| 01/08/2006 01h01min
Pela primeira vez em quase meio século de revolução, Raúl Castro, segundo homem da hierarquia cubana e ministro das Forças Armadas, assumiu a chefia do Partido Comunista, o Conselho de Estado e o Exército. O poder é temporário e ocorre em decorrência da grave doença de seu irmão, Fidel Castro.
Como primeiro vice-presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros, segundo secretário do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba (PCC) e ministro das Forças Armadas Revolucionárias (FAR), Raúl Castro, de 75 anos, é o sucessor legal do líder da revolução. A Constituição cubana estabelece que o primeiro vice-presidente assumirá as funções do presidente em caso de ausência, doença ou morte. Raúl é, além disso, um homem-chave para a sucessão no poder e o futuro do socialismo em Cuba.
– Depois de mim, Raúl é quem tem mais experiência, mais conhecimento. Mas não está sozinho. Há um grupo de jovens com talento em nosso país – disse Fidel em junho de 2001, após sofrer um desmaio num ato público nos arredores de Havana.
Raúl assumirá provisoriamente a chefia do Estado cercado de veteranos no birô político do Partido, como José Ramón Machado Ventura e José Ramón Balaguer, e de quadros de gerações mais novas, como o vice-presidente, Carlos Lage, e o chanceler, Felipe Pérez Roque, dois dos homens mais próximos ao governante.
Apesar de terem personalidades muito diferentes, segundo apontam alguns de seus biógrafos, Fidel e Raúl têm se mostrado unidos ao longo de toda a vida. Raúl se mantém num discreto segundo plano.
– Dedico 90% do meu tempo ao Partido Comunista de Cuba e a maioria das minhas atividades não é publicável. Por isso não saio na imprensa – justificou o irmão mais novo durante uma cerimônia militar, em dezembro de 2003.
Educado no colégio dos Jesuítas de Santiago de Cuba e depois em Havana, como seu irmão, estudou na universidade enquanto participava dos movimentos de luta contra a ditadura de Fulgencio Bastista, seguindo os passos de Fidel. Em julho de 1953 comandou a tomada do Palácio de Justiça de Santiago de Cuba, dentro da operação do assalto ao quartel Moncada organizado por Castro para derrubar o governo de Batista. Após o fracasso da tentativa, foi condenado a 13 anos de prisão. Mas, assim como o seu irmão, foi beneficiado por uma anistia dois anos depois. Eles se exilaram no México, onde prepararam a expedição do iate Granma, que daria início à revolução, em dezembro de 1956.
Durante sua luta na serra, participou de todas as campanhas guerrilheiras e, em fevereiro de 1958, foi promovido a comandante por seu irmão. Com o posto, ganhou a responsabilidade de abrir uma segunda frente de combate nas províncias do leste. Na clandestinidade, conheceu Vilma Espín, com quem se casou no início de 1959, após o fim da luta armada.
Depois da vitória da revolução, dedicou-se à criação das Forças Armadas Revolucionárias. Durante os primeiros anos do governo revolucionário ele se encarregou de manter contatos de alto nível com a hoje extinta União Soviética. Embora tenha a reputação de homem duro e ortodoxo, Raúl Castro é considerado o responsável por algumas das mais importantes iniciativas de reforma do país. Ele transformou as forças rebeldes num Exército moderno, com a criação das Forças Armadas Revolucionárias, em 1959.
Sob seu comando, as Forças Armadas superaram os limites militares e formaram quadros para o Partido Comunista de Cuba e ministros ao governo, dirigindo algumas das atividades econômicas mais importantes do país. Em 1994, foi o artífice da abertura dos mercados livres camponeses para garantir alimentos à população.
Sua vida privada é cercada da máxima discrição. Como Fidel, Raúl é alvo de boatos periódicos sobre supostos problemas de saúde, alimentados por suas longas ausências de atos públicos.
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