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 | 30/09/2006 08h18min

Apresentação da lista de passageiros da Gol comove familiares

Aeronave desapareceu na tarde de sexta na divisa entre Pará e Mato Grosso

Foram sete minutos de silêncio, entrecortado apenas pela lenta leitura dos nomes dos 149 passageiros que haviam embarcado no vôo 1907 da Gol, desaparecido na tarde de sexta, quando sobreavoava a divisa do Pará com o Mato Grosso.

Eram 2h07min de sábado quando, após seis horas de aflição e notícias desencontradas, uma multidão ouviu em pé a confirmação de que amigos e familiares estavam à bordo do boeing 737 que colidira no ar com um jato Legacy fabricada pela Embraer. Houve choro, angústia e apelos à fé. Para o agricultor Cláudio Altair Oliveira, a inclusão na lista de desaparecidos do concunhado Ronivon Miranda, funcionário da Yamaha, motivou mais uma rodada de orações.

– A gente sempre procura acreditar que o pior não aconteceu e que Deus tenha abençoado esse vôo – comentou Oliveira.

A apresentação da lista de passageiros era exigida por parentes e amigos há mais de duas horas. Por volta da 0h40min, eles chegaram a cercar funcionários da Gol que circulavam pelo saguão do prédio do Centro de Engenharia da Infraero, para onde haviam sido levados no início da noite.

– Não explica, não dá explicação. Pára de falar e mostra a lista – reclamavam os familiares.

– Por favor, não temos ainda informações oficiais da Aeronáutica. Sabemos apenas que já há aeronaves sobreavoando o local. Gente, é a floresta amazônica, árvores com 70 metros de altura. Por enquanto, nenhum sinal foi detectado – tentava apaziguar o servidor da Gol.

– Mas que palhaçada é essa. Hoje em dia você localiza qualquer pessoa num celular, como não vão saber onde está o avião. Que tecnologia tem esse avão? – indagava outra pessoa à procura de notícias.

Sem confirmações oficiais da suposta colisão, os parentes abrigados no interior do prédio da Infraero buscavam informações no rádio e na televisão. Muitos ficaram revoltados com o que consideraram uma atitude passivia das autoridades aeroportuárias. Ao encerrar uma entrevista ao vivo à Rede Bandeirantes, o ministro da Defesa, Valdir Pires, disse que iria "descansar um pouco".

– Ah sim, vai descansar. Claro, ele não tenhum familiar dentro daquele avião – indiganava-se o militar Marcelo Marques.

A mulher dele, Inês Rebouças Marques, 45 anos, estava há 17 dias visitando parentes em Manaus. Cumpria um périplo familiar após sete anos morando em Brasília. Ela chegou a tentar trocar a data do retorno para casa, mas não conseguiu porque havia comprado uma passagem a preço promocional. No início da tarde, Inês falou com um dos filhos avisando que chegaria a Brasilia às 18h10min.

– Ela pediu que ele me lembrasse que chegava à noitinha, como se fosse possível esquecer. A casa está toda preparado para a volta dela – comentou Marcelo.

Do lado de fora prédio da Infraero, a aflição não era menor. Fiéis da Igreja Evangélica clamavam pela saúde do pastor Pastor Antônio Rodrigues, que cumpria uma missão religiosa no interior do Amazonas. Secretário de missões da Assembléia de Deus em Sobradinho, cidade-satélite de Brasília, o pastor havia viajado para a floresta amazônica havia 10 dias.

Supervisor das ações missionárias da igreja , Rodrigues ía cerca de três vezes ao ano ao Amazonas para acompanhar a evangelização de populações ribeirinhas. Desta vez, ele havia se dirigido ao pequeno município de Apuí, cujo acesso só é possível de barco, para inaugurar um templo.

– Ele desembarcou em Manaus, pegou um ônibus e depois um barco para chegar até lá. É uma dedicação tremenda para ser desperdiçada numa tragédia dessas – lamentava o diácono Isaac Newton Lopes.

Ele fora avisado por volta das 21h30 pela mulher do pastor, Graça Rodrigues. Ela estava aguardando a chegada do marido quando foi informada pelos funcionários da Gol que o vôo 737 de Manaus a Brasília estava atrasado. Tão logo a desinformação cedeu lugar a rumores de que o avião havia caído, um colega de igeja que estava com ela sofreu uma crise de hipertensão e precisou ser atendindo pelos paramédicos da Gol.

– Isto aqui está um horror. A cada 15 minutos surgem notícias destrambelhadas , um novo zum zum zum. Agora mesmo uma alguém disse que o avião teria explodido e houve um desespero generalizado – reclamava Lopes.

A toda hora chegavam mais funcionários da Gol e militares fardados e à paisana. No entanto, a empresa aérea apenas relatava que o avião havia perdido contato com as torres em terra às 16h48min de sexta, sem confirmar uma possível queda. Por volta das 3h, todos os familiares e amigos dos passageiros foram removidos para um hotel no centro da cidade. Apesar do cansaço, muitos passaram a noite em claro no saguão do hotel, no aguardo de novas notícias.

FÁBIO SCHAFFNER/AGÊNCIA RBS
 

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