremamente desequilibrada a atuação de alguns parlamentares nas CPIs.
Tenho a tranqüilidade de ser de um partido
com 0% de envolvidos em todos os escândalos. De agora e do passado.
Pergunta do internauta Jorge Machado – Manuela você vai apresentar projeto para meia-entrada no Brasil inteiro?
Manuela D’Ávila – Vou apresentar a lei da meia-entrada sim. Existe um movimento gigantesco, liderado pelos próprios artistas para que exista a lei.
Pergunta do internauta Krystopher-kx: Manuela, você acha que ainda existe espaço para o socialismo no mundo, ou os ideais dos partidos comunistas adequaram-se à quebra da ex-URSS?
Manuela D’Ávila – Nossos ideais são vivos. Por serem vivos é evidente que lutamos para renová-los, na teoria e na prática. A queda da URSS faz parte de nosso processo de renovação teórica e prática. Mas não para acabar com nossa perspectiva revolucionária. Mas para fazê-la atual.
Pergunta do internauta Mauro Ernani Aguirre: Caso dependesse de você, qual seria a
penalidade para parlamentares corruptos? O fechamento do Congresso ajudaria a fazer uma faxina?
Manuela D’Ávila – O Fechamento do Congresso é a ditadura. Defendo a democracia. Acho que devemos investigar e punir os culpados. Mas também acho que devemos pensar em evitar que isso aconteça de novo. A reforma política, com financiamento público de campanha, por exemplo, ajuda a evitar que isso aconteça de novo.
Pergunta – Você concorda que o Rio Grande do Sul é um dos Estados mais politizados do país? Em caso positivo, você acha que há alguma relação entre isso e a expressiva votação gaúcha na candidatura de Geraldo Alckmin, superando Lula? O eleitorado gaúcho está se tornando mais conservador? Por que você acha que Lula perdeu espaço entre os gaúchos?
Manuela D’Ávila – Muitas coisas explicam o crescimento de Alckmim no RS. Temos um eleitorado exigente. Agora no 2º turno, com o debate dos
projetos políticos tenho a convicção de que Lula
crescerá no RS. Vamos deixar claro que Alckmin e Yeda não representam o novo. Já provamos aqui e nacionalmente o gosto amargo das privatizações, do sucateamento dos serviços públicos, etc. Avançamos muito com Lula. Mostraremos que Prouni, Unipampa são realizações de um governo com a visão de desenvolvimento nacional que o povo gaúcho sempre teve.
Pergunta – Para você, qual o principal motivo da derrota de Lula no Estado?
Manuela D’Ávila – Durante esses 4 anos foi criada uma idéia de que toda a responsabilidade da crise gaúcha era de Lula. Como se os presidentes fossem outros nos outros Estados. Acho que isso influenciou. Mas no segundo turno poderemos mostrar tudo o que investimos, as promessas (até de presidentes anteriores como a duplicação da 101) que cumprimos. No segundo turno os eleitores poderão ver mais de perto tudo o que fizemos pelo RS.
Pergunta do internauta Luciano – Olá Manuela, beleza? Parabéns pela
conquista! Quais são as suas principais metas para pleitear na Câmara dos Deputados?
Manuela D’Ávila – Oi Luciano!!! Valeu... iremos lutar pelas políticas públicas para a juventude, ampliação do acesso ao ensino superior através do crescimento da rede pública e ampliação do Prouni, geração de trabalho e profissionalização não contraditória a condição de nossos jovens de serem estudantes, pelos direitos dos trabalhadores e das mulheres... Pode ter certeza que vou trabalhar muuuuito.
Pergunta – O que você pensa que ocorrerá com os partidos que não atingiram a cláusula de barreira? Haverá uma depuração das legendas menores? Ou que haverá um troca-troca de partidos que pode ser pernicioso? Nas três interpretações do TSE sobre o assunto, o PCdoB seria prejudicado. Qual será o futuro do seu partido?
Manuela D’Ávila – O PCdoB seguirá existindo por que não somos um partido de eleições. Mas da
luta do povo. Portanto, lutaremos pela reforma política
que o povo quer ver. Não posso emitir opinião sobre os outros partidos. Nunca fiz parte de nenhum outro. Acho que aqueles preocupados apenas com o processo eleitoral tendem a "fechar". Não é o nosso caso.
Pergunta do internauta Rodrigo – Bom dia deputada, primeiramente parabéns pela vitória maiúscula. Deputada, tu é a favor da coalizão de partidos como o seu e o PP por exemplo?
Manuela D’Ávila – Rodrigo, existe uma idéia sendo estudada sobre as federações partidárias. Essa sou a favor. Isso é diferente de fusão de partidos. Nas federações os partidos permanecem existindo, apenas se juntam para as disputas eleitorais
Pergunta do internauta Giuliano – Irai – Sabe-se que o TCU é um órgão acessório da Câmara, não podendo fiscalizar este órgão, sem o consentimento/pedido, da própria Câmara, o que deixa uma porta aberta para a corrupção . Você
concorda que o Tribunal de Contas tenha autonomia em fiscalizar contas que
considerar necessário?
Manuela D’Ávila – Giuliano, defendo a autonomia de todos os órgãos públicos que tenham a tarefa de controle do uso correto daquilo que é público.
Pergunta do internauta Geferson Santana de Figueiredo – Essa expressão "aí, beleza" eu conheço muito por um vendedor cego de loterias pelos ônibus de Porto Alegre chamado Vilmar. Você por acaso copiou dele esse jargão?
Manuela D’Ávila – Geferson querido!!!! Risos.......... Não conheço o Vilmar, mas terei satisfação em encontrá-lo!!! Surgiu de maneira bem diferente, na campanha para vereadora. Eu sempre falei isso. Acho que muitos de nós falamos sem nem perceber
Pergunta da internauta Micheli – Manuela, com relação às Universidades, és contra ou a favor do sistema de cotas para negros? Acredito que este sistema aumenta ainda mais o preconceito, além de
que não são os negros os excluídos das Universidades públicas, e sim uma população
carente e vítima da deficitária educação pública. Qual a sua opinião?
Manuela D’Ávila – Oi Micheli! Tudo bem? Defendo reserva de vagas para estudantes de escolas públicas e dentro disso para afrobrasileiros. É evidente que quem está na escola pública, em geral, representa a parcela mais empobrecida de nosso país. Também é verdade que a maior parte são negros. Então a gente conseguiria atingir os dois critérios a partir do fundamental: condição socioeconômica.
Pergunta – Qual a sua opinião sobre parlamentares que foram eleitos sem ter uma história na política, como, por exemplo, Clodovil Hernandes, em São Paulo, ou Mano Changes e Paulo Borges, aqui no Estado? Esse tipo de renovação é bom ou ruim?
Manuela D’Ávila – Acho o conceito de "história política" esquisito. Não gosto de emitir opinião sobre pessoas eleitas pelo povo. Alguns podem ser pelo protesto, outros porque mesmo jovens
apresentaram idéias que agradaram os eleitores. Acho que não
existe regra.
Pergunta do internauta Flademir Piacentini – Você pretende formar lideranças de apoio no interior do Rio Grande do Sul, além de na Capital, já que você recebeu votos praticamente em todo o Estado?
Manuela D’Ávila – Certamente. Acho que é obrigação de uma parlamentar que recebeu votos em 493 municípios fazer com que lideranças surjam ou se consolidem. Meu partido foi decisivo para a vitória e certamente muitas novas pessoas conhecerão o PCdoB, nossas idéias e nossa luta por um Brasil e um Rio Grande mais desenvolvidos. Meu partido não tem medo de novas lideranças como os partidos tradicionais. Sou uma prova disso.
Pergunta internauta Lazie Lopes: deputada Você se surpreendeu com a votação em todo o RS?
Manuela D’Ávila – Sim. É muito bonito ser tão bem votada em um Estado como o nosso, com uma campanha de
rua, de propostas, de olho no olho.
Pergunta internauta Thiaguinhu: Manoela...você pensa em ser presidente!?
Manuela D’Ávila – Eu penso em ter um mandato de luta por mais direitos para a juventude. Nem sai de Porto Alegre e tu já queres que eu fique por lá?
Pergunta Internauta Luiz Flávio Cenci – Face a enorme corrupção impetrada no congresso nacional, como que a deputada pretende nortear sua ações no combate a chaga que deturpa a imagem dos parlamentares? E também qual vai ser sua atuação para buscar melhores condições para as pessoas entre 18 e 40 anos de onde vieram a maioria de seus votos?
Manuela D’Ávila – Tive votos em todas as faixas etárias. Se tu visses como foi linda a campanha na terceira idade..... Vou lutar pela reforma política. Ela pode ser a chave para que a gente não veja se repetir práticas equivocadas na política brasileira.
Pergunta – Com quantos anos você pensou em entrar para a política e que motivos
levaram a essa decisão?
Manuela D’Ávila – Eu milito desde os 17 anos. Entrar na política foi na realidade entrar na luta do movimento estudantil para tentar reduzir as desigualdades de nosso país. Nunca entrei pensando na questão eleitoral. Isso aconteceu por decisão de meu partido.
Manuela D’Ávila – Um beijo a todos e muito obrigada pela participação. Mais uma vez obrigada gaúchos e gaúchas que me colocaram em Brasília para trabalhar muito. Beijos.
A entrevista online com Manuela D'Avila foi realizada pela jornalista Maíra Kiefer, do clicRBS, e monitorada por Samantha Bonnel.
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