| 05/08/2006 14h27min
A deputada chilena Isabel Allende, filha do ex-presidente Salvador Allende, quer para Cuba o fim do bloqueio econômico dos Estados Unidos e um processo de transição rumo à democracia. Em entrevista publicada pelo jornal La Tercera, a parlamentar socialista também fala com simpatia sobre Raúl Castro, que conheceu quando ela era criança em 1959, mas afirma que "Fidel tem um carisma que ele não tem".
Allende disse também não ter se surpreendido com a decisão de Fidel Castro de delegar seus poderes a seu irmão e a outros dirigentes por causa da doença que o levou à sala de cirurgia, "pois isso já estava estabelecido".
– Sinto que, para o povo cubano, ele (Raúl) não é o mesmo que Fidel. Raúl é uma pessoa bastante simpática, que gosta de contar piadas, mas acho que Fidel tem um carisma que Raúl não tem – disse.
Sobre o que pode acontecer em Cuba após a delegação de poderes por parte de Fidel, Isabel Allende afirmou que o ideal "seria que esse bloqueio, que foi responsável em grande medida pela inflexibilidade e pela dureza do regime, terminasse".
Em sua opinião, "não houve só bloqueios, mas tentativas de assassinato, invasão, o que legitimou e permitiu que o país funcionasse com a rigidez de hoje".
– Meu ideal é que acontecesse uma evolução pacífica, que ocorresse um processo de transição e que isso permitisse no futuro a abertura de Cuba a outros partidos, a outras expressões, a outras formas políticas de operar – acrescentou.
Isabel Allende destacou, além disso, a amizade que uniu seu pai e Fidel Castro e disse que a boa relação continuou após a morte de Allende no golpe militar de 1973 através de sua mãe, Hortensia Bussi. A deputada lembrou que, em 1997, quando Fidel assistiu à Cúpula Ibero-Americana organizada no Chile, sua mãe pediu que fossem realizadas eleições livres em Cuba, mas esse gesto não estragou sua amizade.
– No dia seguinte, nos encontramos com ele na embaixada cubana e ele nos disse que suas relações com a família Allende são indestrutíveis e que nada iria estragar nossa relação – acrescentou.
– Ele achou normal que Tencha (o apelido de sua mãe) expressasse com respeito o que sentia e o que achava que devia fazer – disse Allende.
A deputada explicou que ela e sua mãe estão "convencidas de que as sociedades, quanto mais diversas e plurais, mais democráticas são".
Perguntada se Raúl Castro poderia iniciar um processo de abertura em Cuba, Isabel Allende considerou que isso "seria espetacular", mas disse que, por enquanto, não acredita que tal atitude seria "fácil".
– Raúl pode continuar no comando, mas outras gerações virão. Ele tem 75 anos e o tempo se encarregará desse assunto – argumentou.
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