| 24/07/2006 07h20min
Estrada 899, entre os vilarejos de Avivim e Kiryat Shmona, no extremo norte de Israel. No alto da torre branca de observação erguida no meio de uma lavoura, a bandeira verde do Líbano indica o limite da fronteira mais perigosa do mundo nesses dias. Atrás, uma montanha cinza, sem vegetação, se ergue. É lá de cima, de pequenos pontos brancos quase imperceptíveis a olho nu, que os guerrilheiros do Hezbollah resistem ao avanço dos tanques israelenses sobre Maroun al-Ras, do lado libanês. De baixo, na base da montanha, não se percebe o momento em que os foguetes são lançados. Ouve-se apenas o estrondo contínuo e se vê a fumaça negra.
Zero Hora testemunhou na tarde de sábado a batalha que levou Israel a conquistar o primeiro povoado libanês na atual ofensiva. A reportagem deixou Haifa de carro no final da manhã, seguindo pela rodovia 4, que margeia o Mediterrâneo, em direção ao Norte. Foi parada apenas uma vez, na aproximação de um acampamento do exército israelense. No restante do trajeto, na direção de Kiryat Shmona, ao percorrer estradas vicinais que beiram a fronteira, encontrou carros civis circulando normalmente. Nas pouco mais de cinco horas em que ZH permaneceu no front, nenhuma barreira militar bloqueou o deslocamento na área.
O asfalto da rodovia 899 estava manchado de óleo e trazia no asfalto o rastro gravado pelo barro das esteiras dos tanques israelenses. Às 15h22min de sábado, o primeiro carro de combate Merkava MK-4 de Israel deixou sua posição de descanso a quatro quilômetros dali. Cinco minutos antes, enquanto os tripulantes do tanque se preparavam para embarcar, colegas descansavam encostados em árvores.
O veículo passou pela reportagem de ZH, levantando poeira e expelindo pelo cano de descarga uma fumaça preta e asfixiante. Com cinco militares em seu interior, parou de frente para uma cerca de arame farpado derrubada. O canhão girou em seu eixo e apontou para o Norte. Depois sumiu na lavoura.
Até aí, as explosões provocadas pelo Hezbollah pareciam distantes. Mas bastou o tanque israelense avançar montanha acima para que a terra tremesse. Um foguete explodiu a cerca de um quilômetro da 899, de onde quatro jornalistas (um câmera e um repórter da rede de televisão francesa TFI, uma fotógrafa freelancer e o repórter de ZH) testemunhavam a batalha.
O Merkava abriu fogo. Ouviu-se um estampido seco. Depois, só se via a explosão no alto da montanha. Um, dois, pelo menos 10 disparos foram feitos pelo lado israelense. Ao fundo, as explosões dos foguetes do Hezbolah pareciam mais distantes. Pelo Leste, um veículo de transporte de tropas Ahzarit e outro blindado Puma avançaram pela rodovia, passando em frente aos jornalistas.
A batalha durou 20 minutos. Depois, silêncio. Ouvia-se apenas o ronco dos motores dos blindados israelenses. Uma ambulância do exército se aproximou da área com as sirenes desligadas. Quatro militares, entre eles o médico Oren Schwarz, desceram.
– De onde vocês são? – quis saber.
– Ah, Brazil – admirou-se.
Para quebrar a tensão, emendou:
– Football bad (futebol ruim).
Schwarz informou que uma mulher havia ficado ferida na batalha. Instantes depois, um blindado Puma de Israel desceu as montanhas e entrou na estrada. O veículo parou e, da porta superior, soldados retiram na maca uma civil libanesa de Maroun al-Ras. A mulher, na faixa dos 40 anos, estava desacordada e tinha o braço enfaixado.
– Sintoma de ataque cardíaco – disse Schwarz.
A ambulância ainda não havia sumido na direção de Kiryat Shmona quando os tanques regressaram do front. O vilarejo ocupado pelo Hezbollah começava a cair, abrindo caminho para uma possível invasão israelense em grande escala.
RODRIGO LOPES/ZERO HORAGrupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2024 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.